O quanto Meggie ainda me odiava? eu sei, ela é apenas uma criança. Uma criança especial, uma criança formidável, quieta e criativa. Já faz um tempo que ela não fala comigo, talvez... meses? Eu não sei. Depois que decidi vir estudar e morar no Campus não tocamos no assunto. Eu não falo a respeito. Meus pais não falam a respeito. Quanto tempo uma criança pode parecer tão fria e rígida como um adulto?, e era nisso que eu estava pensando, quando Scott abriu a porta do carro, com duas mochilas no ombro.
A casa continuava a mesma, apesar de não fazer tanto tempo assim que estava fora. Mamãe deve ter mandado papai limpar o jardim da frente, e fazer outras coisinhas que eles não faziam a anos; Plantar, colocar os anões que Meggie dizia serem medonhos... Coisas que me faziam me sentir em casa, por mais que essa sensação fosse estranha.
— Esta tudo bem? Você está horrível — Scott apertou os olhos para o céu azul, depois para mim — Vamos, ou eu desisto.
Atravessamos o jardim ate chegarmos a porta, só então notei que estava apavorada. Eu, Miranda Carmen levando um garoto para apresentar aos meus pais — Sem tumulto dessa vez, assim espero — eles iam ser super protetores?, iam me dar aquela aula sobre bebês e como eles nascem? Eu não tinha certeza. Scott esfregava uma mão na outra, como se tentasse se aquecer.
— Eu nunca fiz isso antes — Disse ele focando nas mãos, que pareciam pedir trégua — Eles já me odeiam, isso vai facilitar muito. Isso é estranho?
Não sabia bem do que ele estava perguntando, mas tinha certeza que eu me sentia mais estranha que ele, ou talvez igual a ele, mesmo que era estranho admitir, mesmo que se fosse para mim mesma.
— é, os dois, mas não faça isso com as mãos - apontei para as mãos dele- Não pareça tão nervoso - nem parecia que eu estava entrando em desespero.
De repente, em um piscar de olhos a mão de Scott estava junto a minha, antes que pudesse absorver a situação a porta se abriu, como nos filmes, mas nós dois eramos apenas dois despreparados. Dois atores mirins.
Papai não pareceu surpreso com Scott, apenas sorriu calorosamente. Papai ainda usava o velho amuleto — Uma blusa de 1988 dos Águia, e não se passava um jogo que ele não usasse ela. Se ele não usasse, eles perdiam e se eles perdessem papai não recuperaria o sorriso, e se isso acontece-se era capaz do teto cair sob nossas cabeças.
— Entrem, sua mãe não vê a hora de ver vocês — Papai passou por Scott, pegando uma das mochilas. Nessa hora a mão de Scott apertou a minha, pela primeira vez eu estava no controle, ver a cara se Scott implorando ordens me causava uma sensação ótima.
— Vá com ele - sussuro para ele.
Scott pendurou a mochila sobre o ombro e sumiu escada a cima.
— Você esta mesmo crescendo — Mamãe surgiu, com o velho avental, uma touca cor-de-rosa que realçava as bochechas coradas e uma faca pequena, mas afiada.
Se ela soubesse de tudo, de tudo sobre um "nós" insistente ela Talvez não estaria tão esperançosa. O fato era que eles consideravam Scott um cara especial, lógico que a aparência dele causava mal impressão a mamãe — especialmente as tatuagens —, no começo ate eu não achava a coisa mais bonita do mundo. Eram curvas sem forma, riscos sem nexo. Era como se uma criança de sete anos tivesse desenhado... Crianças, lembrei que ainda não tinha visto nem ouvido Meggie.
— E sobre Meggie, como ela está?
o sorriso de mamãe tinha congelado. em seu rosto agora tinha uma especia de neblina cinzenta que foi, o que sobrou foi a velha mulher rabugenta que a vida tinha moldado.
— Você nunca sobre Meggie. Ela nunca fala de você. E é assim que as coisas devem ser, Miranda Carmen Albuquerque — Ela tirou o avental e a toca, as panelas borublhavam atrás de nós e quase ficamos em silêncio, se não fossem as risadas acima de nós. Scott parecia se dar bem com meu pai, e só confirmei isso quando eles entraram rindo e cambaleando como bêbados pela cozinha.
— Meu amor, esse garoto tem futu... — Papai soltou o ombro de Scott, que me fuzilou com olhar, como se pudesse ver a neblina cinza altamente tóxica acima de nossas cabeças.
— Não é nada garotos, apenas esqueci de buscar Meggie, Você sabe, ela odeia que a façamos esperar, não sabe? — Mamãe colocou o sorriso mais frio que vira em anos.
— Nós vamos busca-la — Scott chamou a atenção de todos, suas bochechas coraram e papai lançou um olhar de orgulho em sua direção. Afinal de contas ele era um bom jogador — Mira...- ele pairou, fazendo o pircing em seus labios dancar, como se estivesse mal apresentado ao termo - Minha namorada sabe onde é, certo?
Senti algo pular dentro de mim. Pela primeira vez ouvir Scott me chamando assim não pareceu tão ruim.
lavei as mãos na pia atras de mim e confirmei com a cabeça, ainda em transe, mesmo sabendo que preferia não saber.
— Além do mais essa é uma manhã incrível, meu carro tem gasolina, e...
— Ela tem que voltar no nosso carro — Mamãe se levantou, colocando- se entre nos. Ela Estava tão brava quanto aquele dia, em que eles foram apresentados informalmente. minha boca se abriu em formato de "O", não sabíamos o que esperar dela, nunca sabíamos — Obrigada por sua gentileza, mas...
Scott recuou um passo para trás.
— Mas ele pode ir com o nosso, querida — Papai estava tentando apaziguar as coisas, dando um beijo em sua testa. Isso parece ter piorado as coisas — O garoto é inteligente, sabe dirigir, então não temos o que temer.
Como se não bastasse mamãe passou por nós com os olhos marejados " Francamente, Bill" foi a ultima coisa que deu para ouvir, antes dela passar por Scott como se ele realmente não estivesse ali. O que ouvimos depois foi apenas um grito abafado, choro e depois um silêncio perturbador. Olho para a mesa e avisto as chaves, corro rapidamente ate elas e arrasto Scott ate a garagem.
— O que eu fiz de errado ? — Scott perguntou quando entramos no carro a, indo em direção a parte asfaltada.
— Não é sobre você, e sobre ela — disse quase em um sussurro. Minha mãe tinha habilidades especiais e uma delas era ouvir, talvez ate ler mente, se é que isso é possível. Preferia não duvidar, não quando o assunto principal era Meggie.
Scott não parecia entender, e era compreensível. Eu tinha dado um quebra cabeça a ele, porem havia me esquecido das peças finais.
— E sobre quem então, sua mãe?
Quem dera se fosse.
O carro deslizou em uma trilha de Pedrinhas ate uma enorme Mansão verde, estilo vitoriana, cujo o ar ainda era mais pesado do que em minha casa.
— é sobre Meggie. E sobre a pequena Meggie.
Quando passamos pelo letreiro, ele pareceu compreender. Aquelas eram as peças finais e Scott parecia saber exatamente onde elas se encaixavam...
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O segredo da borboleta quase azul
Teen FictionMiranda Carmen tinha tudo para ter uma boa reputação, ela nunca tinha ido em festas ( pelo menos não até aquela noite), nunca tinha bebido, nunca tinha feito nada de "errado"até conhecer o garoto que mudou sua vida. "A garota dos livros e o cara das...