Clássicos Bíblicos Recontados - Volume 1

Capítulo 9 - Um pequeno alívio

A luz do dia bate no rosto de Jó, despertando-o de seu sono, com o despertar, seguem-se suas dores. Relutante em abrir os olhos, ele enxerga um vulto à porta de sua cela:

-Levante-se, senhor! Visita. 

Caminhando com dificuldade, é dirigido à sala de visitas, que está vazia. Seu visitante está de costas, mas aquela figura lhe é reconhecida de longa data.

-Meu grande amigo! - Cumprimenta Roberto

-Você não sabe o quanto precisava te ver, Beto. Estou realmente muito feliz que você esteja aqui. Está esperando há muito tempo? Desculpe mas faz muito tempo que não durmo como essa noite... - Jó Responde.

-Não, acabei de chegar. Pelo visto você não anda nada bem... -Comenta Roberto ao ver o estado físico de Jó.

-Minha aparência e saúde não são os meus maiores problemas, Beto, pode acreditar. -Jó segue contando e compartilhando o delicioso café que Roberto trouxera. Após ouvi-lo, Roberto explode em indignação:

-Mas como pode, Jó? Seus ditos "irmãos" e o pastor te acusam, sua mulher se afasta e você ainda consegue permanecer sóbrio? Se eu estivesse passando por um décimo do que você tem passado já tinha perdido a minha sanidade, xingado Deus e todos em volta. Não entendo como você pode continuar acreditando que Deus está por trás de toda essa injustiça, desse sofrimento, dessa angústia.

-Beto, meu amigo, já compartilhei diversas vezes com você sobre o amor de Deus, e já te disse que não sirvo a Deus por causa da minha igreja, ou da minha situação financeira ou ainda da minha família. Sirvo a Deus pelo que Ele é, pelo que Ele já fez por nós. O meu sofrimento hoje é extremo aos olhos humanos, mas é insignificante diante do sacrifício de Cristo. O meu desafio quando falo de Deus a você não é para que viva sempre em boas condições, ou que a sua felicidade seja sustentada pelas bênçãos que Deus derrama sobre nós. Devemos amar a Deus em sua essência, acima do que os homens possam nos mostrar como Deus é bom. Tenho a consciência de que Deus é bom, não importa se estou no conforto da minha casa, ou no chão deste presídio. Tudo o que vivemos faz parte do plano sobrenatural de Deus para as nossas vidas. Se a minha vida, todo este sofrimento que estou passando servir para que outras pessoas saibam que Deus está presente em todos os momentos e que Ele me consola, fazendo com que elas possam se aproximar mais de Deus e ter a oportunidade de conhecê-lo mais de perto, de serem salvas do pecado, tudo isso já valeu a pena.

Roberto está inquieto, sentado, esfregando as mãos no rosto, consternado e visivelmente abalado pelas palavras de Jó, que continua a lhe falar:

-Em Filipenses, a Palavra de Deus nos revela uma verdade poderosa para vivermos:

"E a paz de Deus, que excede todo entendimento, guardará vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus"

-Que paz é essa que sobrepuja o entendimento, que desafia o natural, senão um sentimento de Paz que toma conta do nosso ser quando tudo parece atribulado? É natural você esperar que alguém passe pelo que eu estou passando e sinta a Paz de Deus no coração? E Paulo continua dizendo que aprendeu a viver satisfeito em qualquer situação, seguindo por um versículo bem conhecido, que você já deve ter visto por aí:

"Tudo posso nAquele que me fortalece."

-E é exatamente assim que me sinto: Cheio de paz e contraditoriamente forte apesar de estar física e emocionalmente abatido e fraco. De que outra forma poderia eu manifestar o Deus que sirvo se não viver a Paz e a Força que Ele me dá?

Nesse momento, Roberto confessa entre lágrimas que já não consegue conter:

-Eu preciso conhecer este Deus que você serve, Jó. Preciso sentir a mesma paz e a mesma força que você sente. Tantas e tantas vezes passei por pequenas desventuras na minha vida e pensei seriamente em acabar com ela. Agora vejo você nesse turbilhão de problemas e mazelas, feliz por ter Deus ao seu lado. Eu quero sentir esse Deus em mim. ─ Clama Roberto.