Estocolmo

Capítulo 17- 18/12/2010 A namorada de Vicente

18/12/2010

Brenda terminava de vestir seu vestido preto longo, e já escolhia mentalmente qual perfume e maquiagem iria usar. Fechou o zíper nas costas, e caminhou até sua penteadeira, para sentar-se em frente ao espelho e começar seu ritual em prol do destaque de sua beleza. Seus cabelos, que outrora eram pretos, começavam a mostrar a raiz mais clara, algo que mesclava entre o castanho claro e o loiro, e o cumprimento, que no inicio do ano encontrava-se curtíssimo, já passava do queixo. Enquanto fazia sua maquiagem, pensou se para 2011 iria deixar seu cabelo crescer e voltar a cor natural, ou se ia repetir por mais um ano seguido o mesmo estilo.

Quando terminou de passar o delineador e o rímel, ouviu seu celular tocar, e o som vinha da direção da sala, só podia ser Vicente. Brenda já havia aceitado que era Vicente quem ela gostava, e iria aproveitar a noite para dizer tudo a ele, revelar que estava apaixonada por ele, e que faria o possível - o impossível, talvez - para que eles pudessem ficar juntos. Dependendo da resposta de Vicente, iria terminar com Iago. Levantou e caminhou, ainda sem calçar seus saltos, até a sala e pegou seu celular que estava na estante.
– Oi?
– Você está pronta? Já estou aqui em frente ao seu prédio, te esperando. - Falou Vicente, do outro lado da ligação.
– Já estou pronta sim. Você pode subir se quiser... - Falou Brenda, sorridente.
– Não precisa, eu vou esperar aqui mesmo. Demora não, tá?
– Daqui a 5 minutos eu desço. - Brenda desligou o telefone e foi correndo calçar seu sapato de scarpin verniz rosa bebê e passou seu melhor perfume. Queria ser a mais bonita da festa, a mais bonita aos olhos de Vicente.

Rodrigo e Tiago não se falavam desde o ocorrido no shopping, por mais que Rodrigo tentasse ligar e mandar mensagens, o outro apenas ignorava. Desta vez, seria diferente, Rodrigo não ia mais tentar procurar de longe, iria até a casa de Tiago, falar cara a cara com ele.
Levantou da cama e vestiu uma blusa que estava em cima da cadeira do computador. Depois, passou uma colônia e pegou seu celular, saindo apressado, antes da coragem acabar.
– Onde você vai afobado desse jeito? - Perguntou Simone, subindo as escadas no exato momento em que Rodrigo as descia.
– Tomar um ar... - O rapaz passou pela madrasta, e saiu em passos largos, indo até a porta, para tomar a rua. Queria se encontrar imediatamente com Tiago, tinha pressa em resolver a situação dos dois.
Rodrigo caminhou até um ponto de ônibus, sabia onde era a casa de Tiago por causa de Cléo, quando eles namoravam ele passou o natal na casa do rapaz, antes mesmo de conhecê-lo, talvez fosse o destino. Enquanto ia se aproximando do ponto, cogitou a possibilidade de alguém mencionar novamente sobre uma possível participação dele no desaparecimento de Cléo, mas resolveu prosseguir seu caminho, não devia nada a ninguém.

Tiago jantava enquanto assistia um filme que passava em um dos canais pagos. Vitória e Mônica faziam seus salgadinhos na cozinha e Rosana pintava as unhas de uma cliente na varanda. A ausência de Rodrigo não era sentida por Tiago, que muito pelo contrário, já estava conversando com outros rapazes. Por mais que seu ''ex-namorado'' virtual gostasse dele, e ele percebesse isso pela forma naqual fazia o possível para que os dois tivessem algo, ele não conseguia se relacionar por lembrar de Cléo e o que foi feito com ela. Como namorar alguém que já expôs uma ex-namorada na internet? Era um fantasma.
O adolescente terminou de jantar e foi pra cozinha lavar seu prato. Passou pela mãe e enquanto lavava a louça que sujou, ouvia o que a mãe e a amiga dela conversavam.
– ... Ele até me chamou pra jantar com ele, mas eu não quero. Quem ele pensa que eu sou? - Disse Mônica, enrolando a coxinha.
– Se eu fosse você eu ia, não sei porque você tá se fazendo de difícil. O cara é bonito, tem dinheiro... - Mônica olhou indignada para Vitória, ia comentar algo, mas resolveu manter-se calada. Não queria mais brigar.
De repente, o silêncio foi interrompido pelos gritos de Rosana, que anunciava a chegada de alguém no portão. Ela sabia quem era Rodrigo, lembrava-se dele, mas não o convidou para entrar, apenas disse aos berros para seu neto que alguém o estava procurando.
Tiago franziu o cenho, não tinha amigos que frequentavam ou sabiam onde ficava sua casa, então secou as mãos no pano de prato surrado da avó e foi ver quem o chamava. Era Rodrigo, justo quem ele tanto fugia.
– Oi. - Disse Tiago, ao ver Rodrigo a sua frente. O rapaz sorria sem jeito, parecia ansioso, pois mexia os braços pra frente e pra trás.
– Eu vim conversar com você.
– Entra... - Tiago deu espaço para Rodrigo adentrar a casa, e passou com autoridade pela sala, subindo as escadas para o segundo andar. O visitante fez o mesmo, e ambos pararam em frente ao quarto bagunçado de um lado e arrumado, com bichinhos de pelúcia de outro. - A gente conversa melhor aqui dentro, ninguém vai nos ouvir.
–Esse é seu quarto? - Perguntou Rodrigo, admirado.
– É... a cama com os bichinhos de pelúcia é a cama onde eu durmo. - Rodrigo riu do sarcasmo do ''ex-namorado'' - O que você quer falar? - O visitante jogou-se na cama bagunçada e deitou de barriga pra cima. Era espaçoso, e não perderia a oportunidade de deitar no mesmo local onde seu amor dormia todas as noites.
– Por que você tá fugindo de mim? - Tiago respirou fundo, e puxou a cadeira do computador para sentar.
– Eu poderia inventar uma desculpa pra você, mas você já se deu o trabalho de vir até aqui, então vou ser direto. - Rodrigo ergueu o tronco pra ouvir melhor o que o outro tinha a dizer - Sempre que eu chego perto de você, eu lembro do que você fez com a Cléo, não digo sobre o sumiço, até porque eu sei que não foi você, mas pela sacanagem que você fez com ela. Quando você namorou com ela eu estava morando com meu pai, sei dos reflexos que isso causou não só a ela, mas a mãe dela também. - Rodrigo escutava tudo calado, aborvendo as palavras de Tiago. Não tinha o que falar, era verdade, e ele tinha consciência.
– Me dá uma chance pra provar que eu mudei? Eu sei que a Gabriela apareceu no shopping... - Foi interrompido.
– Não foi ela que me fez ir embora, foi o que eu sabia sobre você. A gente pode continuar amigos, mas não vai além disso. - Os olhos de Rodrigo marejaram e sua garganta deu um laço.
– Por favor... Eu... - Rodrigo engoliu seco - Nunca pedi nada pra ninguém, nunca senti nada por ninguém, mas com você foi diferente. Só me dá uma oportunidade... - Tiago cerrou os olhos com força. Sabia dos sentimentos do outro, mas não queria se forçar a ficar com ele por pena. E os fantasmas? Pra onde iriam?
– Não dá... A gente pode ser amigo, e se surgir um sentimento disso a gente fica juntos, mas não agora, muito menos com as lembranças que eu tenho de você. - Rodrigo sempre brincou com os corações alheios, sempre pisou em sentimentos, mas nunca teve o seu tão massacrado. Não ia desistir tão fácil de Tiago, ele que esperasse.
– Eu posso ficar aqui um pouco mais antes de ir embora? - Perguntou Rodrigo, e Tiago balançou a cabeça positivamente.