Capítulo 18

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   A chuva caía torrencialmente lá fora, já faziam algumas horas que a única paisagem da rua que tinha era a da enxurrada correndo com grande velocidade. Eu não estava gostando nada disso, não era que eu odiasse a chuva, eu não odiava, apenas não queria que ela caísse justo agora enquanto eu podia estar me divertindo lá fora, em compensação estou aqui trancafiado até segunda ordem.

_Não adianta nada ficar aí se torturando Ben, mamãe disse que você só pode sair quando a chuva passar -Ana murmurou enquanto mudava o canal de desenhos na televisão. Desde o momento em que soube que minha diversão se restringiria a ficar em casa eu estava grudado na janela como se a chuva fosse parar de repente e eu pudesse sair daqui

_Eu não quero ficar trancado Ana, eu quero brincar -disse pulando no sofá ao lado dela- me leva pra fora vai!

_Não vou desobedecer a mamãe Benjamin, agora comporte-se -disse me puxando para seu lado, sempre que queria me acalmar Ana me abraçava

_O que vocês dois estão aprontando? -vovó perguntou se sentando na usual poltrona com colcha de crochê

_Benjamin que está fazendo birra, de novo! -Ana deu de ombros decidindo por um canal

_Eu quero brincar lá fora vovó! -implorei indo parar ao lado dos novelos coloridos

_Ben, você sabe muito bem que não pode, lembre do que sua mãe falou -disse apertando meu nariz de leve, ela adorava fazer isso porque me irritava- agora comporte-se como a sua irmã e o rapazinho que já é.

   Bufei me jogando derrotado no sofá, era tão ruim ser criança, eu dependia do outros pra tudo e isso era péssimo, ainda mais quando se tratava de vovó que sempre me fiscalizava e de Ana que nunca desobedecia mamãe. Ana era minha irmã mais velha, a única que eu tinha, ela era bem próxima a mim e queria sempre se certificar da minha segurança e bem estar, ela era uma menina de ouro como mamãe costumava dizer, e se não fosse por ela ajudando a vovó eu não sei o que seria de mim quando nasci já que mamãe trabalhava muito pra me sustentar. Eu amava minha família mesmo não tendo um papai, ele morreu antes de eu nascer então não tenho nenhuma lembrança que não seja das fotografias, Ana se lembra um pouco dele e sempre diz que era o melhor pai do mundo, vovó já fala que ele e mamãe eram almas gêmeas e se amavam muito, ela fazia gosto do casamento dos dois, e por fim mamãe, ela sempre se emociona ao falar dele, inclusive costuma dizer que nós dois éramos os homens da vida dela. 

   Depois de tanto esperar vovó me obrigou a sentar ao lado de Ana e aguardar mamãe chegar ou a chuva passar, a segunda opção foi mais rápida e assim que as gotas pararam de cair lá fora eu corri para a rua. Morávamos em um antigo bairro residencial e haviam vários garotos da minha idade na vizinhança, assim como eu eles já haviam corrido para a rua a procura de diversão e a brincadeira escolhida foi esconde esconde, eu era ótimo nela já que me escondia como ninguém, era quase impossível me achar. Na terceira rodada da brincadeira eu entrei em uma casa abandonada do quarteirão, todo mundo tinha medo de ir lá então esse era o melhor esconderijo, a casa estava bem velha e eu tinha que tomar bastante cuidado já que ela era toda de madeira.

Ao passar pela sala escutei um barulho lá fora, a chuva havia recomeçando ainda mais forte e ao que tudo indicava eu estava preso em uma casa caindo aos pedaços, lá também fazia muito frio e as madeiras rangiam com o vento, eu estava com medo. Porém meu medo não durou muito, somente até minha cabeça ser atingida por uma viga e eu cair desmaiado.

  Quando acordei estava em uma cama de hospital, o quarto era todo branco e havia uma agulha injetada no meu braço, na minha cabeça um curativo estava enrolado e ela latejava um pouco.

_Ele acordou -Ana murmurou em um canto do quarto, logo o rosto da minha mamãe invadiu meu campo de visão

_Aí meu Deus Benjamin, eu fiquei tão preocupada com você meu amor, como se sente anjinho - minha mãe me chamava de anjo desde que me entendo por gente, segundo ela Benjamin era nome de anjo e quando eu nasci parecia um, sem falar que eu era o último presente que meu pai deixou pra ela e juntamente com Ana os mais valiosos

Minha geração problemaOnde histórias criam vida. Descubra agora