PROCURE O WALKER STROLLER
De repente viajar de avião ficou ao alcance das classes menos favorecidas economicamente e lá vamos nós pelos ares do Brasil. Passear em praia distante está pra gente e queremos aproveitar as oportunidades, nem que seja com doze módicas prestações. Fora de temporada então recebemos cantadas das agências de turismos de deixar baratinado. Passar uma semana num hotel, mesmo desestrelado, nas barrancas do atlântico é um sonho de nossa infância quando apenas os abastados tinham este privilégio. Entretanto estas facilidades trazem alguns contratempos, como o linguajar dos viajantes, usado por muitos espertinhos metidos a aculturados com o idioma de tio San, querendo se passar por intelectual de expressões, mas não vão além de esnobes prestando desserviços às empresas de transporte aéreo.
Neste ano meu filho Aman, primogênito de meus quatro pimpolhos comprou um pacote de turismo, fora de temporada, é claro, para as bandas de Porto Seguro, na Bahia. Ora, trata-se dum percurso tupiniquim, sem necessidade alguma de adotar o cabresto dos antenados com a cultura norte-americana. No embarque aqui no puxadinho do aeroporto de Goiânia, já começou o descalabro com as informações prestadas aos nacionais, numa avalanche de inglês para turistas d'alem mar. Com os nacionalistas vendo a necessidade de valorizar nossa cultura, nosso linguajar, nossos costumes. Afinal de contas, parece que não caiu a nossa ficha de sermos uma nação emergente no mercador turístico mundial. Existe um punhado de países estendendo tapete vermelho para receber brasileiros com nosso real queridíssimo e, nós falamos português.
Pois não há de se ver que meu primogênito muito humilde e solicito foi falar com a guia turística acompanhando-os na viagem a Porto Seguro e a sumidade intelectual voadora lascou uma expressão mal pronunciada, mal soada e mal colocada pra nós brasileiros autênticos, como se falasse com um alienado no dialeto corrente em aeroportos nacional: Vá até aquele balcão e faça o Walker Stroller. A mulher falou para dentro como se resmungasse para si mesma ou tivesse algum problema fonográfico grave e o garoto entendeu: fale com o Walter naquele balcão.
O menino foi lá e olhou o atendente bem vestido atrás do balcão de embarque e perguntou-lhe se era o Walter. O homem não entendeu direito o que ele queria e ficou sem ação por instantes. Uma parceira de viagem de seu grupo de onze amigos sacou que a tal mulher de fala enrolada queria dizer em bom português para conferir a passagem naquele balcão. Meu filho não é burro, coisa nenhuma, e vendo o fiasco em andamento remendou no atalho a palavra inglesa em cima na pronúncia da Maira. Aí o engomadinho de vitrine se mexeu pegando as passagens dizendo-lhes tudo bem, entrassem na fila para o embarque. Durante a viagem o grupo de amigos de primeira voação, fez a maior farra, sempre com alguém querendo falar com o Walter. Alguns até qualificavam: Walker stroller!!! Isto servia até mesmo para perguntar as horas uns para os outros. É... a tal expressão pode traduzir um punhado de coisas, mas no caso presente deles podia ser mais ou menos assim: organização da fila de embarque.
Hoje nos aeroportos do Brasil chegam os viajantes da nova classe média brasileira, com grana e vontade de voar, pequenos contratempos hão de vir, mas isto será sobreposto pelo poder de compra e certamente os operários deste serviço vão mudar seu jeito de ser. As empresas nacionais devem se preparar melhor, ensinando seus dedicados operadores a tratar com maior mimo o português de nós brasileiros, para receber com galhardia meus colegas de viagem social subindo de tamancas ou chinelos na pirâmide social. Coisas simples como viajar de avião, conhecer uma praia de mar é possível, podemos e queremos.
Pois é.
Aparecida de Goiânia, GO, 29SET13
Delegado Eurípedes III
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PROCURE O WALTER
Short StoryO BRASIL ESTÁ BOMBANDO NO TURISMO MUNDIAL, E NÓS NÃO ESTAMOS SABENDO EXPLORAR O FILÃO