1.
Kenan abriu os olhos, a sua visão estava turva. Tudo o que via era um borrão a sua frente, que ele sabia ser uma cabeça.
- Oh... parece que acordou! Está bem? – Uma voz perguntou.
Kenan abriu a boca para falar... mas a ânsia de vómito invadiu-o. Engoliu em seco.
- Oh-oh dêem-me um balde imediatamente. – A mesma voz disse, foi só o tempo de ele receber o balde para que Kenan se virasse para o lado e deitasse tudo o que tinha no estômago para fora.
A última coisa que ele se lembrava era do professor Mateus a discutir com ele no pátio da escola, e então... aquela explosão. O que foi aquilo?
- Deite-se... descanse um pouco. O senhor foi atingido por um raio... ainda está em observação. – Agora percebia que aquela voz pertencia a um médico.
Ele continuava a ver um simples borrão a sua frente, mas obedeceu a voz que o mandava deitar-se, adormeceu uns minutos depois.
**
Mateus estava numa ala diferente de Kenan, estavam ambos no hospital. Quando ele acordou, não chegou sequer a abrir os olhos apenas cerrou-os com força, a dor de cabeça que sentiu foi muito forte.
O que diabos acontecera naquele pátio?
Esforçou-se por abrir os olhos. Uma luz quase o cegou.
- Querido! Acordaste! – Uma mulher mulata olhava para ele. Ela tinha os olhos vermelhos, porque provavelmente estivera a chorar. – Oh Graças a Deus, meu amor!
Ela agora chorava novamente, mas sorria ao mesmo tempo. Que estranho! Levantou-se apertando vezes sem conta um botão que estava em cima da cama de Mateus. Depois abraçou-o muito apertado.
- Oh, querido... ainda bem que acordaste... Estava com tanto medo, amo-te meu bebe. - Chorava ainda mais. Mateus estava muito confuso, quem era ela?!
- O que aconteceu? – Estranhou a própria voz. Estava diferente, talvez fosse da fraqueza.
- Foste atingido por um raio. – Quem respondeu foi um médico que acabara de entrar no quarto acompanhado de duas enfermeiras. Mateus estranhou ele estar a trata-lo de forma impessoal. – É uma sorte estares vivo. Vamos lá ver como estás? Afaste-se um pouco, mamã!
Com isto, a mulher loira levantou-se. Mamã?
Enquanto era examinado, as perguntas iam se formando na mente de Mateus. Como é que ele estava vivo? Onde estava Kenan? Ele estava vivo? Ok, o rapaz era uma peste, mas não desejava a morte dele.
- Os exames que fizemos enquanto estavas desmaiado não acusaram nada grave, agora temos que esperar para ver se aparece alguma sequela inesperada. Só ficaste com uma pequena cicatriz... acho que vão chamar-te Harry Potter por uns tempos.
Então o médico ergueu um espelho para que Mateus visse a dita cicatriz. Mas o que Mateus viu fez com que ele se levantasse da cama num salto com um grito assustado! A morena, os médicos e as enfermeiras também se assustaram.
- Não está tão má assim. Vai ser uma história para contares aos teus netos! – Disse a mulata, que tinha longos cabelos encaracolados. Mas Mateus, não estava assustado por causa da cicatriz, alias, ele mal vira a cicatriz, porque quando o médico levantou o espelho, o que ele viu foi a cara do Kenan. Avançou para a mão do médico e tirou-lhe o espelho, para certificar-se de que havia sido uma alucinação. Mas lá estava, de novo. O rosto de um dos alunos que ele mais detestava, a olhar para ele, assustado.
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A Troca
Teen FictionQual a diferença ente Kenan Rodrigues e Mateus Vasconselos? Há uma lista enorme. Um é negro, outro é branco. Um tem 17 anos, outro 33. Um é professor, outro é aluno. O que eles têm em comum? Até pouco tempo atrás, apenas as aulas de português, mas...