Capítulo 4

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3.

Mateus acordou as oito em ponto. Levantou e a primeira coisa que fez foi entrar no banho. Como na noite anterior, reparou na cicatriz que Kenan tinha na parte exterior da coxa esquerda. Aquilo incomodava-o. Um leve formigar.

Voltou para o quarto cerca de quinze minutos depois, e depois de seco começou a vestir-se. Foi interrompido por Ashia que entrou no quarto sem bater sequer.

- Kenny! Está na hora de acordar! Vais chegar atras... oh, já estás levantado? – Olhou admirada. – Uau... vamos ver até quando dura está tua atitude.

Mateus encolheu-se envergonhado, estava semi-nu. Ela riu-se dele.

- O que te está a dar? Desde quando tens vergonha de mim? Oh querido... despacha-te, vou fazer o teu pequeno-almoço. – Ela disse antes de sair do quarto.

Mateus acabou de se vestir, depois olhou para o horário de Kenan que estava colado na porta do roupeiro. Guiando-se por ele, tirou os livros que iria precisar. Mexeu no bolso pequeno da mochila, encontrou lá a carteira de aluno, tinha dinheiro, passe, o cartão da escola, cartão de cidadão, tudo o que era necessário. Quando voltou a mexer no bolso da mochila para lá pôr a carteira, sentiu uma outra coisa lá. Tirou-o para fora. Olhou chocado para o que tinha nas mãos. Um maço de cigarros.

- Kenny vem comer para não perderes o auto... - Ashia parou imediatamente de falar quando viu o que o suposto filho tinha nas mãos. – Kenan William Rodrigues! Isso é um maço de cigarros?!

Mateus assustou-se e largou imediatamente o objeto. Ashia estava tão furiosa que não parecia a mulher gentil de há uns minutos atrás. Agora percebia o que Kenan queria dizer com ''Ainda não a viste zangada, amigo.''

- Não acredito nisto, Kenan! Não acredito! A fumar?! Anh?! É isto que andas a fazer com os teus amigos quando andas ficas na rua até as tantas?! Tu estás metido num grande sarilho, meu menino! Eu ia esperar esta história do raio passar um pouco antes de ter esta conversinha contigo, mas agora deixaste-me realmente chateada! Eu não vou ter pena de ti desta vez. Ouviste?! Tu és uma desilusão! A pior desilusão que alguma vez tive! Faltas as aulas! És mal-educado com os professores! Fazes pouco do trabalho dos outros, não te preocupas com nada! Não queres saber de absolutamente nada! E agora andas a fumar?! Porque fazes isto?! Eu queria que estudasses! Que fosses mais responsável! Porque és assim Kenan?! Porquê?! Dá-me esse maço, imediatamente! – Mateus obedeceu, não sabia como reagir, aquilo era o maior raspanete que alguma vez levara em toda a sua vida, e ele nem tinha culpa. Nem a sua falecida mãe, uma mulher muito severa, alguma vez tinha ficado assim com ele, mas também, não se compara o tipo de adolescente que Kenan era ao tipo de adolescente que Mateus fora. – Esta porcaria vai para o lixo! Agora vai comer, vai para a escola e assim que saíres vem imediatamente para casa! Estás de castigo!

E sem mais ela saiu batendo a porta com muita força.

Mais tarde, quando estava no autocarro a caminho da escola e podia raciocinar com calma, Mateus estava com muita raiva de Kenan. Ainda dizia ele que seria fácil fazer-se passar por um adolescente de 17 anos.

- Então bacano?! 'tas vivo? – Um rapaz alto veio ter com Mateus assim que ele chegou aos portões da escola. Mateus usou o tempo que demorou para passar o cartão da escola no sensor para tentar decifrar quem era. Tinha os cabelos castanhos, pele clara, dentes tortos, com um brinco na orelha esquerda. Ele já o tinha visto algumas vezes na escola, mas não era seu aluno. Não sabia o nome dele.

- Olá... parece que sim. – Mateus sorriu amarelo para ele. Nem um minuto tinha passado e já outros alunos estavam a volta de Mateus, tentando chamar a sua atenção, ao que parece Kenan era popular.

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