Capítulo 1 - Believer

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Ser um adolescente é complicado. Nós sabemos disso.

Os adultos interpretam isso como uma fase normal, mas nós sabemos, que quando você chega no Ensino Médio, toda a sua vida muda.

O Ensino Médio é onde você interage diretamente com boa parte dos piores e dos melhores momentos da sua vida.

E é para lá que eu estou destinada a ir agora.

Mal acreditei quando meu despertador tocou as 06:15 da manhã. Eu realmente gostaria que fosse um sonho e as férias ainda estivessem no começo, e não no fim. Apesar de parte de mim estar ansiosa para conhecer a nova escola, outra parte estava aterrorizada e só queria ficar na cama.

Finalmente reúno coragem, levanto da cama e começo a me arrumar.

Quando termino, pego minha mochila e vou até a cozinha, pensando no que comer. Acabo decidindo não comer nada, então só saio de casa e vou andando para a escola, que é praticamente ao lado da minha casa.

Me preparo mentalmente para o julgamento. Literalmente.

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Quando chego a escola me deparo com uma massa difusa de alunos. E no meio daquela multidão, eu não faço a mínima ideia de para onde devo ir. Continuo andando e encarando meu par de All Star branco, pensando na minha má sorte por morar ao lado de uma escola. Se não fosse esse fato, eu estaria com todos os amigos que consegui juntar durante meus últimos anos no Ensino Fundamental. Mas como o Universo nunca estava de acordo com a minha vontade, minha única escolha é encarar isso, com a cabeça não exatamente erguida.

Ouço uma moça que parece ser da direção da escola gritar que o 1º ano é no segundo andar, então, é para lá que me dirijo.

Bom, as salas do 1º ano se resumem a um corredor. E esse corredor está entupido de gente, que se acumula em frente as salas para olhar as listas de nomes. Vai ser um sacrifício achar meu nome nesse caos com minha estatura abaixo de 1,60m. Obrigada, Universo, sempre ajudando.

Vou me enfiando naquele tanto de gente e paro em todas as salas, e finalmente encontro meu nome na última.

Entro na sala que já está aberta e me acomodo na terceira carteira da primeira coluna, que fica bem ao lado da parede.

Jogo minha mochila em cima da carteira e coloco uma música aleatória do Imagine Dragons no celular.

Esperando o tempo passar eu fico encarando minha mochila azul com bolinhas brancas.

Olho ao redor da sala onde tem algumas pessoas espalhadas. Fato, ninguém naquele espaço conhece alguém na escola. Ao contrário, estariam lá fora com os amigos, matando a saudade.

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Quando meu celular marca exatamente 7:00 e eu já estou cansada de olhar para a case preta e branca do meu celular, uma mulher entra na sala.

Eu retiro meus fones de ouvido, e percebo que a sala está com alguns alunos a mais do que estava quando cheguei. Mas ainda tem muita gente entrando. Eles conversam alto e riem. Esses são os alunos que já se conhecem.

Depois de passados cerca de 5 minutos, a mulher fica de pé, em frente a toda a turma.

Ela aparenta ter cerca de 50 anos, cabelos castanhos e olhos da mesma cor. É bonita.

-Olá, novos alunos do 1º ano. Meu nome é Laura Mazzaropi. Sim, Mazzaropi. Está escrito no quadro, caso dúvidas. E eu vou ser a professora de Português de vocês.

Depois disso, começou toda aquela ladainha de regras da escola, metas para o ano, e blá blá blá, as quais meu cérebro fez questão de ignorar.

Mas então ela começou a fazer as apresentações.

Excelente ideia sentar na primeira coluna.

As pessoas que sentavam a minha frente, se apresentaram, dizendo nome e idade.

-Beatriz Muniz, 14 anos. – Eu disse quando chegou a minha vez.

-14? Interessante. A maioria tem 15. – Disse a professora.

-Pulei o 1º ano do Fundamental. – Eu disse casualmente e ela continuou a ouvir os outros alunos.

Depois de todos na sala já terem se apresentado, a professora pediu silêncio.

-Eu sei que muitos de vocês são novos aqui. Eu poderia vir com aquele velho papo de professor e dizer que o Ensino Médio vai ser a etapa mais importante e blá blá blá. Mas eu quero ajudar vocês de verdade, então me escutem. Para muitos de vocês esses três anos serão horríveis e vocês não verão a hora de acabar. Para outros vai ser o melhor período. Mas eu só quero pedir uma coisa. Vivam. Não importa como. Só não saiam daqui sem nenhuma experiência nova. Conheçam pessoas. Riam. Errem. E aprendam com os erros. Mas por favor, não fiquem na sua zona de conforto, experimentem! Vocês não chegarão a lugar nenhum se continuarem na mesmice. Se esforcem para dar o seu melhor! Vocês são o futuro. E as coisas podem parecerem ruins mas...- Ela deu um suspiro e com um olhar esperançoso disse.- Vocês acreditam. Eu sei que sim.

O sinal tocou e a professora foi para sua próxima aula.

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Eu consegui sobreviver as próximas aulas, ao intervalo, e as aulas seguintes intercalando música com Hamlet, até o sinal finalmente tocar e nós sermos liberados para ir embora. Nunca achei que Shakespeare me salvaria.

Fui para casa e quando cheguei consegui ouvir minha mãe na cozinha.

-Oi, mãe.

-Oi. O almoço vai estar pronto em 10 minutos.

-Ok.

Depois dessa conversa super interessante com a minha mãe, fui para o meu quarto me trocar.

Bom, socializar não é minha praia, mas eu gosto de moda, e minha mãe também, então ela faz bastante questão de um guarda roupa exageradamente diversificado. Ela quer uma imagem perfeita para nossa família. Até parece. Mas quanto as roupas, não sou eu quem vai reclamar.

Abri meu armário e peguei um cropped nude, um calça jeans cigarrete clara rasgada nos joelhos e uma jaqueta jeans curtinha com uns patches. Peguei também o All Star branco que eu tinha usado para ir para a escola e fui para minha penteadeira. Coloquei uma pulseira com umas folhas douradas e passei um batom roxo que eu não estava a acostumada a usar, só para ver como ficava. O contraste com minha pele extremamente branca e nada brasileira ficou até divertido, então deixei.

Tentei dar um jeito no meu cabelo castanho, mas os fios continuaram lisos e sem graça. Paciência.

Depois de ter um almoço normal com meus pais, no qual eu fico quieta e eles conversar sobre banalidades, fui para o trabalho.

Eu trabalho em uma pequena livraria no centro da cidade. E eu adoro trabalhar lá, é um dos meus lugares preferidos no mundo.

E em todo o caminho até a livraria, fiquei pensando no que a professora de português havia dito.

"Vocês acreditam. Eu sei que sim."

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Oi pessoas, espero que gostem dessa nova história tanto quanto gostavam de You and I! Comentem, favoritem e logo logo continuarei.
XOXO Clara

Day After DayOnde histórias criam vida. Descubra agora