Deixe-me viver

Capítulo 1

Era um dia chuvoso em Brasília, do prédio onde eu morava podia ver as pessoas correndo com pastas pretas sobre suas cabeças.

A chuva ficava cada vez mais forte e os trovões também.

Peguei minha bíblia e minha pasta com hinos do grupo e fui em direção a igreja. Apesar de muito nova eu já liderava um grupo de 130 jovens e o número crescia cada dia mais. Jovens compromissados com Deus e que davam testemunho de cristãos por onde passavam.

Meus pais moravam no Rio de Janeiro e desde que comecei a frequentar a igreja fui expulsa de casa e vim tentar a vida em Brasília.

Com muito esforço consegui meu próprio apartamento, algo muito simples e precisando de reformas, mas posso chamar de meu.
Trabalho em uma padaria durante o dia e a noite sempre estou na igreja me dedicando a Deus e aos jovens.

Hoje seria um dia importante pois o pastor iria me apresentar como líder oficialmente. Quando cheguei naquela igreja nos primeiros meses, percebi que algo precisava ser mudado, os jovens ficavam pelos cantos tirando selfies e cochichando. Resolvi tentar cuidar deles e deu muito certo, temos um grupo que cresce todo dia mais e agradeço a Deus por essa vitória.

A chuva aos poucos ia embora e desci o elevador do prédio as pressas. Dei uma ajeitada no vestido e no cabelo e a porta logo se abriu. Corri pelas ruas desajeitadamente enquanto os carros freiavam e buzinavam.
Atravessei alguns becos pouco iluminados cantando hinos para disfarçar o medo e logo cheguei na igreja.

Fui apresentada no púlpito e muito aplaudida por todos. Embora eu não me considerasse digna daquilo. 

Voltei para casa sozinha como sempre fazia fazendo o mesmo percurso. Entrei em um dos becos mais escuros e de repente as poucas luzes se apagaram, olhei para a rua em frente e também não havia luz.

— Jesus, me proteja de todo mal. — Clamei.

Apressei meus passos e de repente senti uma mão em meu braço me fazendo congelar.

— Não é certo uma dama tão linda andar sozinha, ainda mais agora, um blecaute em toda a cidade. — Um rapaz alto de olhos escuros e todo tatuado falou.

— Que...quem é você? Me solte por favor, preciso ir pra casa. — implorei com a voz embargada.

— Calma linda, não vai demorar, eu prometo.

Ele sorriu encostando seu rosto no meu e pude sentir um cheiro fortíssimo de bebida alcoólica.

— Socorro! Alguém por favor!! Me solta! — Gritei chorando.

— Cale a boca sua infeliz! Vem aqui. — ele me puxou para uma porta verde e a abriu com uma pesada. Me jogou em uma cama cheia de garrafas de cerveja ao redor e fechei os olhos pensando ser só um pesadelo.

Eu me debatia sobre a cama tentando a todo custo fazer aquele monstro sair de cima de mim.
Eu chorava e gritava enquanto sentia suas mãos geladas me despindo. Eu gritei mais uma vez e senti apenas um murro em meu rosto. Eu já não estava mais acordada.

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— Clarisse? Está tudo bem, você está no hospital. É o Jorge. Acorde Clarisse! Por mim. — ouvi Jorge me chamando com voz a embargada.

Abri os olhos sentindo o incômodo causado pela claridade das luzes.

— O que aconteceu comigo? — perguntei.

Jorge abaixou a cabeça deixando uma lágrima escorrer.

— Eu...eu estava procurando você no fim do culto quando toda cidade teve uma queda de luz. Te procurei em todos os becos que sei que você passava e encontrei sua bíblia jogada em um deles. No impulso do momento fui direto naquela porta, quando abri... você estava nua, escorria sangue do seu rosto e o lençol estava cheio de sangue e não era do seu rosto.
Coloquei você em meu carro e te trouxe ao hospital. Fizeram exames em você e acabaram de me dizer que...você..você foi...

— Não! Não!!! Não fale.

— Você foi estuprada Clarisse. Isso está doendo tanto em mim quanto em você Clarisse, eu tive tanto medo de te perder.

— Eu perdi tudo que tinha de bom Jorge, minha pureza. Meu Deus!

— Deus ainda ama você, não foi sua culpa, eu ainda amo você.

Meu mundo de repente desmoronou, uma tristeza invadiu meu ser sem ao menos pedir para entrar. O que Deus estaria pensando de mim?

Jorge me abraçou forte e meu corpo dolorido reclamou, eu ignorei e o apertei com força e ambos choramos muito.

— Deus fará justiça por você,Clarisse e eu não vou te abandonar. Eu te amo!

   —             Em Breve            —

Isaías 41:10 - Não temas, porque eu estou contigo, não te assombres, porque eu sou teu Deus; eu te esforço e eu te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça.