Eu pensei de verdade em inventar uma "dor de barriga". Acordei no sábado seguinte me sentindo um peixinho fora d'água que, se eu dissesse que precisava ficar em casa, todo mundo acreditaria, pois eu estava vermelha de tanto nervosismo.
Era o dia de Romeu e Julieta subirem ao palco.
O colégio estava uma loucura. A diretora tinha liberado os alunos que tinham ficado em recuperação para que pudéssemos fazer alguns ajustes finais. A professora Vera mandava eu e o Felipe ensaiar três vezes cada cena, e, mais cedo, eu tinha visto a Alina andando pra lá e pra cá carregando várias roupas que usaríamos durante a peça e o pessoal do cenário fazendo vários ajustes finais.
Ao ver que não era só eu que estava sofrendo pela ansiedade, fiquei até mais tranquila. Fui para o ginásio (onde o palco tinha sido montado), e a professora Vera já estava fazendo as marcações com os técnicos de luz. Já tínhamos feito um ensaio geral um dia antes. De tardinha fui pra casa na tentativa de descansar um pouco, mais mal peguei no sono e já tive que voar de volta para o colégio.
Eram exatamente 17h quando cheguei no colégio. A maquiadora e a cabeleireira já estavam me aguardando no camarim para começarem a me transformar na Julieta visivelmente. Quando cheguei no camarim o Felipe já estava ajeitando seu cabelo enquanto Vera escolhia nossas roupas.
– Aqui está sua roupa Felipe! – Vera disse entregando sua roupa.
A maquiadora já estava terminando de esfumar meu olho quando o Felipe foi se trocar. Eu estava sentindo calafrios. Algo me dizia que aquela noite seria inesquecível, por mais que eu quisesse acreditar que não. Metade do público esperado já tinha chegado quando eu e o Felipe fizemos um último pequeno ensaio.
Durante todo o ensaio não consegui tirar o Rafael da cabeça. Uma das cenas do ensaio foi a mesma que nos levou a aquele beijo no corredor do elevador. Será que eu estava certa em querer alguém que me fizesse suspirar como a Julieta suspirava pelo seu Romeu? Não tinha uma garota daquela cidade que não babasse por ele, tanto pelo físico quanto pelo jeito de ser dele, e ele, por sua vez, parecia disposto a me conquistar.
Meus pensamentos só desapareceram quando a peça começou. O ginásio estava lotado, e eu sentia calafrios por todo o meu corpo. As luzes do palco, a escuridão na plateia, a roupa de época e a maquiagem fizeram com que eu me acalmasse.
– É agora meninos! Vão lá e mantenham a calma. Confio em vocês! – Vera disse antes de nos empurrar para o palco.
♥ ♥ ♥
Quando as cortinas se fecharam, meu rosto produziu um sorriso enquanto o públicos nos aplaudiam e eu pude ver minha prima sentada na primeira fila com o celular na mão gravando tudo. Foram tantos aplausos que eu experimentei uma nova sensação de felicidade, apenas por ter ajudado a fazer essa peça um sucesso. Pela primeira vez, depois de muito tempo senti orgulho de mim mesma.
Fui até o camarim trocar de roupa, e meus colegas pareciam estar felizes com a apresentação assim como eu. Elogios vinham de todas as partes, comentários de algumas cenas me enchiam de emoção.
Tentei encontrar o Felipe e a Alina no meio. Mas eles me viram primeiro. A Alina me abraçou tão forte que senti falta de ar, ela gritava parabéns e dizia que eu tinha me saído bem. O Felipe me abraçou dizendo que estava chocado com minha atuação. Depois deles, a diretora veio me cumprimentar e se disse muito orgulhosa de conhecer alguém com um potencial como o meu.
Quando a sessão elogios terminou, comecei a tirar os sapatos que me apertavam o pés, eu mal comecei a tirá-los e a professora Vera me puxou pelo braço, dizendo que tinha alguém que queria me ver. Pensei que fosse o Rafael, mas me enganei. Não poderia ser ele, pelo horário ele devia estar em campo, jogando ainda.
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O Outono Que Mudou Minha Vida
Teen FictionNo seu 16° outono, Manuela - ou Manu como gosta de ser chamada - passou por um trauma que ainda não foi superado totalmente, em parte pela falta de atenção e sensibilidade de seu pai advogado/autoritário, e outra parte por não conseguir se livrar da...