Capítulo 30

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Faltava apenas uma semana para o grande dia.

Eu deveria estar comendo as unhas, e gritando e chorando pelos cantos em pavor e desespero, mas com Dylan e Michel eu nunca tinha tempo de entrar em pânico.

Nem sempre isso era uma coisa boa.

Não faziam nem dez minutos que Michel havia aparecido para assistirmos à semifinal do circuito havaiano, e Dylan já estava rosnando pra cima dele.

"Você chega, você faz os exames e você vai embora, maculador maldito. Não vou tolerar esta invasão de território."

Michel apenas passou reto e sentou ao meu lado no sofá, de frente para o laptop onde assistiríamos a competição. Precisei ceder aos resmungos do Alisson e retirar a piscina, o que era uma pena, mas a sala parecia bem mais espaçosa agora. Tão espaçosa, que Dylan pensava ser uma arena de combate.

"Saia de perto do meu predestinado. Levanta daí e me enfrente, invasor"

Eu suspirei, dolorido demais para querer me intrometer, mas a gritaria só aumentava minha enxaqueca.

"É a última competição do Alisson antes do Surfe-Hai, Dylan. Eu convidei o Michel, e ele vai assistir conosco. Seja bonzinho e frite umas batatas fritas, tá bem? Quero comer com geléia de amora."

Dylan arregalou os olhos pra mim, indignado como se eu tivesse pedido um vibrador para meter na bunda do Michel. Eu não fui nenhum santo durante os meses de separação, mas aquele ciúmes do Dylan tornou-se ridículo há muito tempo.

"Eu aceito apenas um café." Michel sorriu ao Dylan, sempre se divertindo com as neuroses dele. "Três gotas de adoçante, por favor."

Dylan abriu a boca como se pensasse em tantos palavrões, que não conseguia escolher nenhum. Por fim ele desistiu e marchou até a cozinha, bufando de ódio.

"Seu peixe se tornou mais dócil." Michel riu, jogando para trás os cachos loiros. Naquela tarde ele não vestia seu jaleco de médico. Era bom vê-lo em calça jeans e camiseta casuais. Me fazia lembrar de quando eu pensava ter uma vida normal, antes daquela loucura de tritões, e gravidez, e meses trancado em casa.

Eu mesmo me sentia mais normal por também estar usando roupas, embora aquela calça de elástico ficasse horrível em mim, e só me fizesse parecer mais gordo. Não sei se foi sadismo do Dylan ou pura falta de escolha, mas quando pedi que ele comprasse roupas de gravidez, ele comprou apenas a que eu estava vestindo: um camisão cor de rosa com florzinhas e botões de coração, escrito na frente orgulhosa mamãe.

Sim, definitivamente foi uma brincadeira sádica do Dylan. Michel riu por duas horas na primeira vez que me viu assim, e naquele dia ele ainda tremia os lábios, contendo-se para não gargalhar por toda a tarde.

Se Dylan pensava que aquela roupa me impediria de chamar visitas, ele menosprezou minha tolerância ao ridículo. Eu era um homem grávido, afinal de contas.

"Como foi seu ensaio final?" Perguntei, esperando o vídeo do campeonato ser postado no site. Diferente das outras vezes, a semifinal não seria transmitida ao vivo.

"Devo dizer. Eu fico muito sexy numa toga de formatura." Michel abriu um sorrisão metido. "Mas deu um frio na barriga. Serei o único da turma a me formar com láureas, então não escapei do discurso. Ai, cara, eu odeio preparar discursos."

Eu ri da frustração do Michel. Seria má idéia elogiá-lo tão perto do Dylan, mas eu estava impressionado. Quem diria que aquele maconheiro louco se formaria em medicina, e com A em todas as matérias? Se Michel não tivesse me mostrado seu histórico de avaliações, eu nunca acreditaria.

O Amante Do Tritão (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora