O roxo em ti, Meu favorito

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Mingyu era fascinado na cor roxa. Desde o seu tom mais escuro ao mais claro, aquela cor de roxo extremamente escuro, ao lilás simples e quase apagado que dava nuances belos em determinados lugares.

Gostava daquela cor em suas roupas, em sua caixa de lápis de cor, em suas paletas de tinta, nas paredes, na tela branca no contorno de seus desenhos, do suco de uva no copo e até mesmo o tom da fruta, das Tulipas roxas no jardim de sua mãe, aquele tom no amanhecer e nas nuvens carregadas para um dia chuvoso e, principalmente, aquele tom na pele pálida de WonWoo.

Não sabia quando havia adquirido aquele fascínio louco por aquela cor, mas qualquer um que fosse o tom roxo lhe agradava os olhos, enchia sua cabeça e despertava aquela adrenalina no peito e ele ansiava por ter mais daquele tom tão belo que lhe despertava o desejo e a ambição.

Quando tinha seis anos viu seu irmão mais novo desabar no chão ralando o joelho e batendo com a canela na escada, com o passar dos dias aquela batida foi tomando um tom bonito de roxo escuro, ficou mais claro e passou por todos os estágios da cor até tomar uma tonalidade esverdeada e amarelada sumindo logo após. Mingyu gostou daquela cor inicial do machucado, queria vê-la outra vez e quando caiu do balanço aquela tonalidade ficou em suas palmas e em seus joelhos ralados, ele passava horas a fio encarando aqueles pontinhos vermelhos mudarem de cor até ficarem do seu tão amado roxo. Era estranho uma criança passar horas e horas encarando o próprio machucado para vê-lo mudar de cor sem chorar por estar com as mãos e os joelhos ralados, ou resmungar por aquilo, Mingyu fazia questão de apreciar cada estágio de seu ferimento e quando ele ficava esverdeado e o roxo começava a sumir ele perdia a graça e o interesse.

Seu lápis favorito era o roxo, o cabelo da sua vizinha tinha pontas roxas e ele passava horas embolando os dedos nas pontas dos cabelos da adolescente que ficava de babá quando seus pais saíam, ela nem ligava dele ficar atrás dela no sofá mexendo nas pontas roxas de seu cabelo, desde que ele ficasse quieto e ela pudesse assistir televisão estava tudo bem. O avental de sua mãe também era roxo, um bem claro e suave, mas, ainda assim, roxo. Sua professora sempre usava um lenço roxo no pescoço e uma "xuxinha" de cabelo em um roxo bem escuro com uma flor por cima. Sua colega de mesa tinha um estojo roxo e um caderno de mesma cor, ele passava quase toda a aula brincando com o estojo da garota.

Com o passar dos anos Mingyu continuava com aquele amor pelo roxo e seus tons variados, fazia desenhos em um caderno e colocava os contornos de roxo, pintava as telas brancas de suas aulas de artes com todos os tons de roxo que tinha, ninguém mais questionava o motivo dele gostar tanto daqueles tons que sempre iam ao mesmo lugar; Roxo. Ele dava sempre a mesma resposta quando questionado.


"É bonito e eu gosto de coisas bonitas."


Aos quinze anos ele descobriu que podia sim odiar os tons de roxo em alguns momentos, quando ele se formavam em sua mãe pelos tapas de seu pai. O homem estava violento e bebia como um gambá, chegava tarde e nervoso, acabava por bater em sua mãe sem ela ter feito nada além de ser uma boa mulher que cuida dos filhos, ela vivia roxa no rosto, nos braços, nas pernas e na barriga. A mulher ainda lhe sorria e com aquele mesmo sorriso dizia para ele não se preocupar, ele amava roxo, mas não aqueles em sua mãe.

Mingyu não suportou mais tudo aquilo e um belo dia pegou seu irmão mais velho pela mão e saiu correndo até a delegacia aos prantos pedindo ajuda, o pai foi preso, os roxos em sua mãe sumiram e ele voltou a apreciar aquela cor tão bonita.

Tons De RoxoOnde histórias criam vida. Descubra agora