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TOMO 1

A Profecia

Minseok esfregou as mãos sentindo os dedos dormentes. Ele estava a uma distância relativamente boa da fogueira, mas o calor ainda não era capaz de aquecer seus músculos tensos e suas juntas doloridas. Com seus olhos felinos observou os homens da aldeia, aguardando com muita ansiedade, a volta do Chefe de dentro da caverna da velha Sacerdotisa. Dentro das tendas feitas de couro animal, as mulheres estavam enroladas em suas peles e com suas crianças adormecidas em seu seio. Seus sonhos eram cheios de preocupações com o futuro dos homens e de suas crias. As crianças maiores que já comiam carne da caça e bebiam do gelo, espreitavam escondidas a cheias de curiosidade a entrada da caverna. Mal sabiam que depois daquela noite seu destino seria mudado drasticamente.

O vento era gélido e cortante, mas nenhum dos caçadores se movia para seu leito, apreensivo pela profecia que seria entregue ao líder dos caçadores. Todo o destino da tribo estava sendo decidido entre a velha Sacerdotisa e o caçador. Não havia mais caça suficiente para as mulheres e crianças. O frio se intensificava a cada novo pico solar, deixando todos apreensivos e com medo de um dia amanhecer azul como o céu e frio como gelo. O medo já se instalava no coração de todos e, como única esperança, aguardavam a solução para seus demônios. Minseok compartilhava dos mesmos medos e tinha suas próprias ideias sobre o que deveria ser feito. Assentado em seu canto, mastigava sem vontade as ervas do estoque que as mulheres trouxeram do antigo assentamento.

Há várias luas, ele havia finalmente se tornado caçador. Assim que alcançou o número de circunferências lunares suficiente, a velha sacerdotisa pintou seu rosto de escarlate e entregou a ele sua lança. Sozinho, Minseok foi atrás de sua primeira caça. Como um astuto felino, empunhou sua lança rústica e abateu uma raposa das neves. Mesmo que tivesse conseguido, não se sentia satisfeito e o amargo das más notícias incomodava sua língua. Queria ele não ser portador de mais maus presságios para o povo.

Ao chegar no centro da aldeia, as mulheres saíram e fitaram abatidas o resultado da caça do jovem Minseok. Ele relatou a dificuldade de encontrar animais e as tocas vazias por onde passou. O chefe o escutou com o rosto sombrio. Foi confirmado o que todos os outros caçadores já haviam constatado. Era hora de mudar. A questão difícil era: Para onde? Estavam entre o deserto gelado e uma tribo inimiga com armas melhores e mais homens. Não havia saída segura para todos.

Sentou-se, então, isolado de todos por doze picos solares. Não comeu, não bebeu e nem o seio de uma parceira procurou. Sua mente de caçador trilhava planos e mapas mentais em busca de uma solução para salvar sua gente. Nunca em tantos anos guiando os seus, ele se sentiu tão impotente e encurralado como naquele momento. A angústia parecia para ele como um tigre faminto por sangue, lhe devorando a carne até não restar nem mais os ossos. Numa noite seu sono foi conturbado e cheio de imagens perturbadoras. Aflito então, no fim do décimo segundo pico solar, ele ergueu-se de seu canto e caminhou sem hesitação até a caverna onde a velha mãe habitava. Os homens e as mulheres da tribo ergueram seus rostos, fitando com seriedade o caçador que entrou no lugar sagrado e não voltou por um bom tempo.

O jovem Minseok e seus irmãos se levantaram quando o chefe caçador saiu da caverna com o rosto frio como gelo e os ombros caídos pela responsabilidade que lhe havia sido dada. Ele fitou o rosto de seus companheiros e sentou junto a eles, perto da fogueira para espantar o frio que lhe congelava as falanges.

– Eu conversei com a Mãe sobre o destino que nossa tribo deve tomar, agora que não existe caça ou plantas para se comer aqui

Nem mesmo a velha soube dizer qual a saída, mas ela disse que entre nós há um caçador que sabe a resposta. – Os homens se entreolharam curiosos e com o semblante mais aliviado – Ela disse que antes o caçador deve provar seu valor e há apenas uma maneira de se fazer isso.

Êxodo (XiuYeol)Onde histórias criam vida. Descubra agora