Os últimos momentos do Rei

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Tive uma longa vida como rei. Fiz o que quis e como quis. Agora, no final de tudo, posso sentir as consequências de cada um dos meus atos.


Desde novo recebi o nome de "conquistador"; Joguei vinte longos anos de alianças na lama e tomei tudo que pude com a espada. Antes dos trinta invernos os inimigos temiam meu nome, podia ver o medo em seus olhos antes de cada batalha.


Eu era adorado pelo meu povo, quem não adora um herói de guerra? Até mesmo vi um exército inimigo render-se a mim e gritar, "O velho rei está morto... Vida longa ao Rei!". Dentre todas minhas batalhas travadas esta entrara para os livros e seria eternizada. Eu posso me orgulhar do meu lado militar, fiz reis se curvarem, domei paises, não haviam muralhas que me parassem.


Mas não fui de todo bom, não nego. Forcei minha irmã a casar com um homem desprezível, desde então, sempre que olhava em seus olhos podia ter certeza que sua alma já está morta, nem mesmo os filhos que teve ajudaram-na... Me perguntei se ela chorou quando morreram, porque sei que o pai não chorou... Pobres crianças.


De certo fui um péssimo irmão, talvez por igualmente ter tido um. Meu irmão mais velho, um porco do qual não mencionarei o nome, por total desprezo, quase matou-me com uma pedra quando vi, atrás de uma árvore, quando ele atirou nossa serva no chão, rasgou suas roupas e a possuiu na terra húmida. Ela gritou, mas ninguém ouviu, pensei em ajudá-la, mas ele era mais forte.


Anos depois, o porco, que tive a infelicidade de ter como irmão, forçou-me a beber quase uma jarra inteira de vinho, depois, trouxe uma moça qualquer, não mais que quinze primaveras, e disse simplesmente, "Coma-a". Mesmo bêbado me neguei, isso o enfureceu muito, ficou de pé e chamou a atenção de todos na estalagem, com um puxão rápido e forte, despiu-a e pressionou sua cabeça dela na mesa e mais uma vez disse, "coma-a". Olhei ao redor... Os olhares me enojaram, uns estavam excitados, outros horrorizados... Outros riam.


Não entrarei em detalhes, apenas direi que fiz o que me foi imposto... Não antes do meu irmão quase me cegar, cruzando uma linha reta da minha testa à minha bochecha com uma faca. Ele era nojento e seria rei, creio que seria muito pior que fui um dia... Eu o matei no dia seguinte... Era uma manhã fria de inverno... O esfaqueei no estômago três vezes, com a mesma faca que ele usou para marcar meu rosto. O deixei sangrando na neve... Nunca contei a ninguém sobre isso.


Meu pai o amava. Nunca tive uma boa relação com ele, era um homem do qual a presença me intimidava, apoiava cada atrocidade do meu irmão dizendo ter feito pior em sua juventude. Acredito quando dizem que ele chegou próximo à paz apenas por saber que entrar em guerra seria uma vergonhosa derrota, assim como acredito quando dizem que ele matou dois irmãos para ter o trono. Não senti nada ao saber que ele morreu, vitima de uma estranha doença que se agravou com sua idade avançada.


Com meu pai e irmão mortos, assumi o trono com vinte invernos e nenhuma experiência com comando ou poder. Percebia que não tinha voz quando em reuniões com meus tios ou conselheiros, tudo o que eu dizia era ignorado, eram eles que me governavam. Podia usar uma coroa sob a cabeça e uma linda capa, mas, ainda me sentia intimidado, sozinho... Fraco.

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⏰ Última atualização: Apr 18, 2017 ⏰

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