10. Carlos Eduardo - Por que é que você não sossega de uma vez?

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─ Por que é que você não sossega de uma vez, meu filho? Ainda não cansou dessa brincadeirinha? Você já é um homem, Kadu. – Disse meu pai assim que eu falei que tinha de sair para o ensaio do Dança das Celebridades. Ele nunca gostou dessa minha outra atividade. – Faltam poucos dias para a sua casa abrir e você ainda não escolheu nem a atração principal. – Nós estávamos fechando os orçamentos da abertura. Eu ainda não acredito que vamos começar a funcionar em tão pouco tempo.

─ O senhor sabe que quando eu me comprometo com uma coisa, eu vou até o fim.

Sempre era possível pegar meu pai pela palavra. Para ele, um homem só é um homem quando cumpre o que promete. Ficou calado com cara de poucos amigos. De repente, seu rosto se iluminou com uma ideia.

─ Você vai mesmo dançar na televisão com aquela menina. A... – Fazia um esforço para se lembrar do nome dela. Ele não assiste à televisão quase nunca.

─ Bruna Drummond?

─ Ela mesmo. Era uma princesinha quando era pequena, agora deve ser um mulherão. Não é, não?

─ Ela é muito bonita. – Demorei a responder. Fiquei vermelho. Meu pai sorriu com um canto a boca. Ele não iria deixar passar a minha hesitação.

─ Pelo que estou vendo, o senhor vem tirando algum proveito desse negócio todo de dança...

─ Ah! Pai, por favor...

Não gosto muito dessa imagem pré-concebida que as pessoas têm de que um garoto só entra na dança de salão para pegar mulher. Não vou negar que ajuda tremendamente, mas, pelo menos no meu caso, não se trata disso. Eu gosto do ritmo, eu gosto da parceria, gosto do movimento, gosto da música.

─ Qual é, Carlos Eduardo? – Meu pai estava rindo da minha cara. – Você fala como se fosse um grande sacrifício abraçar Bruna Drummond. Se for, meu filho, vou ter de começar a duvidar da sua masculinidade... – Ele caiu na gargalhada. – Sabe que a sua mãe sempre quis mesmo uma menina. Vou avisá-la dessa sua tendência tardia. Quem sabe vocês possam tirar uma tarde de folga juntos para fazer as unhas. Que tal? – Lágrimas de riso escorriam pelas bochechas rosadas do meu pai, nada o divertia mais do que me tirar do sério. Eu sempre penso duas vezes antes de cair em alguma esparrela preparada por ele, mas sempre acabo caindo.

─ Não é sacrifício nenhum abraçar a Bruna, ok? – Eu disse contrariado.

─ Huuuum... – Provocou. – E aí, vai rolar alguma coisa, filhão?

─ Não que eu pretenda.

─ E por que não?

─ Porque eu gosto de outra e o senhor sabe muito bem. – A essa altura já estava zangado mesmo.

─ Ah! Desculpa. – Continuava zombeteiro. – Esqueci da menina dos Souza. Mas acho que você deveria reconsiderar, sabe? – Jamais vou reconsiderar o que sinto por Milena, mesmo assim, levantei as sobrancelhas interessado no raciocínio dele. Queria saber até onde ele estava disposto a chegar para me atormentar. – Um romance com Bruna Drummond poderia alavancar a popularidade da Atmosfera. Você deveria se sacrificar dando uns beijinhos naquela gostosa, se não por prazer, em prol do trabalho. – Olhou para mim como se me desafiasse.

─ Eu jamais faria isso, pai. Usar uma garota dessa forma é horrível!

─ Bobagem! Com quem você aprendeu a ser correto desse jeito, menino? – Deu um empurrão no meu ombro.

─ Com o senhor? – Sorri. Sabia que ele estava apenas brincando.

─ Comigo mesmo não. Eu sempre fui um safado.

─ Nossa! Demais! – Saboreei a ironia. – Com quantos anos mesmo você e a mamãe começaram a namorar? Quinze?

─ Quatorze. – Ele admitiu sabendo que acabei com sua pose. Meu pai era um homem apaixonado. Ele, entretanto, não desistiu, apenas mudou o foco. – Em todo caso, não custa convidá-la para a inauguração. Custa? Isso fere seus elevados princípios morais?

─ Não. Não custa.

─ Ótimo. Vai ser muito bom se pudermos contar com algumas celebridades na inauguração. Principalmente celebridades de graça.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora