Show de canibalismo.

5.3K 462 549
                                    

A mulher com os olhos quase brancos me encarava como se eu fosse um quadro num museu. Sua pele repuxada de maneira estranha deixava claro que mais de uma cirurgia plástica foi feita ali. A moça parecia ter uns 45 anos, e mesmo tendo uma aparência diferente, ainda era um tanto bonita. Ela tinha cabelos grisalhos não tão longos, mal chegando ao final das costas, e roupas provocantes demais para quem tinha um rosto tão inocente. Mas, será que realmente é?

Parei pra observar melhor a mulher, e notei que a mesma olhava para mim com um olhar esfomeado, quase me devorando com os olhos. Mas claro, para um rapaz jovem como eu, com apenas meus recém-feitos 20 anos, uma mulher olhando para mim dessa maneira tão imprópria jamais me causaria algo ruim; pelo contrário.

O que dizem sobre homens pensarem sempre com a cabeça de baixo é mais do que certo; e foi por isso que não pensei na minha namorada me esperando em casa quando me aproximei da mulher. "Notei que você estava olhando pra mim", foi o que eu disse.

"Um homem bonito e jovem como você chama atenção de qualquer mulher como eu." Foi o que ela me respondeu.

Mulher como ela? "O que te torna tão especial?" Ousei perguntar, analisando seus traços, seus detalhes, esperando pela resposta com excitação.

Exceto que não obtive resposta.

O silêncio foi tudo que recebi de sua parte, e quase pensei em perguntar de novo, achando que ela não tinha escutado, quando sua voz doce me interrompeu e disse: "Posso mostrar para você algo que me torna especial."

Posso dizer que as semanas que fiquei sem transar com minha namorada com certeza estavam me afetando agora, porque minhas calças já estavam extremamente apertadas e mal havíamos trocado duas palavras. Ela sorriu, e eu retribuí quase que imediatamente, enquanto minha cabeça subia e descia lentamente demonstrando que sim, quero que ela me mostre.

A moça se virou e começou a caminhar para fora da balada, e eu rapidamente fui atrás, deixando o copo com minha bebida em cima do balcão.

Assim que saímos da balada, uma van esperava-nos do lado de fora, com um homem que parecia um mordomo ao lado da porta aberta, esperando que nós dois entrássemos. Obviamente, achei aquilo um pouco estranho, mas simplesmente ignorei e entrei na van junto com a mulher, já recebendo-a em cima de mim e beijando meu pescoço com tanta vontade que chegava a ser agressivo. Enquanto ela lambia toda a minha pele, minhas mãos exploravam tudo que conseguiam, passeando por lugares em que apenas olhar não era o suficiente.

Suas coxas grossas apertavam minhas pernas e sua cintura se movia de frente para trás, se esfregando no meu colo com todo vigor. Em algum momento me cansei de sua boca em meu pescoço e a puxei para cima, colando nossas bocas e misturando nossas salivas. Meu pescoço escorria de tanta saliva que a mulher deixou ali, mas isso de forma alguma me incomodava.

A van corria apressada para algum lugar, mas eu só consegui prestar atenção em sua boca e em sua cintura trabalhando incansavelmente em cima de mim. Eu desejava tirar suas roupas aqui e agora.

"Aonde estamos indo?" Murmurei enquanto sua língua ainda invadia minha boca, mas não recebi resposta.

Isso não foi um problema para mim nos primeiros cinco minutos, mas o silêncio estava começando a me deixar inquieto. Ainda mais com a movimentação exageradamente rápida que a van estava. Então, me afastei mais uma vez afim de perguntar novamente aonde estamos indo, mas algo me deixou completamente paralisado.

Seus olhos, que antes eram cinzas, agora estavam manchados de vermelho escuro, quase da cor do sangue, e seus cabelos grisalhos, com mechas laranjas e avermelhadas, quase não mais brancos como antes. O choque foi tão grande que não consegui gritar, mas a mulher notou nos meus olhos arregalados que eu estava apavorado.

Não tive quase nenhum segundo a mais para pensar, a próxima coisa que senti foi uma dor absurda na minha boca e em parte do meu queixo; ela havia me mordido.

Dessa vez então, minha garganta finalmente funcionou, e um urro de dor saiu, seguido de gritos quase esganiçados, que logo foram interrompidos quando senti uma dorzinha em meu pescoço, e notei então que era uma seringa. Nos meus últimos segundos de lucidez, empurrei a mulher para o lado e tentei abrir a porta, que estava trancada. A última coisa que eu vi, foi o sorriso assustador da mulher, agora ruiva e com os olhos vermelhos-sangue.

Claro, não sei o que diabos aconteceu comigo no meio tempo que estive desmaiado, mas acordei com uma dor absurda na cabeça e no rosto, aonde aquela desgraçada mordeu com toda a força do mundo.

Enquanto lentamente ia retomando a consciência, notei que estava em algo duro e desconfortável, e que meus pés e mãos estavam presos. Meus olhos doíam pela claridade, mas fui digerindo o que estava acontecendo ali aos poucos.

Eu me encontrava em uma mesa de madeira, mas não completamente deitado, a mesa era inclinada e eu quase estava pendurado. Meu corpo fazia força para escorregar e cair, mas meus membros presos não permitiam. Notei também que eu estava nu, e que em minha frente, uma plateia assistia com muita atenção o que acontecia ali.

Eu estava num maldito show, e o pior, é que sou a atração principal.

Olhando para o lado, a mulher que havia me seduzido e me capturado me assistia em cima do palco, e eu soube que ela faria algo comigo que seria pior que a morte quando notei que uma mesa de metal cheia de ferramentas de cirurgia estava ao meu lado.

O desespero começou a me corroer. Eu vou ser torturado? Para essas pessoas doentes assistirem? Vou morrer?

"Me solte, sua vagabunda!" Foi a primeira coisa que gritei. "Acha isso engraçado? Eu vou chamar a polícia! Me deixe sair!" A plateia ria de mim como se assistissem a um filme de comédia. E seus olhos ardentes não desviavam de mim em momento nenhum.

"Eu faço o que você quiser. Me deixe ir!" Implorei pela última vez, mas sei que não a convenci quando a mulher pegou uma pequena faca de cima da mesinha e se aproximou de mim.

Meu corpo inteiro tremia. As lágrimas caíam dos meus olhos sem qualquer controle, e eu sentia que poderia desmaiar a qualquer momento. A cada passo que aquele demônio dava, a plateia gritava. Ansiosos para verem minhas tripas arrastando pelo chão de madeira.

Sem nenhuma delonga, ela fez um corte em minha barriga, fundo o suficiente para conseguir enfiar sua mão dentro de mim. Pelo menos eu soube então, que isso não duraria mais de dez minutos.

Os gritos que saíam de minha garganta pareciam cortar minhas cordas vocais. A dor me deixou fraco, tonto. Sua mão saiu de lá vazia, como se ainda quisesse brincar um pouco mais comigo.

Ela usava roupas ainda mais provocantes do que na primeira vez que a vi, e apertava as próprias pernas como se a excitação fosse demais para suportar. A mulher beijou meu rosto e desceu até minha barriga, lambendo o sangue enquanto fazia sons de prazer.

A mulher lambeu o meu corpo inteiro, e quando voltei a ver seu rosto, já turvo, o sangue pintava seus lábios como um batom, suas bochechas e seu nariz.

"Delicioso! Você é delicioso!" Ela gritava, enquanto eu chorava e soluçava, implorando pela minha vida, e a plateia gritava, amando o show que acontecia diante de seus olhos.

Então, a mulher enfiou a mão em minha barriga e puxou de lá algo como uma pequena bolsa, rosada. Meus olhos saltaram de suas órbitas quando vi, na mão da mulher, meu próprio estômago. Minha garganta já mal funcionava, e a dor escurecia minha visão a cada segundo que passava. Eu estou morrendo.

Tirando seus cabelos ruivos de seu rosto, ela abriu a boca o máximo possível e mordeu o órgão que estava em sua mão, se deliciando como quem come peru numa ceia de Natal. A plateia urrava e eu percebi que não duraria nem mais dez segundos. A mulher devorava meus órgãos com fome, mal mastigando e já engolindo, mexendo em minha barriga aberta e lambendo os lábios enquanto olhava nos meus olhos e dizia o quanto eu era delicioso.

Eu não sei o que essa mulher é, mas tenho certeza de que o que me seduziu naquela noite e me devorou horas mais tarde não era humano.

A última coisa que vi, foram seus olhos escarlate, brilhando como lanternas, enquanto seus lábios se enchiam de minha carne e tiravam minha vida sem remorso, apenas fome.

Contos e outros.Where stories live. Discover now