| runaway |

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14/04/2008;  07:45 am; seul, coreia do sul.

"— Mark! Para de gravar - pediu Jinyoung.

— E se eu não quiser?

— Eu mesmo arranco a câmera de você.

— Por favor, Jinyoungie! Por que não quer guardar esse momento tão belo de nós dois juntos? - virou o aparelho para si mesmo - Por que não quer gravar nossa fuga do colégio para o jardim da casa abandonada? - sorriu perverso.

Park desistiu e deixou Mark gravar em paz.

Era um campo completamente verde. A grama não muito alta chegava no calcanhar dos garotos de 16 anos, estes vestiam roupas escassas e longas, por conta do frio comum no outono, quando as flores e folhas das árvores ao redor caíam. Mortas.

O terreno era surpreendentemente grande para apenas um jardim de uma mansão velha e abandonada provavelmente assombrada. Era uma casa afastada, então o casal adorou a privacidade. 

Ventava muito, a ponta de seus fios atingiam os próprios olhos como chicotes. Com as mãos dadas, os meninos corriam contra as rajadas de ventos. Era um ato muito infantil, aliás: correr por aí, por nada, com as mãos entrelaçadas com a sua provável alma gêmea.

Debaixo do céu cinza e nublado, Mark dizia palavras soltas, sempre no contexto de um "eu te amo" que teimava prender em sua língua, enquanto via Jinyoung rir das palhaçadas do mesmo.

Não era necessário ser dita aquelas três palavrinhas vagas para tomarem o saber de que aqueles jovens se amavam. Nenhum deles achava necessário. Era amor e pronto. Gestos simples demonstravam a paixão entre eles.

— Olha isso, saeng!

Park  se virou e teve a visão do seu hyung fazendo estrelhinha. Riu o mínimo.

Correram mais. Correram todos os cantos do jardim enorme. Correram até ficar sem fôlego. Correram até o ponto de deitarem na grama para descansar, sem ligar para qualquer animalzinho ali.

Eles ofegavam. Fora uma experiência legal. Porque havia uma névoa cinza no local, uma névoa que - mesmo que passageira - transmitia a energia amorosa entre os dois. Parecia fumaça, na verdade. Em pouco tempo, a mancha cinza subiu até o céu, até as nuvens, e lá desapareceu.

Mark, esperto como era, gravara cada pedacinho que achou importante naquele encontro.

Gravou a entrada do lugar, com Jinyoung fazendo careta. Gravou Jinyoung escrevendo "pjn + mt = ♡" com uma pedra numa árvore aleatória. Gravou - escondido - Jinyoung o beijando, mas o mesmo logo percebeu e colocou a mão na frente da lente da câmera, a fazendo cair e gravar metade dos seus corpos juntos. Gravou Jinyoung fazendo todos os tipos de corações com as mãos. Gravou suas mãos com os dedos entrelaçados, levantadas, viradas para do céu negro. Gravou pequenos frames em que Jinyoung o abraçava. Gravou Jinyoung correndo como se fosse o Naruto. Gravou todas as vezes que Jinyoung disse que lhe amava."

Jinyoung tirou a fita do aparelho.

Sua vontade era de fugir para bem longe. Correr como ele e Mark fizeram anos atrás.

Não era bem desistir de viver. Era simplesmente não ter razões para continuar vivo.

Um sentimento angustiante tomava-lhe o ser. Era a vontade de arrancar a própria pele. Arrancar a própria vida.

Desde que Mark Tuan, seu noivo, veio a falecer, Jinyoung só vira sua vida desmoronar mais e mais. Ele cansou do seu chefe, que só sabia lhe dar mais trabalho e reclamações; cansou de ter que comer fora todo dia, aquela comida com gosto de isopor, já que ele não sabia cozinhar; cansou de escutar as mesmas músicas todos os dias na rua, porque os lançamentos tinham sempre o mesmo estilo e as mesmas letras toscas, e esse não era o estilo de Jinyoung; cansou de se sentir vazio.

Mark Tuan o preenchia. Mas Mark não existia mais.

Perdê-lo de repente não estava em seus planos. Vê-lo da cor da neve num caixão negro com gente falsa ao seu redor fingindo se importarem com a morte do coitado não era mesmo algo planejado.

Mark sorria todos os dias de manhã quando via Jinyoung acordar. Com certeza, Jinyoung gostaria de ver esse sorriso todos os dias de sua vida, até ela acabar. Mas o sorriso não estava mais ali.

Jinyoung gostaria de fugir com Mark novamente, como fizeram aos 16 anos. Fugiam os dois da escola, sem pensar nas consequências, foram atos inconscientes, formados por loucuras de amor. No entanto, fora um momento marcante e maravilhoso. Sentindo a brisa no seu rosto enquanto corria.

E então, Park acordou. Percebeu que havia o perdido, para sempre. Mark não existia mais. Não existia mais um Mark Tuan, amor de sua vida, futuro marido. Jinyoung não sabia lidar com a bruta realidade, mas deixou a amargura da vida ganhar um pouco de doce. Continuou a mesmíssima vida entediante, colocou um sorriso fingindo ser sincero, até que a vida o fez realmente ser.

Porém, mesmo sendo repetitivo e cansativo, a dor não sumiu. Nem a sua vontade de fugir.

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drapetomania. +✿.* markjinOnde histórias criam vida. Descubra agora