Aqueles olhos. Como os abismos do Inferno. Como esferas de metal
negro. Eu os fito e ali me perco. Minha mente grita por libertação.Medo - pânico - Fuga! Meu corpo não responde. Não posso me mover.
A sensação de seu toque permanece no meu rosto por um segundo. Os olhosdele, tão ternos... não me oferecem piedade.
Por que não posso gritar?
Como um lobo, ele ataca. Suas presas perfuram meu pescoço e rasgam minha
pele. Uma onda de calor percorre meu corpo: êxtase. Prova de minha essência
quando ela jorra do meu pescoço, e em seguida começa a sugar. Agarro-o como
se eu fosse um marinheiro se afogando, ou um amante. Minha rocha. Meu dese-
jo.
Meus sentidos rodopiam na noite, em busca de terra firme. Agarro a lapela de
seu capote. Se houver um céu, rezo para chegar logo a ele. Mas se houver um
Inferno, então sei onde estou agora.
Sinto minha vida se esvaindo. Meus olhos estão embaciados; deixo escapar
um último lamento. Abandonando o mundo de escuridão e dor, elevo-me, dei-
xando para trás meu corpo imperfeito e pesado. O último grão de areia atravessa
a ampulheta. Aqui está calmo. Estou em paz.
Esta é a morte, a consumadora...
Calor! Dor! Confusão! Um cheiro pungente invade minhas narinas. A fra-
grância fria arranca a minha alma de seu descanso. Ele me estende o pulso. Vida
pulsante, cujo brilho vermelho acena para mim. Sei apenas de uma coisa: Preciso
beber para viver.
Oh, Deus! Tende piedade!
Sou conduzido, como um animal. Sedento, sugo de sua pele. O líquido quente
acaricia a minha boca. Recebo com alegria sua calidez. Os músculos que cede-ram à morte voltam dolorosamente à atividade. Tento gritar. A corrente de vida
continua a me preencher. A dor torna-se êxtase. Que agonia estranha e vital.
Nós nos tornamos um.
Em que me transformei?
Com um grito, procuro selvagemente pela fonte de vida. Ela se foi. Caio ao
chão. Um ruído de vidro partido ressoa ali perto. Estou só.
Com o dom da vida ainda pesando no meu estômago, afundo no reino dos
pesadelos.Li.