Clube de Vênus (prólogo e capítulo 1)

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CRISTINA FRENTZEN

Clube de Vênus

Prólogo

“Como reconhecer a anatomia de um gozo?”

Aquela pergunta ainda martelava na cabeça de Tom Esquivel. Ele estava lá, seus joelhos dormentes de encontro ao chão que outrora parecera macio, mas agora o lastimava. Não sabia precisar quantos minutos já haviam se passado desde que acordara, entorpecido pelo efeito do sedativo injetado em sua veia. Recordava-se do Maître que lhe servira a injeção em uma bandeja de prata. “Para o caso de o senhor querer fazer em si mesmo”, a voz firme e educada avisou, postando-se atento ao lado de Tom, enquanto este pressionava o braço em busca da veia perfeita. A escuridão veio e a ela se seguiu uma nova, pois seu despertar não elucidou qualquer coisa, além de seu corpo nu em posição fetal de encontro a um chão de feno. Sim, e a máscara.

Presa à sua cabeça como um capacete, a leve peça de porcelana parecia mergulhá-lo em outra realidade.

O frio no aposento escuro foi rapidamente dissipado por um calor intenso, e tal mudança de temperatura fez com que todo o seu corpo relaxasse, exceto seu pênis, que imediatamente enrijeceu.

“Ajoelhe-se.”

A voz surgiu de todo lugar e lugar nenhum. Era feminina, rouca e pausada, como se as palavras a serem pronunciadas tivessem que disputar com o leve ofego que marcava sua respiração.

Como Tom não obedeceu, a voz insistiu, dessa vez em um tom mais imperativo:

“Doutor, ajoelhe-se.”

Havia um microfone, sem dúvida. O som era típico de uma caixa de som média, um alto-falante talvez, ainda que a voz baixa fosse semelhante a um sussurro amplificado. Tom concentrou-se em si e obedeceu. Colocou-se de joelhos, voltando a ter controle sobre seu corpo. Ao menos, parte dele. Um cheiro de estrume e madeira úmida conjugou-se à sensação do feno grudado ao seu corpo despido. Sentia parte da forragem grudada às suas costas, nádegas. Ao seu braço esquerdo.

Permaneceu de joelhos por um tempo, em um silêncio tão profundo que podia ouvir seu coração desregulado, ansioso. Tom não se lembrava de já ter sentido medo antes, mas aquela situação o assustava um pouco. Por alguma razão, não tentou levantar-se. Sabia que ao tomar o sedativo horas antes, escolhera voluntariamente o caminho que era também submissão, pois só através dela conseguiria o que realmente queria.

E estava muito perto disso agora.

Depois de vários minutos, uma luz acendeu no alto do aposento, bem acima de sua cabeça. Tom olhou por reflexo para cima, mas a iluminação, provinda de algum tipo de holofote, era intensa e não o deixava ver nada para além dela. A máscara também não ajudava muito, firmemente fixada, como se tivesse sido feita para encaixar-se de modo perfeito ao seu semblante. Tom voltou sua atenção para o lugar e notou que era mesmo feno no chão. Cobria todo o aposento visível aos seus olhos, e após observar as colunas de madeira e vários apetrechos pecuários espalhados por todos os lados, Tom deduziu estar em um celeiro. Ou um estábulo, ele precisou, relembrando-se das coisas que havia lido e visto. Sim, havia baias e selas atiradas no chão. Era mesmo um estábulo.

Sorriu sob a máscara sem expressões.

Na parte do aposento que permanecia pouco iluminada, uma silhueta destacou-se pelas curvas das pernas nuas. A luz permaneceu em Tom, mas pouco a pouco sua companhia no estábulo se tornava cada vez mais nítida. Uma mulher, totalmente despida, usava apenas uma máscara de porcelana que lhe cobria todo o rosto e parte dos cabelos castanhos longos. As curvas de seu corpo e o desenho de seus seios, parte tocados pela luz, parte envolvidos pela escuridão, faziam dela a própria deusa.

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⏰ Última atualização: Jul 16, 2014 ⏰

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