01 (completo)

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"Você quer que eu descongele
Mas você sabe que eu fico gelada, fico com frio
você não vai devagar, mas eu sei que você quer mais
Você precisa de mim para descongelar

Eu não estou fugindo novamente Mesmo que eu esteja com medo, baby Eu não vou te congelar
Como eu fui congelada
Eu não vou te congelar"
( Sia - Freeze you out )

***

A menina olhava fascinada os flocos de neve que caíam vagarosamente através da janela de seu quarto. Era estranho mas ela se sentia leve e calma enquanto via a neve branca cair. A paz que a invadia era inexplicável. Sentia que fazia parte daquele cenário frio e tranquilo, da imensidão branca que se estendia pelo asfalto e se acumulava devagar por todos as superfícies visíveis fora do aconchego tranquilo do seu quarto. Ela não pensava em nada, apenas admirava com seus grandes olhos azuis cinzentos a paisagem que se formava fora da sua casa. Amava o inverno, era sua estação preferida!

Pondo uma touca cinzenta de crochê sobre os cabelos longos e de um castanho tão claro que chegavam a ser confundidos com loiros, encarou seu reflexo no espelho da pequena penteadeira que ficava em um canto do pequeno cômodo.

A casa que dividia com seus avós era um pequeno prédio de dois pisos - Em que, no primeiro piso funcionava uma rustica cafeteria e uma lojinja de antiguidades - com chão de madeira polida e parede de tijolos vermelhos expostos. Simples e aconchegante: assim como o resto da pequena cidade de Winchester . As cortinas esverdeadas com pequenas flores amarelas ladeavam a única janela do cômodo, um pequeno guarda-roupas de madeira escura fazia par com a penteadeira e a pequena mesa de estudos repleta de folhas e lápis coloridos que estava escorada em outro canto do quarto, tinha também uma cama de casal de ferro com lençóis coloridos e bagunçados sobre a cama, e um pequeno tapete rosa felpudo ao seu pé.
Olhou-se mais um pouco no espelho analisando os traços negros e finos que fez com delineador sobre as pálpebras, destacando assim seus olhos. Gostando de como se parecia calsou seu velho par de botas de inverno e foi em direção à cozinha que era o lugar mais moderno de todo o imóvel. Com todos os eletro-domésticos em aço inoxidável e o piso e bancada em mármore negro.

- Bom dia, Amah! - desejou a menina. A senhora baixinha de pouco mais que cinquenta anos olhos castanhos e cabelos curtos e negros salpicados de fios grisalhos a olhou e sorriu doce.

- Bom dia, minha filha! - Amah, como se chama a avó da garota, pôs um prato com panquecas e caldas doces na mesa e bebeu um gole da xícara fumegante que tinha em mãos. Ela assistiu a neta tomar o seu desjejum preocupada. Faltava dois dias para o décimo quinto aniversário dela, a senhora ficava cada vez mais apreensiva com a reação da garota quando descobrisse tudo a respeito do seu próprio passado.

- Cadê o vovô, Elijah? ...Amah?

A senhora foi tirada dos seus pensamentos pela voz calma de Gardênia. Olhou para frente e viu uma expressão levemente curiosa no rostinho branco da menina sentada na ilha da cozinha.
- Que disse, querida?

- Perguntei pelo vovô! Você está bem, vovó? Parece preocupada.

- Estou bem sim! E seu avô foi buscar uma coisa, já deve estar subindo... olhe ele aí!

Um senhor alto e loiro apareceu na cozinha com uma caixa de madeira decorada e de aparência antiga nas mãos. Os olhos do senhor se focaram na figura da garota que continua de costas para ele. Ele sorriu. Meu floquinho está crescendo! Pensou feliz. Se aproximou da mesa e pós a caixinha sobre ela.

- Bom dia, vovô Elijah!
Comprimentou com a boca cheia de panquecas. O senhor rio um pouco do jeito da menina.

- Bom dia, meu pequeno floquinho de neve ! Está feliz pelo seu aniversário?

Glacies Cordis - Coração de gelo Onde histórias criam vida. Descubra agora