Capitulo IV - Mundo Encantado

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No ano seguinte...

Edmea era uma borboleta azul muito da safada, adorava aprontar e dentro do mundo encantado sua fama era grande.

Tinha gente que não gostava dela pois sua presença ofuscava todas as borboletas do reino.
Grande. Elegante. Asas azul petróleo com acabamentos negros. Ela era uma sensação. Por onde passava deixava suspiros e ais.

Sua melhor amiga era Tixa, uma lagartixa de grandes olhos cor de chocolate e corpo transparente.

Tixa morria de vergonha. Tudo que comia ficava aparecendo em sua barriga.

Edmea sempre lhe dizia:
- Tixa querida, pensa comigo: enquanto eu só posso comer caldinho de flor - glicose pura - você pode se esbaldar em rodízios de mosquitos... proteína pura, amiga! Endurece!

No último inverno a guardiã do reino encantado tirou férias. Alegou que estava estressada. Foi para as Bahamas dar um tempo. Na linha de sucessão estava uma ninfeta muito sem noção e distribuiu os trabalhos conforme sua cabeça maluca.
Edmea recebeu o memorando dizendo que aquele ano seria a responsável pela fábrica de fadas. A lógica era de que já que ela era alada, poderia colocar as sementes de fadas nas respectivas flores voando. Seria muito mais rápido.

Quando contou para a amiga Tixa toda orgulhosa pela nova posição na hierarquia do mundo encantado, foi que caiu a ficha do tamanho da responsabilidade que lhe deram.

- Fico muito feliz por você amiga linda mas... vai ter muito trabalho!

- Sem problemas - disse Edmea - esqueceu que já fui líder de torcida? Vou delegar!

- Amiga, sabe que nos conhecemos desde que nascemos, você uma lagarta arrastenta e comilona e eu uma minúscula coisa transparente, então acho que tenho direito a opinar.

- Claro querida. Diz tudo que seu cérebro privilegiado tem a me falar. Não esconda nada.

- Eu acho que a gente deveria primeiro falar com Dona Ulma Coruja. Se alguém sabe das coisas neste reino é ela. Fica corujando o tempo inteiro tudo que acontece. Deve saber como se faz. Pelo menos dizer por onde começar.

- Amiga, você sabe das coisas. Para fazer, precisamos saber. Vamos comigo lá!

- Eu? Mas o trabalho é seu!

- Tixa, neste momento te nomeio minha secretaria executiva. Já faz parte de meu gabinete.

Dona Ulma sabia- e não era fácil- Depois que nasciam, as fadas saíam cada uma para um lado para cuidar de suas obrigações. Não se preocupavam com família. Eram seres independentes criadas para uma função. Cada uma com a sua. A sobrevivência dependia de alguém acreditar na sua existência - caso contrário sumiam - mas isso era outro lado da questão.

Edmea perguntou da possibilidade de terceirizar o trabalho, mas a coruja foi contra:

- Faz parte da evolução a multidiciplinaridade de conhecimentos.

Tixa ficou boiando. Edmea disfarçou.

- Gratidão dona Ulma, a senhora nos ajudou muito.

- Vão meninas, caprichem.
Lá se foram as duas.

Na biblioteca consultaram os manuais. Tixa anotou tudo.

- Próximo passo: Recursos Humanos.

- Como assim humanos. Edmea, acorda, os manuais são humanos, mas nós somos animais.

- Animais peculiares querida. Me nego a entrar em meras classificações zôo técnicas.

Edmea subiu no alto do chafariz do jardim e soltou um assobio de borboleta. Em minutos a fonte estava rodeada de borboletas de todas as cores. Explicou tudo e até aceitou a sugestão de uma borboleta amarela com pintinhas marrom, de chamar o beija-flor para ajudar.

Como boa líder de torcida, Edmea distribuiu os encargos. Não aceitou a idéia de uma bruxa acinzentada de colocarem uniforme de saia com meia soquete.

- CUSTO ZERO- replicou Tixa.

- Todo mundo entendeu? Então vamos esperar a lua nova de Maio que vai ser depois de amanhã e mãos à obra.

- Mas aqui no Brasil maio é outono, não seria lua nova de setembro?- perguntou uma Amarelinha desbotada.

- Quem se habilita a procurar esta informação? devolveu Edmea para a equipe.
Dona Ulma que estava no Galho da Mangueira curujando, rodou a cabeça 360 graus, pediu a palavra e falou:

- Menina, no Brasil é primavera o ano inteiro, mas fabricação de fadas é em maio!

- Edmea me dá licença de perguntar, mas alguém sabe onde fica a fábrica de fadas? Perguntou Tixa à turma.

- Nossa amiga, você pensa em tudo - alguém sabe responder? Falou Edmea

- Acho que isto você vai ter que resolver com dona Tartuga, que vive na floresta encantada.
Dizem que ela tem mais de 200 anos. Se ela não souber, sinto muito, disse Dona Ulma.

-Eu peço para meu amigo beija-flor te levar lá disse a borboleta amarela para Tixa.

- Voce vai lá então Tixa?

- Vou já.

A visita a dona Tartaruga não adiantou muito, pois ela só sabia que tinha que falar com a dona Estela, filha da dona Maria, que era ela que fazia fadas. Talvez fosse na casa dela que tinha a fábrica e as sementes. Tixa e o beija-flor até tentaram encontrar a casa da dona Estela, mas já era muito tarde. Acharam melhor voltar.
Edmea ficou uma fera. Disse que ia resolver sozinha aquela questão, pois não devia ser muito difícil fazer fadas, bastava achar as sementes. Tixa conseguiu acalmá-la dizendo que ainda tinham um dia para resolver aquilo. Foram dormir muito preocupadas.

De manhã, cedinho, Tixa pegou o beija-flor e saíram em direção à floresta encantada.

Na casa que a Tortuga indicou não encontraram ninguém. Já estavam quase desistindo quando um velho baú rangeu e dele saiu uma menina rechonchuda.

Depois de contarem seus problemas, ela falou:

- Sim, eu sei como se faz fadas. Minha mamãe faz todos os anos. Mas só de roseiras, pois ela não tem muito tempo para fazer em todas as flores.

- Que alívio, suspirou Tixa, vamos lá falar com sua mãe?

Entraram de volta no Baú. O beija-flor ficou de guarda.
Dona Estela ficou encantada com uma lagartixa que falava, e contou a ela como se faziam fadas. Contou também que não existia semente de fada, que era lenda. Sugeriu que, se as borboletas viessem ajuda-la ficaria muito mais fácil e poderiam fabricar muito mais fadas em um dia só.

Combinados os detalhes, Tixa voltou à floresta encantada e foi correndo, digo, voando contar para Edmea o que havia descoberto.

- Miga, vou te contar, disse Edmea, você merece uma Vice-Presidência. Arrasou. Vou reunir todo mundo para combinar tudo. Assobiou de novo e num instante estavam todos ao seu redor.

Primeiro contou que Tixa tinha descoberto tudo, que tinha encontrado a solução. Depois apelou para quem iria. Não podia ser muito delicada pois a viagem era longa.

O baú quase não aguentou tanta transferência. Reclamou um pouco, mas como era também daquele mundo, até gostou de ajudar.

Na hora certa, na noite de lua cheia de maio, e com a ajuda de um batalhão do mundo encantado, Estela vestiu seu vestido de fada e fez o que tinha que fazer. Todas as flores foram semeadas com o orvalho da noite, fazendo com que o plantel de fadas daquele ano viesse muito diversificado.

Quem adorou tudo foi Quincas, o dono da Floricultura, pois a quantidade de fadas foi enorme, e as flores ficaram muito bem cuidadas naquele e nos anos posteriores.

Algumas criaturas do mundo encantado optaram por ficar por ali para ajudar, outras voltaram através do Baú.

Missão cumprida, Edmea e Tixa ficaram de folga toda a semana seguinte - merecidamente.

A Roseira das FadasOnde histórias criam vida. Descubra agora