PRIMEIRA IMPRESSÃO

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Absurdamente hétero.

Foi a primeira coisa que Jimin pensou assim que o viu no vagão do metrô. Para logo em seguida se repreender mentalmente. Estava mais uma vez rotulando as pessoas antes de as conhecer. Não que alguém fosse lhe chamar a atenção por causa disso. Ser homo aparentemente o isentava de ser taxado de preconceituoso. Mas não o impedia de se sentir um hipócrita quando se flagrava fazendo isso.

Havia ouvido uma vez, provavelmente em um filme americano com algum galã da meia idade, que o preconceito podia ser ruim e mal visto, mas que era muito mais prático. Não conseguiu esquecer disso porque percebeu que, de certa forma, é o que ele havia feito a vida toda. Apesar de que conseguia se desculpar usando o medo da rejeição. Então, toda vez que conhecia uma pessoa ou que notava alguém a primeira coisa que fazia era tentar adivinhar sua sexualidade. Mesmo depois do que chamava de "o caso do chinês".

- Não Hoseok-ah! Eu não vou falar com ele. Olha lá! Ele com certeza é hétero. - falava apontando descaradamente para o loiro apoiado no batente da porta da sala de aula.

Hoseok era seu único amigo gay e, por isso, tecnicamente, deveria entende-lo.

- Jimin, não é porque o cara é grande que ele tem que ser hetero. Você, mais do que ninguém, deveria saber que não é o físico que define a sexualidade. Ou você 'resolveu virar gay' por causa dessa sua bunda maravilhosa?

Hoseok riu e beliscou a mesma, fazendo com que o outro desse um gritinho e, em seguida, gargalhasse, chamando a atenção de todos no corredor da faculdade, inclusive do tema da conversa. O mais novo então corou fortemente e correu para a sala, mais para evitar que o hyung o forçasse a tomar uma atitude do que qualquer outra coisa.

Foi depois disso que percebeu que seus rótulos não era nada práticos. Tudo bem que evitava alguns foras e talvez até mesmo situações mais constrangedoras ou mesmo de violência (muitos "machões" se achavam no direito de se sentirem ofendidos quando sabiam que um homem estava interessado neles), mas as oportunidades perdidas faziam com que não valesse a pena. Porque, naquela mesma semana, quando já havia se convencido que o seu crush por Jackson Wang não o levaria a nada, o loiro apareceu aos beijos com um cara. Um cara! Jimin não conseguiu deixar de admirar sua coragem. Eles estavam na Coréia do Sul! Se demonstrações de afeto em público já eram um tabu, não há nem o que falar sobre homossexualismo.

Sempre achou essa homofobia um tanto quanto irônica pois nunca ouviu falar de um país onde os homens se tratassem com tanta intimidade, ao mesmo tempo em que eram tão frios com as mulheres. Às vezes se sentia até mesmo incomodado. Não é nada legal quando você está afim do seu amigo e ele insiste em te abraçar pela cintura, e ainda por cima fica se esfregando em você.

Não há gays na Coréia. É o que muitas vezes ouviu. Mas não é porque você se recusa a ver uma coisa que ela deixa de existir, não é mesmo? Mesmo assim ele continuava a fingir que não existia. Como que ele não teria medo de se assumir? Não queria experimentar aquele olhar de nojo das pessoas, principalmente se viesse de sua família. Não adiantava dizer que não se importava, todo mundo se importa no final. E de qualquer forma tinha a impressão de que todos, de alguma forma, já sabiam, então ele não tinha nada o que contar.

Foi por estarem na Coréia que não pode evitar a cara de surpresa quando o homem mais bonito e, segundo Jimin, o mais hétero da faculdade, beijou o fofo calouro tailandês na frente de mais ou menos umas cinquenta pessoas. Demonstração de afeto em público e homossexualismo.

- Deve ser porque ele é chinês - Hoseok cochichou.

- O que isso tem a ver? A gente ainda tá na Coréia do Sul. E na Ásia é tudo a mesma coisa. - retrucou, com um pouco de raiva.

- Ciúmes, frustração, arrependimento e, talvez, um monte de inveja. - o mais velho diagnosticou, deixando Jimin apenas ainda mais irado.

Depois desse episódio, já antigo mas que ele não conseguiria superar tão cedo, tentou ao máximo não colocar os malditos rótulos, mas ainda era mais forte que ele. Simplesmente seria muito mais fácil se as pessoas usassem algum símbolo para indicar a sexualidade, como as alianças mostrando compromisso.

Então, quando viu o cara alto no metrô ( e, não, chamá-lo de alto não era rotula-lo, porque ele era alto pra caramba e ponto) tentou ao máximo afastar o tal primeiro pensamento. Não porque ele tivesse lhe interessado de alguma forma ou algo do gênero, mas é que esse tipo de coisa havia passado a lhe incomodar. Mas a segunda coisa que pensou foi, com certeza, bem menos gentil.

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Essa shortfic é pra ArrozCastanha, a pessoinha com os melhores bias.

Tava nos rascunhos a séculos, mas a insônia me fez postar sem capa, sem correção e sem sinopse decente

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⏰ Última atualização: Jul 26, 2017 ⏰

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