Josh

21 11 2
                                    

''O jogo Reta Final da empresária Alana Mitchell, já é um sucesso em sua primeira semana de lançamento experimental. Jovens de todo o país estão sendo sugados para essa incrível viagem...''

Era assim que a matéria começava no jornal, mas eu nem dei muita importância. Eu estava mesmo era ansioso para jogar. Eu nem acreditei quando, ao voltar do colégio, vi o pacote sobre a mesa com um bilhete ao lado, dizendo que eu havia sido um dos escolhidos para experimentar o jogo. Até imaginei que fosse uma brincadeira, já que nem tinha levado à sério quando escrevi meu nome na lista. Nunca imaginei que alguém do meu lado da cidade pudesse ser escolhido, muito menos eu. Essas coisas sempre foram prioridade para o outro lado. Mas, quer saber? Que se dane, eu havia sido escolhido e era isso o que importava.

Cumpri com as minhas obrigações, desejando que as horas passassem depressa para que eu pudesse me sentar e jogar.

Naquela manhã eu tinha ouvido alguns dos meus colegas de classe comentando que haviam recebido o jogo antes mesmo de irem para o colégio. Eles também tinham ficados surpresos. Todos nós achávamos que, mais uma vez, do nosso lado, ninguém seria sorteado para receber o jogo, como nos jogos anteriores.

***

— Hora de dormir, Josh. — Minha mãe apareceu na soleira da porta.

— Já vou, mãe — Respondi, vidrado na tela da TV.

— Anda, Josh — ela insistiu. — Se descobrirem que você ainda está acordado, poderemos ter problemas.

Bufei, sabendo que minha mãe tinha razão, mas eu não queria parar. Ainda não havia encontrado a saída.

— Só mais cinco minutos, mãe. Prometo — tentei barganhar.

— Apenas mais cinco minutos.

Ela respondeu e saiu da sala.

Joguei por mais exatos cincos minutos, sem sucesso em encontrar a saída. Então, eu salvei o jogo e desliguei os aparelhos. Ao apagar as luzes da sala, me senti atordoado e em questão de segundos, tudo escureceu ao meu redor.

***

As luzes se acenderam, mas eu já não estava no mesmo lugar.

— Mas o quê...

— Bem-vindos ao Reta Final. – Uma voz robótica me interrompeu. – Nós temos o prazer em anunciar que o maior e o melhor jogo da atualidade, finalmente virou realidade. Reta Final, tem apenas um objetivo: escalar os melhores jogadores para continuar no nosso mundo. Os perdedores serão encaminhados ao exílio, lugar escolhido para viverem até então. Atualmente nós temos três jogadores no campo. Vocês terão 30 minutos para encontrarem a saída. Reta Final e toda a sua equipe, desejam boa sorte aos jogadores.

Esperei mais um pouco, para ver se ela falava mais alguma coisa.

Nada!

Comecei a observar bem o lugar em que eu estava. Era igualzinho ao jogo.

Algumas casas antigas, um chão com vários buracos no cimento e, várias pedras. Parecia uma reforma da prefeitura. Aquela em que os encarregados da reforma jogam apenas uma camada de massa, pedras e, pronto. No lado onde eu morava acontecia muito isso.

Uma sacola estava jogada no chão. Fui até ela e virei tudo o que tinha dentro no chão: armas, uma espada, cordas, um relógio, uma câmera, um canivete e um isqueiro.

Ainda confuso e desnorteado, peguei a Szabla*, com uma lâmina mais fina, ela era uma versão mais moderna da antiga. Não sabia se ficava excitado por ter ela em minhas mãos, ou com medo.

Mas eu não precisava ter medo, pensei. Aquilo era somente um sonho. Eu tinha ficado tão animado com o jogo que acabei sonhando que estava dentro dele. Que coisa mais maluca.

Bom, se aquilo era mesmo um sonho e eu tinha 30 minutos para encontrar a saída, isso queria dizer que eu estava encrencado. Havia passado pelo menos duas horas tentando encontrar a saída do jogo, e, claro, falhado. Porque eu imaginava que conseguiria encontra-la em 30 minutos?

Josh, isso é somente um sonho, tornei a pensar e, já que era um jogo dentro de um sonho, eu iria jogar. Se as coisas ficassem ruins eu iria acordar, certo?

Peguei o canivete e uma das armas e comecei a caminhar, e a paisagem não mudava, igualzinho ao jogo. Eu não sabia quanto tempo havia se passado. Porque eu não peguei o relógio? Josh, você é muito burro!

Parei um pouco para tentar pensar em algo, sem enlouquecer. O fato de você andar e nada mudar, é aterrorizante.

Ainda de cabeça baixa e com as mãos apoiadas nos joelhos, percebi um estranho movimento na minha frente. Uma criatura esquelética, grande, muito grande, estava bem na minha frente. O medo me travou. A criatura mexia seus braços, mas ainda assim não tocava em mim. Era como se ela fosse um fantoche e, que em algum lugar, algum a controlava.

Coloquei as mãos no rosto e, já sem esperanças de sair dali vivo, esperei o ataque dela. Mas nada aconteceu. Retirei as mãos do rosto e, a tal criatura já não estava mais ali.

De repente, como se tivesse brotado do chão, apareceu um garoto com os cabelos claros, parecendo assustado. Ele veio em minha direção.

— Pensei que estivesse sozinho aqui. — Ele falou, com o rosto contorcido. Ele parecia assustado. — A gente precisa sair daqui, cara.

Eu não disse nada.

— Isso não é um sonho, não é?

— Claro que não! — Ele respondeu, como se aquilo fosse obvio.

— O que foi que aconteceu, então? Como entramos aqui?

— Isso é o de menos. Agora, precisamos sair daqui. Nós não temos muito tempo — Ele apontou para o relógio.

— Que horas são?

— Meia-noite e vinte e cinco. Pelo que parece, nós entramos aqui juntos. Isso significa que temos quinze minutos para encontrar essa saída.






*É semelhante a um sabre, com uma lâmina curva e em muitos casos, com duas lâminas semelhante a uma pena.

Reta FinalOnde histórias criam vida. Descubra agora