2Almas 1Coração (5/Romance/fantasia)

Capítulo 10.1 - Neve?

Dorian...

Levanto da cama me arrastando e cuido para não acordar Agatha, eu deveria ir embora agora mesmo, mas não consigo. Olho ela dormir, sorrio ao lembrar de mais cedo, mas não menti, eu estava com frio e o calor do corpo esquenta mais que as cobertas, ainda mais se cheirar a canela.

- Nossa como tá frio. - vou até a lareira e reforço o fogo. Coloco água para ferver para fazer café. Volto e paro do lado da cama, Agatha se enrolou de tal maneira na coberta que parece um enlatado, seguro a risada e olho para fora da janela.

- Não acredito nisso. - digo alto.

- O que? Como? - Olho e Agatha já esta sentada na cama.

- Isso é um absurdo. - Aponto para fora da janela. - É o fim do mundo.

- O que aconteceu? Esta caindo fogo do céu? - olho para ela. - Deixa eu ver. - Agatha se põem em pé ao meu lado e olha pela janela.

- Neve?

- Não.. chantilly. - Digo revirando os olhos.

- Chantilly? - ela me olha séria. Jogo as mãos para cima.

- Tá explicado o frio. - visto mais um casaco.

- Não sabia que chantilly precisava de frio e caia do céu. - ela se senta na cama. Encaro seu rosto.

- Você é burra ou o que? - ela revira os olhos.

- Dorian... vai fazer café... vai. - ela diz e veste um casaco.

- Você acreditou mesmo que isso é chantilly?

- Claro... que não.. to tirando uma palha da sua cara. - ela cai sobre a cama rindo.

- Seu anjo desgraçado. - corro e pulo na cama, caindo em cima dela.

- Ai.. Dorian... sai. - ela diz tentando se soltar de mim.

- Não saio. - digo e encaro seus olhos. Ela me mostra a língua.

- Não faz isso. - digo sério.

- Se não o que? Vai me bater? - ela consegue se soltar.

- Eu estava brincando.. não precisa ficar bravo... vai joga um pouco de neve na cabeça para ver se esfria.

- Você me deixa louco agindo assim. - Eu não entendo o comportamento de Agatha, achei que anjos fossem mais sérios, ela parece ser séria em muitas ocasiões, mas já mostrou ser alguém que gosta de pegar no pé e humorada. Na maioria das vezes que começamos um diálogo, acabamos sendo irônicos e rindo depois. Ela consegue passar alegria, mesmo agindo de forma rude, às vezes. Seu jeito me atrai, uma porque não tem medo de mim, mas sinto que não se acha superior, ela me trata por igual, parece me entender. Estou confuso, muito confuso.

- Dorian. - ela passa a mão sobre os meus olhos, fazendo eu despertar. Pisco algumas vezes. - Você ta bem?

- To. - digo rápido.

- Então acaba logo esse café... por que se continuar sonhando assim, a água vai evaporar toda, se já não evaporou.

Ia retrucar, mas ela entrou no banheiro.

- Aff... esse anjo.. acha que sou empregada dele. - acabou de preparar o café.

- Vejam só o príncipe sabe fazer café. - Agatha diz se servindo de café e começa a tomá-lo.

- Sei fazer muito mais coisas do que você imagina. - Agatha se afoga.

- Que coisas?

- Quer mesmo saber? - digo com olhos curiosos e um sorriso safado.

- Não mesmo. - ela nega com a cabeça e volta a tomar o café. - Você esqueceu da canela. - ela diz e coloca canela em pó sobre o café.

- Você realmente gosta de canela. - sorrio. - Todos os anjos são viciados em algo?

- Não. - ela diz. - Eu goste de canela.. só isso.

- Ouvi rumores de um anjo viciado em chá e outro em café. - Agatha apóia a xícara na mesa e começa a rir.

- O que foi?

- São Kaliel e Josuel.

- É verdade mesmo? - eu achei que aquele demônio estava tirando sarro da minha cara.

- Sim, Kaliel é viciado em chá, mas não tanto quando Josuel por café, acho que Josuel é movido a café. - ela ri alto.

- Deve conhecer eles bem?

- Sim, são meus melhor amigos.

- Amigos?

- Sim... a-m-i-g-o-s... são como irmãos. - sinto inveja, mas ela até soletra a palavra amigos para deixar bem claro.

- Mas espera... Kaliel não morreu? Ouvi dizer que Muriell o matou? - ela fecha a cara.

- É verdade.- ela não me olha mais, encara suas mãos segurando a xícara com força. - Eu o encontrei, pouco antes dele... - ficamos em silêncio.

- Você já sabe demais de mim... quero saber de você.. como virou um demônio? - Agatha muda de assunto rápido.

- É uma longa história.

- Bem.. esta nevando.. acho não vamos conseguir sair daqui hoje.

- Eu fui entregue como sacrifício para a rainha do inferno, meus pais me mataram ainda bebê.

- Que horror... mas isso era meio que comum acontecer, faz muito tempo?

- Sim, muitas décadas.

- Então o inferno está cheio de príncipes e princesas?

- Não.

- Imaginei.

- Como? - estou confuso.

- O comentário é que a rainha mata ou joga de lado os humanos que recebe em sacrifício, faz eles de seus escravos... você é um escravo dela?

- Não... ela não manda em mim.

- Fiquei confusa.

- Eu sou o único príncipe, não sei por que ela me tratou diferente, sou o único herdeiro, se algo acontecer com ela, eu assumo o inferno.

- Estou diante do futuro rei? - ela arregala os olhos.

- Sim. - digo me gabando, eu ainda vou ser o rei.

- Sua majestade o rei Dorian. - ela para de falar, parece que teve uma ideia. - Isso seria interessante. - ela sorri de lado.

- O que?

- Um anjo tendo um papo tranqüilo com o rei. - começo a rir.

- Tenho cara de rei? - digo fazendo a melhor posse.

- Não.. e também não seria um bom rei.

- Com? Acha que eu não seria um bom rei. - digo a encarando.

- Já viu um rei do inferno bom? Bem.. vou manter distância de você. - ela diz e sorri, me provocando mais uma vez.

- Não vou sair do seu pé. - digo cerrando os olhos.

- Se você não sair do meu pé, vai se tornar um rei bom.

- Eu acho que está enganada.. posso ser educado com você, mas isso não diz que não posso ver cruel com os outros. - a encaro, ela sustenta o meu olhar.

- Acho que vou ter que admitir... você pode ter razão. - ela diz levando a xícara a boca. - Mas não quero testar isso.

- Mais cedo ou tarde, vai me ver sendo o rei do inferno. - digo ficando de pé com as mãos na cintura.

- Eu não vou te visitar no inferno. - ela diz e come algumas bolachas sobre a mesa. - Eu nem posso entrar lá.

- Se for assim não vou te visitar no céu. - digo e como algumas bolachas também.