Capítulo 11

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  • Dedicado a Vera Lucia
                                    

Demorou uma semana para que a criada de Daniela retornasse aos seus afazeres domésticos, mas a senhora não se importou.

Enquanto a criada estivera se recuperando, a ama passara a maior parte do tempo pensando nos preparativos para o baile, e, com isso, conversara muito animadamente com o marido, sabendo que agora podia chamá-lo realmente assim porque desejava e não porque era obrigada.

Entretanto, agora que tinha que cuidar dos próprios negócios e que o período de lua-de-mel tinha passado, Afonso encontrava-se mais atarefado do que nunca e quando chegava em casa, tarde da noite, encontrava Daniela dormindo encolhida na cama, sem se trocar, com milhares de camadas de roupas e ele instantaneamente sabia que ela tinha tentado ficar acordada esperando-o porque estava com o livro que ele lhe dera aberto no peito. Isso causava duas reações distintas no cavalheiro: alegria, pelo fato de ela tê-lo tentado esperar, e remorso, por não poder aproveitar mais o tempo que tinha com a esposa. Afonso sabia que não era culpa dele, mas do sistema capitalista que o exigia o tempo todo, os impostos que tinham que pagar a Coroa e todo o conforto que ele lutava para continuar dando a Daniela, mesmo que a dote dela fosse bem substancial e poderia sustentá-la por mais alguns anos. Ele queria ter dinheiro guardado caso precisassem. Deus sabia o tempo que Afonso poderia ficar ao lado da mulher.

Frequentemente, ele se pegava observando-a mais do que gostaria. Perdia-se em pensamentos enquanto negociantes falavam com ele sobre a nova remessa de carga a ser enviada para o Atlântico. Os colegas brincavam. Faziam piadas, mas ele não se importava. Estava completamente devoto a Daniela. Faria tudo o que ela pedisse.

E, naquele momento, à luz das velas ainda acessas no quarto, enquanto tirava a gravata e o valete lhe tirava a casaca dos ombros, Afonso tinha um sorriso gigantesco nos lábios. Era sexta-feira. Ele já tinha dito aos funcionários que ficassem em casa no dia seguinte. Era sexta-feira. Um dia antes de poder passar os dois próximos ao lado de Daniela. Dois dias para poder beijá-la e mostrar a todos, no sábado, que bela dama o acompanhava.

— Obrigado — agradeceu, dispensando silenciosamente o valete com as mãos.

A água da banheira estava fria quando deslizou para dentro dela. Mesmo com o tremor que percorreu o corpo, e com a luminosidade quase nula das velas, a mente cansada e o desejo gigante que cada célula do corpo dele tinha de se junta às da esposa, ele precisava pensar.

Não por ele, claro. Ele não tinha medo de Flávia Nye. Nunca teria.

Ela era uma cafetina barata que o mimara bastante em Paris, embora ninguém a conhecesse por esse propósito na Inglaterra.

Todas as vezes que tocara a pele da moça, a despira, a beijara e a tomara como mulher nos quartos escuros impregnados com o cheiro de colônia barata fora para esquecer Daniela. Mas nunca resultara em nada. Como poderia?

Ele riu de si mesmo.

A garota que beijara era... Resplandecente. Flávia era Flávia.

Os anos que passara viajando acompanhado por Flávia, para que pudesse tê-la quando bem entendesse, tinham sido os melhores da vida dele antes do casamento.

Lembrou-se do momento em que dissera à cafetina que voltaria para Inglaterra. Sua expressão chocada e o modo como curvara os lábios, como gritara... Ele sabia que ela lhe causaria problemas, mas não esperava que fosse tão cedo.

Ele já defendera a esposa de um grupo de homens, poderia muito bem continuar defendendo-a, e faria isso, mas sabia que não estaria ao lado dela todo o tempo. Outras coisas já tinham acontecido quando ele não estava por perto.

Por outro lado, não queria sufocar Daniela agora que ela tinha se aberto um pouco mais para ele. Embora tivesse consciência de que fazia de tudo para que a vida da dama fosse agradável por ali, e que alguns bons meses já tivessem se passado desde que se cassaram, a mudança ainda ocupava grande parte de seus pensamentos.

It Was Always You [EM PAUSA PARA REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora