Capítulo 1 - Isolado

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          Eu sempre fui do tipo fechado. De um semblante amargurado e vivia sempre cabisbaixo. Trancado naquele meu espírito de "pobre coitado". Não queria e nem gostava de ter amigos e, os poucos que eu tinha, eu fazia questão de ignorar. Eu me sentia bem sendo quem eu era apesar dos pesares. Minha vida era boa, apenas eu que colocava inúmeros defeitos nela. Eu queria me sentir parte da sociedade, da turma do fundão ou até dos descolados, mas eu não tinha ânimo para isso. Sempre fui o diferentão.

         Na escola eu gostava de fazer o trabalho sozinho. Não gostava de ouvir opiniões. Eu sentava na primeira carteira da terceira fileira, bem ao centro e, ficava ali viajando nas palavras que o (a) professor (a) falava. Naquela época tudo era novidade para mim. Meus poucos amigos se gabavam de ter ficado com tal garota. Faziam chacotas por eu ainda ser bv aos quinze anos, mas eu não estava nem aí, (ou estava e não queria admitir), eu gostava de ser quem eu era, (mentira, eu odiava ser assim), mas eu não conseguia mudar. Minha mãe não era do tipo conversadora. Na verdade, ela nem se importava com o meu olhar triste e infeliz.

       Meu pai, até conheci, mas, não fazia a menor questão de contar com a presença dele em minha vida, já que ele sempre se fez ausente. Minha mãe, por si só, fez o papel dos dois, mas jamais poderia me compreender já que homens têm pontos de vista diferentes das mulheres. E para piorar eu sempre dizia que estava bem ocultando dela todo o meu sofrimento interior. Eu sempre fui assim desde que me conheço. Não gostava de expor os meus sentimentos. Sofria calado. Vez ou outra eu chorava por qualquer motivo banal.

       Tenho muitas lembranças desta época da minha vida. Eu gostava muito era de acordar bem cedo e caminhar pela orla da praia. Sentir aquela brisa tocando o meu corpo. E ver aquele lindo nascer do sol. O ressoar das ondas quebrando contra as pedras eram como música para os meus ouvidos. Eu sentava numa pedra alta fechava os meus olhos e ficava ouvindo aquele ressoar. Os pios das gaivotas pairando sobre uma pequena embarcação embalava ainda mais a viagem da minha mente. Quando eu abria os meus olhos o sol já esbanjava o seu brilho intenso. O horizonte estava tomado por um azul celeste. As nuvens davam um tom atrativo. Pouco a pouco eu via pessoas fazendo suas caminhadas matinais, mas eu era muito preguiçoso para fazer tal coisa. Preferia ficar só observando e imaginando viver daquele jeito para sempre, sem preocupações.

          Eu pensava em encontrar um emprego, pois com ele, eu ficaria ainda melhor, mas a minha pouca idade, naquela época, não me permitia fazê-lo. Eu dependia exclusivamente dos trocados que a minha mãe me dava, (quando ela me dava). Poucos centavos, na verdade, que mal davam para mim comprar o lanche escolar. Os anos iam se passando e eu ainda estava preso ao meu mundo interior. Aquele mundo mágico, do qual, eu não queria nunca ter saído. Ser depressivo tem suas vantagens quando você tem o controle sobre as suas emoções. Eu me sentia triste, mas eu sabia que só dependia de mim mudar aquilo. Nenhum remédio faria efeito.

          As poucas amigas que tive me iludiam constantemente. Fazendo suas juras e depois me apresentando um belo punhal certeiro no meu coração. Se bem que eu já estava acostumado com isto, mas isto ainda me doía. Eu não era um ser de ferro, afinal. Tinha os meus sentimentos reprimidos e, por vezes, suprimidos de mim. As que me conheciam bem sabiam da minha "necessidade", mas também não queriam me dar falsas esperanças. Eram sinceras e diretas. O meu coração era tão mole que se uma garota me desse um simples "oi" eu a considerava como minha pretendente. Quantas vezes eu me frustrei e sofri por assim pensar. Quantas vezes me peguei chorando pelos cantos imaginando ser o único garoto a não ter ninguém ao meu lado. Mas, eu mesmo me colocava naquela situação. Eu não queria encarar o mundo. Sempre quis que as coisas acontecessem da mesma forma como acontecem em novelas e filmes. Eu sonhava que assim seria também em minha vida, mas não foi.

Viver, por si só, tornou-se apenas uma questão de hábito. Acordar, ir para escola, tomar banho, fazer os deveres e ir dormir. Tudo era roboticamente controlado. A minha vida era só isso mesmo. Poucas vezes eu me divertia e quando isto acontecia, logo minha mãe me chamava, pois já era tarde para eu estar na rua (07 h :00 min da noite). Havia momentos em que eu queria mesmo era pegar as minhas poucas coisas e sumir. Talvez se eu tivesse dinheiro, naquela época, eu certamente o teria feito. Minha adolescência foi quase que totalmente vazia e solitária. Ninguém me dava atenção. Eram poucos os que eu podia considerar "amigos". 

Sobre a minha adolescênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora