11. Bruna - Sexta-feira é o dia mais feliz da semana

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Sexta-feira é o dia mais feliz da semana. Quando eu vejo o André entrando na sala de aula já me dá logo uma coisa. Um calor. Um desespero. Ai meu Deus que cara gato! Eu simplesmente não acredito que vão acabar com a minha alegria.

Ele é professor de Sociologia, mas é substituto. Ou seja, quando nós voltarmos das férias, alguma professora sem graça vai assumir a disciplina e sexta vai voltar a ser mais um dia tedioso nessa escola.

A-do-ro olhar para ele. E, para minha felicidade, nós já trocamos uns beijinhos. Lindo e gostoso. Safado do jeito que tem que ser. Ele te pega de uma forma que é de tirar os pés do chão. Ele sabe fazer. Embora não tenhamos feito, eu sei que ele sabe. Seu sorriso diz tudo. Delícia de homem. Ah lá em casa...

─ Bom dia, pessoal!

Que voz! Que bunda! Que homem é esse, meu Deus!

O único defeito é que ele insiste em dar aula. Eu quero mais é que sociologia se exploda com todas as matérias. De problema social eu já tive minha cota. Muito obrigada! Tô passando. Além disso, infelizmente, André segue a risca as regras da escola: não fica com alunas. E olha que o que eu tentei não é brincadeira. Tenho o telefone dele. O e-mail. A placa do carro. Cópia da fatura do cartão de crédito. O endereço do analista.

Dou um mole desgraçado. Não nego. Concorrência grande. A sala está lotada de balões, faixas de "melhor professor do mundo", salgadinhos e refrigerantes. A mulherada se organizou geral para a despedida. É como eu sempre digo: camarão parado a onda leva. Por isso, corri para o abraço. Tasquei um beijão no rosto dele. As outras enxeridas vieram logo atrás. Só quem ficou sentada foi a Milena, que por um acaso é a minha futura cunhadinha, e a metida da Mariana. Os dois se conhecem a tanto tempo que são irmãos por tempo de serviço.

Duas a menos para competir com Bruna "Delícia" Drummond. Sem problema, eu deixo mesmo as outras no chinelo. Que cara não vai querer agarrar esse corpitcho? Quanto mais um cara assim como um André. Ele é como eu, dá para ver, muito mais corpo do que coração.

─ Gente, sinceramente, agradeço o carinho e a dedicação de vocês, mas... – As meninas começaram a fazer carinha de zanga. Ele não curtiu a ideia da festinha e continuou sério. – Vocês sabem muito bem que fiquei de passar esse filme para vocês e hoje é a última oportunidade antes da prova.

Boa parte das meninas da sala o acompanha enquanto ele vai apagar a luz. Demoro a sentar, espero para ver onde ele vai ficar. Ele senta numa cadeira vazia no fundo da sala. Imediatamente me levanto para sentar do seu lado. Ele faz um sinal para que eu fique no meu canto. Essa mania chata de dar aula de novo!

O jeito é assistir. Filme péssimo. Capitães de Areia. Detesto filme que tem pobreza. Acho tão bonita essa mania que gente rica tem de falar de gente pobre, de olhar para gente pobre como se fosse bicho exótico de zoológico, como se todo pobre fosse um caso para ser analisado. Rico adora. Tanto que só ganha Oscar filme triste, filme de miséria, de pobreza. Parece que assistir às misérias humanas diminui a culpa que eles sentem de serem ricos e, na vida real, não fazerem nada por ninguém.

Eu já estava agoniada com aquela coisa toda. De repente, o projetor começa a falhar. Dei graças ao Senhor quando isso aconteceu. Tomara que fosse perda total do CD. Mas, infelizmente, não era pane no aparelho. Era uma surpresa preparada para a Mariana.

A Mariana, ora! Me poupe. Uma música antiga começou a tocar e umas fotos de criança começaram a aparecer na tela. André, Milena, outro rapaz chamado Vini e Mariana. Na verdade, eram mais fotos de André e Mariana. Todo mundo fazia ooooh! Que baboseira!

Não me dei ao trabalho de esperar pela conclusão dessa cena. Nunca imaginei que o André, justo o André, fosse um babaca apaixonado. E logo por quem? Pela Mariana. Que é uma que nem vai saber dar valor. Um verdadeiro desperdício. Perdi o tesão.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora