─ É agora que você me explica o que está acontecendo, Bruninha? – Eu tinha o seu rosto entre as minhas mãos, mas ela ainda desviava o olhar.
Estava sentada no vaso sanitário do banheiro feminino da academia. Chorava tanto que me deu logo um aperto no coração. Detesto quando as mulheres choram. Acho que algo no nosso inconsciente primitivo reage às lágrimas delas. Eu sempre fico angustiado.
Bruna, pelo que eu conhecia até agora, não tinha nada de frágil. Pelo contrário, oscilava entre ser um furacão derrubando tudo e todos pelo seu caminho e uma fortaleza de vontade irrefutável até diante do mais ardiloso inimigo. Nesse momento, entretanto, ela parecia uma menininha. Os olhinhos estavam apertados e ela fungava. Sem falar que a sua voz não passava de um muxoxo.
O pessoal da academia fez o que pôde. Está todo mundo muito feliz aqui por causa da apresentação. Ontem, a galera ficou me ligando até tarde da noite. Sei que prepararam uma surpresa para ela, um buquê de rosas, uma recepção. Eu tinha marcado de comparecer também, mas os preparativos no escritório e a finalização da obra me atrasaram.
Quando eu cheguei aqui o circo já estava armado. A Tici da recepção correu para me chamar. Já estavam desesperados por ajuda. Bruna estava chorando fazia mais de quarenta minutos.
Tici me avisou que começou com a dita homenagem. Ela entregou as rosas e estava tudo bem, mas assim que mostrou um cartaz com os recortes das reportagens de jornal com as notícias sobre nós dois, Bruna começou a soluçar e correu para o banheiro e de lá não saiu mais.
Assim que eu entrei, ela abriu a porta do reservado e me disse qualquer coisa que não entendi. Depois se abraçou comigo, molhando minha camiseta com as suas lágrimas. Os cabelos dela desciam feito cascatas pelos meus ombros enquanto soluçava. Eu não sabia o que fazer. Estava preocupado. Ela tremia.
Perguntei umas dez vezes o que estava acontecendo sem resposta. As pessoas ao me redor estavam nervosas querendo saber qual era o problema. Resolvi ser enérgico. Pedi que todos nos deixassem a sós. Senti que isso acalmou Bruna.
Eu a ajudei a sentar no sanitário novamente. Acariciei seus cabelos. Tomei seu rosto entre as mãos, perguntei novamente da forma mais carinhosa possível o que estava acontecendo e finalmente ela me pareceu em condições de responder.
─ As críticas... – Soluçava. – As críticas foram horríveis.
Confesso que não tive tempo de ver as notícias sobre a apresentação de ontem. Mas, depois da declaração de Marquinhos da Cruz, o famoso coreógrafo das estrelas, elas não poderiam ser assim tão ruins. Bruna me passou o cartaz preparado pelas meninas da recepção.
Li as manchetes procurando o que poderia ter deixado minha parceira tão arrasada. Só encontrei títulos favoráveis: "Bruna arrasa na estreia do Dança", "Quem é esse cara com Bruna Drummond?", "O casal mais estonteante da noite".
─ Bruna, não estou vendo nada de ruim aqui...
Ela se levantou e apontou uma notinha no canto de uma página. Havia uma foto enorme nossa. Ela estava deslumbrante. Mas, realmente, depois de uma enxurrada de elogios, a jornalista fazia uma menção às celulites de Bruna.
Não acreditei que aquele escândalo todo era por causa daquela estupidez, aquilo me deu uma revolta. Tanta coisa por fazer, tanto trabalho dentro e fora da academia e nós aqui perdendo tempo por causa de um chilique de artista. Fora a preocupação de todo mundo lá fora.
Respirei fundo para não ser tão ríspido quanto eu tive vontade de ser. Fui apenas seco.
─ Bruna, eu vou sair deste banheiro agora. Você tem vinte minutos para lavar esse rosto e me encontrar na sala. – Coloquei meu relógio no cronômetro. Ela ouviu o clique. – Eu espero que no final deste tempo você esteja lá, mas se isso não acontecer, pode ligar para a sua agente e pedir outro professor para você.
─ Kadu...
─ Ou você me encontra, ou eu estou fora.
***
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Por Onde Andei
Ficção AdolescenteNo quarto volume da série Nando, pela primeira vez, temos a visão simultânea dos dois protagonistas: Bruna e Carlos Eduardo. Ela, atriz desde menina, não está acostumada a confiar nas pessoas. Resolve os seus problemas a sua maneira, nem sempre acer...