15. Bruna - Eu quero mais é que esse cretino vá para a puta que pariu!

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Eu quero mais é que esse cretino vá para a puta que pariu! Como é que ele se diz meu parceiro e age dessa forma? Como se eu estivesse dando um chilique qualquer. Ele não se importa com os meus sentimentos. Não se importa com toda essa pressão em cima de mim. Ele só pensa nessa academia horrorosa.

Carlos Eduardo é uma idiota! Um egoísta! Um sacana! Claro que ele nem se incomodou com a reportagem. Só tem palavras doces para o "cometa de olhos azuis que levou Bruna Drummond às estrelas", "o rapaz com o tigre nas costas que atraiu todos os olhares femininos", "o príncipe da malandragem que roubou corações no palco". E eu que me ferre. Grandessíssimo parceiro.

Eu poderia estar perfeita naquele palco que não teria o reconhecimento merecido. É sempre assim, a mulherada malha, estuda, sofre na mesa de depilação, no salão, na dieta. Eu me rasguei em duas para mostrar a imagem que queria. Estou cheia de hematomas e arranhões depois de ensaio em cima de ensaio.

Entretanto, no que é que as invejosas reparam? Em algo que elas acham ser uma celulite. Por quanto tempo eu serei apenas um pedaço de carne? Por quanto tempo o meu corpo será mais visível que o meu talento? Tem horas que eu queria que o tempo passasse depressa e eu me tornasse de uma vez uma velha diva cansada, cheia de rugas e cara respeitável. Quem sabe assim eu possa mostrar algo mais do que um bumbum para os meus fãs.

Mas é claro que o meu instrutor não faz ideia de como eu me sinto quando isso acontece. Ele nem liga para a aparência. Provavelmente nem se olha no espelho antes de sair de casa. Talvez não tenha nem percebido como a mulherada adorou o visual do domingo. Carlos Eduardo não tem a menor ideia do que é viver nesse mundo. Mas também não custa nada demonstrar um pingo de simpatia.

Quer saber, vou ligar para Daniela. Vou pedir para ela arranjar outro instrutor. Não estou com a menor vontade de ficar ouvindo sermão de colega de classe. Se ela não conseguir, vou mandar tudo para o espaço. Não vou me sujeitar às vontades desse cara. Eu sou assim, não me submeto e pronto.

Refiz meu rabo de cavalo, lavei o rosto, respirei fundo. Estava nervosa e demorei a encontrar o celular na bolsa. Felizmente, nada me faz recobrar o juízo tão rapidamente quanto uma boa briga. Liguei para a minha agente.

─ Dani, quero que você arranje outro instrutor de dança para mim. Não suporto mais esse cara.

─ Alô? Bruna? Está tudo bem, querida? Eu preciso que você se acalme, ok? Ele fez alguma coisa com você? – Daniela estava preocupada comigo, essa sim era quase uma amiga. Quando queria, é claro.

─ Ele está me dando ordens. Está me dizendo o que tenho que fazer.

─ ... – O silêncio do outro lado da linha me irritou.

─ Daniela, você está me ouvindo?

─ Estou, querida, mas peço que você se acalme antes de tomar qualquer atitude precipitada.

─ Você está do lado dele? Não ouviu o que eu disse. Ele está me dando ordens aqui. Você sabe que eu não recebo ordens de ninguém que não esteja me pagando um cachê.

─ Bruna, detesto te decepcionar, mas é exatamente isso que os professores de dança fazem. Eles nos dizem o que devemos fazer. – Ela entrou no seu tom de voz sério. – E, por mais que você não suporte admitir, esse menino é inacreditavelmente bom. Vocês estavam espetaculares ontem.

─ Você não entendeu... – Tentei argumentar, ela me interrompeu.

─ Sabe o que eu entendi, Bruna? Eu entendi que três diferentes marcas importantes ligaram para o meu escritório logo cedo querendo você para representá-los. Preciso dizer mais alguma coisa para te convencer a engolir esse orgulho, colocar a sapatilha e voltar para a sala de dança?

Daniela sempre conseguia me convencer com argumentos claros. Passei batom. Respirei fundo. Saí do banheiro.

─ Olá, Bruna. – Ele me recebeu com o sorriso mais falso do mundo. – Pronta para um pouco de Rock?

─ Prontíssima!

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora