Os Opostos

41 2 1
                                    

   A noite estava fria, principalmente do terraço, lá em cima o vento corria de uma maneira forte, fazendo meus cabelos longos castanhos claros , quase um tom de ruivo voarem pelos meus ombros. A garrafa de whiskey que eu possuía estava praticamente vazia. Lá de cima, Gotham parecia tão linda, um mera mentira, tinha tantos pontos de luminosidade diferentes, cada ponto com sua história, sua vida, sua luz... uma luz que em mim já havia se apagando a muito tempo. Chegando perto da beirada, não pude deixar de sentir um arrepio na minha espinha, uma voz na minha cabeça se perguntava se realmente era o certo, todavia era só pensar no motivo de eu estar aqui, a razão do meu viver, e a voz se calava imediatamente. Olhei mais uma vez para baixo, tomei o último gole do meu whiskey e joguei ele com força no chão do terraço, vendo ele se quebrar em bilhões de pedaços, parecia-se com a minha alma no momento. Aproximei-me mais da beirada, me aproximando de uma queda de 50 andares, que parecia cada vez mais convidativa. "É agora ou nunca!" penso, viro de costas, respiro com força e me jogo na escuridão.
    A sensação é boa, o vento corta meu rosto com força. Dizem que quando você está pra morrer sua vida passa pelos seus olhos, apenas mais uma das milhares de mentiras do Ser-Humano, já que meu único pensamento é meu amado filho, Dylan, que foi injustamente tirado de mim tão cedo.
   Finalmente decido fechar meus olhos e aguarda o impacto, quando algo, na verdade alguém, simplesmente para a queda. Foi como magia. Eu abri meus olhos, e foi como se eu estivesse voando nos braços de alguém. " Será que foi um anjo? "
    Após o " voo " ele aterrisa graciosamente no terraço de algum outro prédio. Assim que fui solta, pude finalmente observar meu " anjo " , devo dizer que chamar-lhe de bonito é pouco, ele é alto, musculoso, não em excesso, vestia um uniforme totalmente preto com o símbolo de um pássaro azul no peito, seus cabelos são pretos como está fria noite e seus olhos estão cobertos por uma máscara.
-Por que você pulou?- ele me pergunta com uma voz mansa porém séria ao mesmo tempo, uma voz que me causou calafrios.
-Não interessa a você!- falei  rudemente, não queria admitir que eu era apenas uma reles covarde, que quer acabar com a vida para parar a sua interminável dor. Ele me encarou sério, soltei um suspiro desistente.
- Eu só quero que a dor acabe!- com apenas essa simples frase, minha pose de durona se desfez, lágrimas começaram a rolar sem meu consentimento, a dor me tomou por completo, comecei a chorar tudo o que me afligia.
- Essa dor, eu não consigo me lidar com ela! Não quero viver em mundo sem ele! Eu odeio todos! - cuspi cada palavra. Eu estava engasgado com o choro e a raiva. O herói na minha frente assumiu uma postura mais leve, quase trágica.
  -Quem você perdeu?- sua voz aveludada planou em meus olvidos novamente.
  -Meu filho! Eles o tiraram de mim! Ninguém fez nada!
  -Quem?
  -A polícia, vocês...- dei uma pausa por culpa de um soluço- eu não consigo... Eu não consigo!- tentei correr de volta para a beirada do prédio, porem ele foi mais rápido e me segurou, me debati, inutilmente, ele era bem mais forte que eu. Seu aperto forte foi substituído por um caloroso abraço, um abraço de solidariedade, naquele momento tive certeza, ele já tinha sentido essa dor, perder alguém importante. Meus joelhos cederam, nois dois fomos ao chão ajoelhados, ainda em um abraço.
  - Quem você perdeu?- minha voz saiu embriagada de choro.
  - Meus pais... assassinados... - ele respondeu, sua voz... ele estava quase chorando também.
   Quando digeri suas palavras, me senti um lixo! Ele havia perdido os pais, e usou isso de inspiração para ajudar pessoas , já eu usei isso como desculpa para me afundar, e me destruir aos poucos.
   - Eu o quero de volta!- lastimei.
  - Eu também, mas isso não os trará de volta. Nem a sua morte, você acha que seu filho iria querer isso?- Ele indagou. Não... ele não iria querer. Aproximamos nossos rostos, pus minha mão em sua máscara, ele não se opôs, e a removi. Azuis, essa era a cor de seus olhos, ou devo dizer oceanos. Nossos rostos estavam cada vez mais próximos, até que a distância foi completamente cortada por ele, seu lábios encaixavam- se perfeitamente nos meus. Este beijo foi como se eu tivesse encontrado uma parte perdida da minha alma, estávamos interligados por meio da dor , um laço triste, porem um dos mais fortes, nois estávamos em uma trágica dança, onde não há vencedores e sim, sobreviventes a um vazio interno, que nos consome aos poucos, até a destruição total.
   Acho que ele realmente é um anjo, um anjo com uma máscara, o oposto de mim. Nesses poucos minutos que fiquei com ele, vi uma luz, uma luz que ofuscou minhas trevas.
Dois opostos complementares.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: May 09, 2017 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

An angel with a maskWhere stories live. Discover now