Prólogo

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O gabinete colorido mas frio, já não era tão assustador. As conversas já fluiam e alguns risos já eram trocados entre mim e Mel, a minha terapeuta. Já tinha começado as sessões à cerca de 2 semanas e meia, ou seja, mais ou menos desde o meu regresso aos Estados Unidos.

Olhava agora pela janela que cobria quase uma parede inteira do gabinete, com vista para a cidade. O prédio enorme ficava mesmo no centro, num andar bem alto, entre o andar da firma de advogados onde trabalha o advogado do meu pai, que eu já conhecia, e um andar com vários escritórios de pessoas que trabalham por conta própria. 

O nono andar daquele prédio era o da terapeuta que trabalhava com várias crianças e jovens por dia, todos eles bem traumatizados. Foi por isso que não me dei logo bem com ela, não queria admitir que estava magoada, que era só mais uma rapariga traumatizada por uma infelicidade da vida, mas felizmente os dias de bloqueio emocional pararam, e sabia bem ter alguém com quem falar sem ter que fingir que estava sempre ce por cento bem, e saber que ela me ia entender e nunca me iria julgar. 

Os exercícios que ela mandava para casa já não pareciam tão bizarros, tão estúpidos, e eu já os fazia de bom grado. Pelas minhas contas, mais umas semaninhas e estaria nova em folha, não seria mais a menina partida, despedaçada, a filha que podia ter u esgotamento a qualquer momento, ou entrar em depressão, se bem que na minha cabeça nunca corri sequer esse risco, mas a verdade é que no que toca a este caso toda a gente parece estar a fazer um bicho de sete cabeças, uma tempestade num copo de água, quando para mim, tudo isto tinha sido um acidente de percurso, algo que infelizmente aconteceu, e com o qual eu tinha que saber lidar, e não ignorar como de costume. Mas eu era só a paciente, a menina que não queria admitir que tinha problemas. 

De qualquer maneira mal podia esperar para ter que ver a mel menos vezes, se bem que criamos uma boa amizade, mas queria poder ter a minha família a achar que eu finalmente tinha o avalo médico necessário para voltar a ser feliz, divertida, extrovertida, doce e a Savannah que todos conhecem.

O céu azul não condizi nada com a parede  amarelo mostarda, nem com os blocos coloridos que estavam ao canto do gabinete. Sentei-me no meu local habitual. O sofá creme que tinha dois lugares ficava em frente ao lugar da Mel, que se sentava nu sofá da mesma cor, mas para uma só pessoa, confortável, e com dois braços largos onde ela muitas vezes se apoiava. Agarrou na sua prancha, que a ajudava a tirar notas sobre a sessão e o meu progresso. 

-Então, a escola começa já na segunda-feira, estou certa?-perguntou tentando iniciar a sessão de hoje. 

-Infelizmente... -respondi ao olhar pela janela enorme, que sempre me intrigou. Como é que eu conseguia ver toda a cidade, sem ninguém me ver a mim? Como é que daqui a cidade parecia tão insignificante, pequena, e lá de baixo eu é que carregava essas características?

-Infelizmente? porquê?-perguntou curiosa

-Porque a ideia de poder fazer o que quero quando quero vai acabar dentro de uns dias. Vão começar os testes, os trabalhos, as pessoas irritantes, e acho que o facto de ser o meu último ano de secundário não ajuda...

-Tu saltaste um ano, não foi?-perguntou -me. Eram estas as perguntas que tanto me irritavam. Ela sabia muito bem a minha ficha de paciente, tinha a minha vida estudada e imaculadamente organizada e arrumada num dos seus dossiers de cartão que estavam distribuídos por ordem alfabética na estante de pinho. 

-Sim.- Respondi com um virar de olhos. Ela já sabia que eu não gostava destas perguntas insignificantes, as supostamente era a sua maneira de me deixar á vontade com o tópico sobre o qual iamos falar, mas se ia fazer perguntas estúpidas, a minha reação não seria a melhor. Eu li sobre estas técnicas terapêuticas na internet antes de começar a ir a estas sessões.

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