Uma pessoa escora-se no canto de uma parede velha e suja, em um quarto igualmente escuro e depredado. Seus olhos são inexpressivos, até, repentinamente, sem ânsia ou animação, levantou-se.
Ele anda pesadamente até uma escrivaninha que estava ao seu lado, pega uma caneta e começa a escrever:
Meu nome é Orpheu e moro na rua Manoel Bandeira, 460, na Boa Vista, Recife, Brasil. No dia 23 de outubro de 1984 eu adormeci, e não consigo acordar.
A passagem dos dias é nublada, até o fato do tempo passar me é estranho, pois, neste quarto não há manhã nem tarde, noite ou madrugada. A única constante é a escuridão e o brilho do luar. Aquela lua sempre cheia. Sempre estática. Sempre pálida.
O sentimento de estar nesse local é o de perpétuo sono. Anestesia. Onde todos os acontecimentos são turvos à memória e tudo é indistinguível.
Um certo nível de embriaguez toma conta dos seus sentidos, onde sente-se nada. Onde existe apenas desespero e tristeza.
Este local é o Quarto, meu Quarto.
Contudo, Ele está diferente, aparenta estar desumanamente empoeirado. Ele está velho, de tal maneira, que se alguém o respirasse o seu ar, certamente adoeceria. Mas isso não é o mais inquietante já que o ato de respirar há muito me foi perdido, junto com o próprio ar.
Os objetos do quarto estão imóveis, de tal maneira, que nunca consigo movê-los.
Em uma das paredes existe uma janela. Eu sempre observei a cidade estática sobre as estrelas. A personificação do infinito nada. Penso naquela infindade de vida naquele local tão finito, apenas me levava à loucura. Inúmeras vezes pulei aquela janela. Tentando, em vão, penetrar na vastidão daquela cidade sem vida. Porém, toda vez que o fazia, ao Quarto retornava.
Em um dos cantos deste Quarto, há uma porta. Ao adentra-la, vê-se um corredor. Um corredor esguio e úmido. Nele há um tapete, tão desgastado que seu vermelho-vivo virou vinho. Plantas saem das paredes, cortando o concreto.
Ao caminhar pelo vinho do tapete, não parece haver saída. Ele é longínquo e vazio. A cada passo dado, eu sentia algo crescendo. No início não pude entender o que era, mas a toda vez que progredia pelo corredor o barulho ensurdecedor aumentava. Eram gritos. Gritos apavorados de dor e sofrimento. Cada passo dado fazia percepção dos gritos ficar cada vez mais evidente. Ao percorrer o que pareceram meses, os gritos tornavam aquilo insuportável. Eles foram ficando cada vez mais estridentes. Até que enfim, após correr por semanas, cheguei ao fim dele. Aquela luz, era divina. Talvez os gritos fossem outras almas, presas como eu. Talvez fosse apenas algo dentro de mim, tentando sair, não me importa eu finalmente pude sentir alívio, a cessão das vozes. Eu estava liberto.
Até que eu abri a porta.
E estar de volta ao quarto.
Eu passo agora a minha infinita vida correndo naqueles infinitos corredores, apenas para ter apenas uma ínfima parte daquele alívio e daquela alegria. A luz fica cada vez mais longe, fora de meu alcance. Mas eu continuarei alcançando-a. Mesmo sem poder escapar deste Quarto.
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Histórias Fantásticas De Um Jovem Depravado
Short StoryAqui eu faço a reunião de todos os meus textos. Ou seja, cada capítulo funciona como uma história não necessariamente interligada com a anterior