Você se sente como um jovem deus, Cole?
Lembro-me de quando não passávamos de duas inocentes e puras crianças. Bom, ao menos eu era inocente e pura.
Você sempre teve essa... maldade em você. Sempre se descreveu como um deus. Uma figura religiosa que merecia e devia ser cultuada, celebrada e respeitada.
Mesmo quando eramos apenas duas crianças em nossos castelinhos de cobertores, você era o rei. Se dizia o rei do seu castelo, do nosso castelo.
Logo, não seria eu sua rainha?
Não. Porque você sequer era um deus ou um rei: você não era nada. E, mesmo não sendo um nada, você era meu tudo, talvez porque fez eu acreditar que era, de fato, tudo. Você agia como se fosse tudo e dizia que, se eu quisesse algum dia ser uma deusa ou sequer uma rainha, eu deveria continuar ali, te cultuando e fazendo com que você fosse o meu deus. Um Deus.
Você sabia que eu queria ir para o céu, mas eu era humana.
Eu era sua humana. Eu sou a humana que você destruiu. A humana que você condenou ao inferno. A humana que antes te tratava como um deus e que, agora, vê o demônio que foi ocultado por seus lindos olhos verdes.
Eu já te amei, é claro. E talvez ainda ame. Talvez eu te ame para sempre.
Ou ao menos nunca te esqueça. Você é a merda de uma memória inesquecível que eu daria a vida para arrancar da minha mente. É o monstro debaixo da minha cama. É cada uma das vozes na minha cabeça que eu nunca vou conseguir calar.
E eu vou continuar ouvindo cada uma de suas doces palavras. Você nuca morrerá, mesmo quando estiver morto.
Você queria controlar tudo, e acabou me controlando. Mas é claro que eu não era o suficiente. Eu nunca fui seu tudo. Eu era apenas um band-aid em seus joelhos ralados.
Você sempre será meu maior pesadelo, mas eu sei que todas as vezes que voltar e pedir perdão com seus olhos educados, eu vou te perdoar. Vou te perdoar e abraçar como se eu apenas precisasse que estivesse ali para me sentir completa. Mas você nunca vai estar lá de verdade, nunca esteve e eu sempre vou odiar quando for embora. Mas eu gosto disso, de qualquer forma.
Você roubou meu coração e devorou minha alma de tal modo... É como se tivesse me prendido em uma enorme roda gigante e eu jamais conseguiria sair dela, talvez eu não quisesse sair, por mais que precisasse.
E eu sinto muito por isso.
Sinto muito não ser o suficiente.
Não ser seu tudo.
Sinto muito querer apenas ser a rainha do seu castelo. Ser uma jovem deusa como você.
