Capítulo 15
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Slauka dispensou Andrey para que ela e Asia pudessem comprar algumas roupas sossegadas. Ele ficou por perto, acompanhando do corredor o movimento delas de loja em loja.
Apesar de ser algo descontraído e que aliviava as tensões a que todos estavam sendo expostos, a iniciativa de Slauka era desproporcional às reais necessidades do momento. Havia em seu comportamento qualquer coisa de inconsequente e de alienado, fazendo-a exagerar em suas atitudes e escolhas. Para Asia, bastava providenciar o básico necessário para aquele dia, e talvez o dia seguinte, sendo possível, depois, buscar suas próprias roupas em sua casa, recuperando assim, sua independência e dignidade. Asia até gostou da companhia dela, que era muito animada e divertida, mas Slauka queria comprar muita coisa, muito mais do que era necessário e fazia tudo com pressa: olhava, gostava, pegava. Slauka olhava para uma peça de roupa, examinava o formato e a cor separando-a para comprar de maneira muito rápida e impulsiva. Asia não conseguia avaliar bem o que Slauka separava para ela, então, quando ela virava de costas, deixava parte das roupas sobre uma bancada da loja, afastando-se delas.
- Só vou poder te pagar quando recuperar minha bolsa e meus documentos. - justificou-se depois de decidir o que queria, - e eu acho que não precisava disso tudo. Tenho muitas roupas em meu apartamento!
- Claro, claro! Nós vamos lá agora e falamos com Vladímir: "Com licença, só viemos buscar algumas roupas, faz de conta que não estivemos aqui! Tchau!" - Slauka começou a rir, pegou um chapéu com abas largas de uma prateleira e o colocou na própria cabeça, examinando-se em um espelho que havia logo em frente. O chapéu verde com um laço atrás fazia um bonito contraste com seus cabelos vermelhos e seus olhos claros.
- Você nem precisa se arrumar - comentou Asia observando o lindo rosto de Slauka por baixo do chapéu, - você parece uma dessas princesas que ficavam nas torres dos castelos de contos de fada!
- Eu estou mais para uma bruxa feiticeira, acredite - disse Slauka em um tom de voz mais sério, tirando o chapéu da cabeça e devolvendo-o para a prateleira.
Não muito depois, enquanto Slauka se afastava um pouco dela para olhar outras coisas na loja, Asia percebeu que Andrey entrou e foi até Slauka. Observou de longe os dois juntos: "São tão próximos, parecem irmãos. Todos na casa parecem atenciosos e bons. Marta e Francesco também. Eles são mais unidos do que as famílias das pessoas que conheci. Será que o longo tempo faz isso? Ou é a necessidade de proteção? A dependência que eles têm uns dos outros? O distanciamento de todos?". Continuou a observar a conversa entre eles: ele parecia explicar algo e Slauka sorria de modo malicioso, algo que Asia percebeu que ela fazia com frequência. Asia notou que eles pareciam combinar algo, observou-os por mais alguns instantes e depois foi ao provador.
Enquanto Asia experimentava a roupa que escolheu, Slauka apareceu com um vestido claro de seda para ela e outro diferente para si mesma. Asia olhou para Slauka admirada com a iniciativa dela, em querer comprar um vestido daqueles diante da situação que enfrentavam. Com certeza, não era uma necessidade básica, mas como Slauka parecia muito impulsiva em tudo o que escolhia, e não adiantava discutir com ela, provou a roupa sem questionar e saiu para se ver no espelho maior que ficava fora da cabine. Era realmente bonito e ficava bem nela; Asia gostou, e sua vaidade a estimulou a desejar que Andrey também gostasse: que ele a achasse bonita. Percebeu que Slauka estava lá também, experimentando o seu vestido vinho e se olhando no espelho. Asia, vendo Slauka assim, com um vestido e sapatos com salto alto, lembrou de sua mãe: "Acho que mamãe não era tão alta como ela e tinha cabelos mais escuros e lisos." "Mas Slauka lembra mamãe no jeito de se mover. O rosto não parece... Não muito." Asia olhou para si mesma no espelho, tentando ficar nas pontas dos pés, imaginando sapatos altos e puxando seus cabelos para cima. "Meu rosto parece com o de mamãe, mas meu cabelo é mais claro. Devo ter quase a sua altura."
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Nemtsi e Selvagens - As almas cativas
FantasyQuem se prenderia a uma promessa que não pode ser quebrada nem com a morte? Nemtsi e Selvagens - As almas cativas é uma ficção fantasia-épica de aventura, suspense, mistério e ação. Traz à tona a arbitrariedade da razão humana em uma sucessão de aco...