Capítulo Único

430 47 2
                                    


Tonks estava enchendo um copo com água, na cozinha da Mansão Black, quando Sirena passou à frente da porta, caminhando como uma fantasma.

— Hey! — ele disse, levando o copo à boca.

Como resposta, a prima soltou um grito fino. Como os Weasley tinham partido após a ida dos mais novos à Hogwarts, ninguém seria acordado por seu susto. Reyna estava fora, como Tonks já tinha constatado, embora Sirena e ela tentassem esconder todas as vezes em que isso acontecia.

— Você quase me matou! — reclamou Sirena, colocando a mão ao peito, como que tentando comprovar isso — O que está fazendo aqui?

— E você? Está andando pela casa inteira, parecendo uma sonâmbula! — retrucou o Tonks.

Ela apenas suspirou, olhando pela janela.

— Insônia — mentiu, dando de ombros.

Ficaram em silêncio por mais algum tempo, Tonks bebendo a água, e Sirena olhando pela janela, batendo as unhas roídas na superfície da mesa de madeira.

— Eu odeio ter que ficar aqui — ela resmungou.

— Queria estar com a Reyna, não é? — disse Tonks, repentinamente.

— Do que está falando? — Sirena tentou desconversar — Eu gosto de homens!

Nimbus soltou uma risada incrédula, pousando o copo em cima da mesa.

— Você sabe que não é disso que eu estou falando! — ele decidiu ser direto — Eu sou um auror, caramba! Eu percebo os sinais, e é muito estranho Reyna se ausentar toda lua cheia.

Sirena suspirou mais uma vez, olhando para os fios de cabelo desidratados.

— Você deveria conversar com ela — foi apenas o que disse.

Tonks admirou a amizade delas ser tão forte a ponto de não abrirem a boca para falar do segredo uma da outra. Apesar disso, essa frase apenas confirmou o que ele já temia.

Deixou Sirena sozinha na cozinha e subiu as escadas até o seu quarto, onde se trancou, sentindo aquele sentimento desgarrador, que ele não podia nomear.

Não era pena, nem medo.

Ele sentia dor. Imaginar a Reyna se transformando era, simplesmente, doloroso demais. Na maioria parte do mundo, aparentava ser tão solitária e frágil. Como era capaz de passar por aquilo todas aquelas vezes, todos aqueles anos, sem quebrar-se?

Não dormiu pelo resto da noite, mesmo que tenha relaxado visivelmente quando a lua cheia sumiu no céu. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto, mas não sabia dizer se estava externando a angústia que sentiu por todas aquelas horas ou se era de alívio.

Por fim, decidiu levantar-se da cama. Tentou convencer-se de que nada como uma xícara de café e um pouco de água no rosto poderiam acordá-lo completamente.

Desceu as escadas apoiado ao corrimão, com medo de tropeçar em seus próprios pés. Se já era um desastre quando bem descansado, não queria arriscar-se naquele estado. Assim que chegou à cozinha, viu aquela silhueta já familiar o suficiente para ele.

— Reyna.

A mulher sorriu, a sua aparência deixando bem claro o quão ruim passou a noite, embora Nimbus tivesse certeza de que a maquiagem disfarçada grande parte do real estrago.

Sirena apenas deu uma ombrada amiga nela, antes de sair da cozinha.

— Quando eu tinha cinco anos de idade, o meu pai desentendeu-se com um lobisomem chamado Fenrir Greyback — Reyna começou a contar, os olhos fixos na caneca de chocolate quente à sua frente.

Full MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora