Daqui de cima, o mundo me parece enegrecido. Envolto quase que por completo pelo fogo ardente que o deseja consumi-lo totalmente, o mundo está pintado de preto e vermelho: como se uma lata de tinta da mesma cor houvesse sido atirada em direção ao largo vácuo que nos rodeia.
Vejo as pessoas queimarem e se despedirem umas das outras com seus últimos olhares desesperados e os últimos suspiros.
Uma mulher dá um abraço em seu filho recém-nascido. Um homem de negócios analisa a sua conta bancária. Uma amante e seu confidente trocam carícias logo em frente á esposa do mesmo. Uma criança procura pelos parentes enquanto passa a mão pela testa que passa a perder sua forma e resistência.
Logo atrás de mim, posso escutar as ameaças do relógio em finalizar a sua contagem regressiva para a chegada da meia-noite. Sinto também o calor do vermelho que deseja me tornar a próxima vítima de seu carinho e sua devoção.
Me faz dar risada.
Todo esse ensaio para a morte chega a ser algo cômico e masoquista. Doentio. Um jogo para aqueles que acreditam que existem maneiras de se apagar um monstro tão terrível e faminto quanto este.
De relance, uso minha visão periférica para observar uma pilha de livros que acompanha a minha estadia na cobertura do prédio enquanto vejo o mundo destruir a si com o vermelho da sua ambição perversa.
Pego um caderno de capa dura nas mãos e o analiso, folheando algumas páginas. Talvez seja por causa do tempo que já me encontro distante da escola, mas a memória me falha e me encontro incapaz de relembrar mais de um terço daquele conjunto de frases e palavras emboloradas.
O jogo em direção ao fogo e vejo uma garotinha correr para buscá-lo, com mais uma pilha de livros semelhantes sendo carregados em sua mochila.
Me faz dar risada.
Alcanço um maço de cigarros no bolso do casaco, misturando-o com o copo cheio de gim e tônica que está apoiado no muro em frente e o ofereço para um trabalhador cansado e ofegante que me direciona sua atenção lá de baixo.
Ele sorri e agradece.
Daqui de cima, não consigo enxergar meu reflexo. Não enxergo nada além do caos e de famílias que se abraçam para que sejam queimadas juntas.
Minhas mãos estão pálidas e secas, como se fossem descascar assim que eu as tocasse. Meu rosto também ameaça tornar-se somente ossos assim como minha sanidade parece perder o controle sobre o meu corpo a cada minuto que se passa.
Volto meus olhos para baixo, onde as chamas parecem ter consumido os restos da humanidade. Sinto que, agora, as mesmas buscam por mim e, acompanhadas pelas últimas badaladas, sobem de mansinho a escadaria para a cobertura; de onde usufruo da bela visão do inferno.
Sendo o último homem de pé, me pergunto o quanto foi necessário para conquistar o benefício de ver meus semelhantes decaírem do Olimpo. Quantas hierarquias foram ultrapassadas e quantos corações foram quebrados.
Sendo o último homem de pé, considero o quão frio devo ter sido a quem amor tentou me oferecer. Analiso as folhas em branco gastas para rever algo que esqueceria de qualquer modo. Prevejo o quão triste e solitária será a vida a partir de agora, desde o momento em que todos já foram devorados pelo vermelho.
Penso em quais serão os meus sonhos e metas agora que o topo já fora alcançado e todos os obstáculos, ultrapassados.
Sendo o último homem de pé, me pergunto de quais esteriótipos deverei sofrer agora e o quanto deverei inferiorizar ao outro para que consiga esboçar um maldito sorriso em meu âmbito capitalista.
Sendo o último homem de pé, me pergunto o quão bom seria ter sido o primeiro de uma nação a cair, do que estar sozinho no topo do mundo a observar o belo espetáculo da morte.
O Grand Finale.
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the last man standing
FanfictionOnde Lim Changkyun narra a deterioração do ser humano e, consequentemente, o fim do mundo. »2017, I.M ₍ monsta X ♡°◌̊¨̮