Cada pedaço de mim

Eu sempre fui bem generoso, sabe? Pessoas costumavam dizer que era Deus no céu e Eu na terra. E eu, sempre modesto, respondia sem jeito que não era bem assim.

Eu sou uma pessoa. Tenho defeitos quanto qualquer um.

Sou impulsivo, impaciente, faço birra, quero estar sempre certo, sou esquentado.

Mas aceitava os puxões de orelha que me davam, e tentava compensar todas as vezes que fui um menino levado. O que não foram poucas.

Gosto de ser o apoio dos meus amigos. Ajudo cada um deles doando meu tempo, disposição, o ombro amigo e até dinheiro. Gosto de carregar o peso deles nas minhas costas para que eles se livrem de tudo que os incomoda.

E já perdi a conta de quantas vezes chorei escondido por conta de todo esse peso.

Já fui de tudo um pouco.

Psicólogo, juiz, médico, psiquiatra, professor, vendedor, cozinheiro, faxineiro, empresário, guia turístico e é claro que 98% dessas coisas eu não exerço profissionalmente e nem sou formado. Apenas considero algumas de minhas ações parecidas com as ações que essas profissões fazem. Sou cada uma dessas coisas para quem precisa.

Faço de tudo por todos sabe? E amo isso. Não faço isso para ter perdão pelos meus erros, pra limpar minha consciência ou qualquer coisa do tipo. Faço isso pois não vejo nada melhor do que a alegria daqueles a quem dedico tempo e esforço.

Amo cada um deles, sem exceção.

Agora, quero que isso se espalhe.

Não vou me identificar, mas quem quer que esteja lendo isso, por favor, seja um dia merecedor de todos os elogios que um dia já recebi.

Não sou jovem. Aprendi muito e tenho muito o que aprender. Provavelmente não tenho filhos e nem vou ter, mas gostaria que essas palavras fossem imortalizadas. Em nome de um desconhecido.

Boas ações não merecem nome, não merecem reconhecimento, pois não devem ser raras até o ponto que merecem ser exaltadas.

Sempre gostei de dar o meu melhor.

Para quem tinha pouco? Dava um trocado, ou cobertor.

Para quem tinha muito? Oferecia uma tarde de conversa pura e casual.

Para quem não era feliz? Oferecia o meu mais sincero sorriso e meus consolos para aquela situação.

Para quem não estava triste? Multiplicava por mil essa alegria.

Então, caro leitor, que deve estar lendo isso que achou de algum lixo, alguma gaveta de asilo ou de hospital, seja digno. Por favor.

Seja digno de todos os elogios que, acho, eu já fui de receber. Seja bom, não esqueça de sua essência, não se deixe levar pelo orgulho, pois peca tanto quanto qualquer um. Tenho certeza.

Seja nobre, na medida do que puder.

Faça de cada pedaço seu um lembrete de bondade.

Assim como eu.

Assim como eu fiz com cada pedaço de mim.