A lua estava no alto, assim como o menino havia dito, quando saíram de casa. A noite era o pior momento do dia para sair de casa. Isso segundo Christopher, que tremia de frio, abraçado a si mesmo. E estava certo, pois as fogueiras públicas haviam se apagado e ninguém mais estava na rua. É claro. Ninguém se arriscaria a perambular pelas ruas vigiadas pelos cavaleiros de negro na cidade, que mais pareciam sombras.
Foi uma caminhada difícil para ambos, pisar na neve não era nada confortável. Selena podia sentir a neve derreter em contato com sua pele quente e molhar cada vez mais seu novo par de botas feitos de pele de raposa. Contudo, o lince parecia não ter dificuldade alguma.
As luzes de algumas tavernas ainda permaneciam acesas e havia muita gente lá dentro. Contudo, o silêncio prevalecia. Não havia mais cantorias senão o barulho de copos sendo derrubados no chão e brigas. Alguns lampiões nos postes ainda iluminavam a cidade e havia uma trilha deles que levavam até o alcácer, que estava a um nível superior da cidade, construído sobre uma colina.
Ao se aproximar dos portões do castelo, avistaram Dalienne e seu irmão, que aguardavam a chegada deles. Antes que pudessem parar para se identificar, os guardas já haviam aberto os portões.
Contudo, a caminhada não parava por aí. Faltava-lhe ar ao chegar, enfim, ao grande portão que levava ao interior do castelo. Haviam subido vários degraus até ali. Mais guardas guarneciam a entrada, dois deles abriram o portão de madeira e ferro. Atrás deste esperava um cavaleiro, que os guiou até a sala de jantar do alcácer. Este que parecia majestoso e ao mesmo tempo amedrontador por fora, era revestido de pedras e frio por dentro. Se não fossem as várias lareiras acesas, não faria diferença alguma ficar ali dentro se comparado ao lado de fora.
Conforme se aproximavam da sala de jantar, mais murmúrios surgiam, cada vez mais, transformando-se em vozes distinguíveis. Ao entrarem na sala de jantar, Selena perdeu o ar quando viu uma enorme mesa preenchida por vários alimentos que lhe encheram os olhos. No mesmo instante ouviu sua barriga roncar.
- Então... Onde está o animal, Rhaysen?
Um homem alto e forte se ergueu do outro lado da mesa, usava uma armadura semelhante ao dos outros cavaleiros, senão pela única exceção: havia prata nos ornamentos da armadura e uma pedra de ouro negro no peito. Se perguntava se era realmente necessário usar uma armadura em um momento de família como o jantar quando Lorde Alliand se aproximou.
- Essa é...
Rhaysen iria apresentá-la quando o pai o interrompeu.
- Selena - disse ele.
O menino franziu as sobrancelhas.
- Já a conhece?
- Eu permiti sua estadia na cidade.
- Ela é a dona do animal - disse Dalienne em algum lugar da mesa.
Não conseguia vê-la, pois o lorde cobria todo o seu campo de visão, admirado com o animal aos seus pés. Sombra não estava gostando nem um pouco do homem.
- Fascinante - observou.
- E esse... O senhor sabe quem ele é - disse Rhaysen sobre Christopher, acenando para ele.
O homem se ajoelhou próximo ao animal, que recuou soltando um guincho de arrepiar os pelos da nuca.
- Dalie disse-me que ele veio até você, é verdade?
- Sim. - Queria falar para ele não incomodar seu bichinho. O lorde sabia que o animal não estava gostando e mesmo assim insistia.
- Qual é o nome dele?
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Princesa de Gelo: O Legado da Aurora [Vol 1]
FantasyPrestes a completar seus treze anos de idade, Selena Carter tem que lidar com a dura realidade de ter perdido quem ela mais amava: o avô. Sem jamais ter conhecido o pai ou a mãe, ela vivia apenas com uma herança deles, um colar feito de opala. Mas n...