Bruna - Pode-se dizer muita coisa sobre esse garoto

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Pode-se dizer muita coisa sobre esse garoto, o Carlos Eduardo, menos que ele não é dedicado. Além de competente, é claro. Somente pessoas desta natureza conseguem trabalhar comigo. Eu admito que não estou entre as dez celebridades mais fáceis de se lidar da atualidade, mas o talento de Bruna "Deslumbrante" Drummond compensa qualquer sacrifício. Porque se estou envolvida é certeza de sucesso.

A coreografia do rock está tão deslumbrante quanto eu, apesar da nossa briga. Explora uma rebeldia quase infantil. Já me sinto vestida dos pés a cabeça de cor-de-rosa rodopiando nos braços dele. Ah! Os braços de Carlos Eduardo são um capítulo a parte nessa história.

É impressionante como na maior parte do tempo eu estou com raiva dele. Deve ser porque ele me provoca. Porque ele não admite que seja meu funcionário. Que ele depende de mim. Pelo contrário, Carlos Eduardo me dá ordens, ele me diz o que fazer como se eu fosse... Como se eu fosse sei lá o quê.

Entretanto, quando é para ser lançada para cima, virada do avesso e agarrada por aqueles braços, não tenho medo nenhum. Eu simplesmente sei que ele não vai me deixar cair, por mais que ele me deteste. O loirinho de olhos azuis nem sabe como deixar alguém na mão. Dá para sentir até pelo jeito tranquilo com o qual ele respira.

Em algum momento do ensaio de hoje, eu me desequilibrei. Com medo, arranhei o pescoço dele. Kadu poderia ter se assustado, feito um movimento brusco, mas não. Ele aguentou a dor, amorteceu minha queda e caiu junto comigo. Ele caiu por cima de mim.

Nossos olhares se cruzaram. Foi fantástico o que eu vi no fundo daqueles olhos azuis. São como bolas de cristal onde se pode lê-lo por inteiro, o bom filho, o bom aluno, o rapaz educado de família estruturada. Carlos Eduardo é claríssimo como seus olhos. Li todos os seus instintos mais profundos e não tem nada escondido ali. Não tem medo, nem mistério. Ele é uma construção muito sólida com cada tijolinho no lugar.

Tão diferente da minha escuridão. Do meu caos particular. Eu tenho uma bela fachada de grossos pilares que inspiram confiança, ninguém vai negar. Agora, meu interior e feito de dunas que se movem depressa demais para que um aventureiro qualquer se aproxime e tome posse. Eu sou vento, ele é terra.

Senti inveja de Kadu. Por um instante imaginei o que seria nascer numa casa cheia de amor, com uma mãe que olha as tarefas e um pai que sonha em lhe dar uma bicicleta no natal. Talvez eu fosse um pouco mais tranquila se tivesse nascido naquilo que as pessoas chamam de lar. Talvez eu fosse um pouco mais Kadu.

Esse pensamento me veio tão forte enquanto eu o olhava nos olhos, mas o que eu senti não foi angústia. Uma alegria brotou de mim como um gêiser. Porque eu não seria Bruna Drummond se tivesse nascido numa casa assim. Foi a dificuldade que me fez. E nesse momento da minha vida, estou feliz demais para querer ser outra pessoa, caí na gargalhada quando cheguei a esta conclusão.

Nós rimos juntos. Minha raiva passou completamente quando ele me abraçou. Às vezes eu me pergunto se vamos acabar nos tornando amigos no meio desta loucura toda. Porque a verdade é que aos trancos e barrancos a gente funciona bem.

Dei uma sugestão, sapatos de sapateado. Acho que o barulhinho das chapas batendo no chão tem tudo a ver com a batida romântica da música. Ele adorou a ideia. Ficou de adaptar os passos. É disso que estou falando, Kadu não se submete aos meus caprichos, porém, ele me escuta. Nesse puxa de lá, puxa de cá, nós vamos fazer uma excelente apresentação.

Na saída do ensaio, para minha total surpresa, ele segurou meu braço. Pensei que tinha esquecido alguma coisa, mas ele somente me entregou um par de ingressos para a inauguração dessa nova casa de show que já está bombando nas redes sociais.

─ Olha, estou convidando o pessoal da escola e ainda não tinha encontrado a oportunidade de te chamar... – Ele estava vermelho como um pimentão. Deve saber que eu cobro para aparecer nesse tipo de evento. – Se der para você ir, aparece, tá?

Fofo demais a maneira tímida dele de me convidar. Não respondi nada, é claro. Primeiro, para fazer um mistério. Segundo porque eu não sabia se estaria desocupada na noite do próximo sábado.

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Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora