Faltando pouco mais de três horas para a Atmosfera inaugurar, eu ainda enfrentava problemas organizacionais. É incrível! Por mais que você pense em todos os mínimos detalhes, alguma coisa sempre dá errado. Hoje, dos males o menor, a filhinha da Letícia, minha Barwoman, resolveu ficar com catapora. Sem problema, eu sirvo as bebidas junto com o Fred e a Nicole.
Na verdade, é até engraçado. Perdi as contas de quantas vezes nas festas dos meus pais eu fiquei servindo no bar. Sei até alguns malabarismos com as garrafas. Vai ser moleza.
O problema é o resto da festa. Ainda bem que meu pai e minha mãe estão aqui para ajudar. Afinal, a casa é minha, mas o nome é deles. Eles estão sempre atentos ao padrão de qualidade dos seus empreendimentos.
Minha mãe vai ficar de hostess. O que ela já ia mesmo fazer, visto que boa parte das celebridades que vêm aqui hoje é por conta dos contatos dela. O meu pai vai ficar controlando a entrada de dinheiro e as emergências, seria este o meu papel, mas o destino quis que fosse diferente.
Coloquei meu uniforme e, antes de seguir para o bar, dei uma olhada lá para fora. Fila quilométrica. Estava na hora do show. Uma última olhada para a casa vazia. Linda. Reclamei o quanto pude dos arquitetos, engenheiros, pedreiros e todo esse pessoal, mas o trabalho ficou esplendoroso. A casa estava toda iluminada em tons de azul escuro e, no teto, uma imitação perfeita de céu estrelado.
Mandei soltar o som. Corri para o bar. O coração disparava no peito. Era agora. Fiz o sinal combinado e minha mãe liberou a entrada das pessoas.
Em poucos minutos, a casa estava lotada. Minha mãe era mesmo muito boa com pessoas. Eu ainda estava aprendendo que algumas pessoas valem o seu peso em ouro em termos de evento. Pagamos o equivalente a um carro popular para convencer o Altair, jogador de futebol, a vir para a inauguração. Mas a simples menção da possível presença dele numa notícia nas redes sociais compensou em venda de ingressos o que pagamos a ele.
Já fazia quase duas horas que a boate estava funcionando quando ele chegou. Subiu para o camarote de boné, não fez muito alarde. Como se ele conseguisse ser discreto. A mulherada mudou o foco na hora. Ainda tem muita doidinha no mundo que acha que vai vencer na vida arranjando um jogador.
─ Oi. – Gritou para que eu pudesse ouvir. Nem acreditei que ela estava na minha frente: Milena. Eu tinha convidado, mas não imaginei que ela viesse.
─ Oi, Milena. Que bom que você veio! – Sorri encantado. Ela sorriu de volta e eu pensei que estava no céu.
─ Trouxe a turma toda: namorado, irmão, amigos. Não me arrependi. Isso aqui está lindo demais! – Meu Deus! Como eu sou apaixonado por essa garota. Ela fala e eu enlouqueço. Coloquei as garrafas no balcão porque já estava misturando tudo.
─ Hei, princesa, vem dançar comigo? – O atleta olímpico a puxou pela cintura para a pista de dança. Despenquei das nuvens. Eu nem deveria me incomodar com a presença dele, afinal, era uma presença ilustre. No entanto, vê-la nos braços dele ao som de Tentei te esquecer era mais do que eu merecia para a minha noite de estreia.
O pior era perceber que estavam enfeitiçados um pelo outro. Cantavam abraçados, as palavras saindo baixinho perto do ouvido. Beijos apaixonados. Mile gostava mesmo daquele cara. Eu deveria me conformar com isso. Coloquei uma dose de vodca para mim e tomei de uma vez.
─ Calma aí, patrão. – Fred riu e bateu nas minhas costas. Eu não estou mesmo acostumado a beber. Apesar da vontade de afogar a dor, foi minha única dose da noite.
E estávamos apenas começando. César Menotti e Fabiano tinham acabado de subir no palco e faziam aquela seleção de sucessos do passado que levava o público à loucura.
Tentei te esquecer/ Não deu/ Pensei que fosse mais forte que esse amor/ Oh minha paixão, sou teu/ Por mais que eu queira disfarçar como estou/ O meu coração/ se nega a aceitar/ Passa o tempo e eu não me esqueço de te amar.
Peguei novamente minhas garrafas e continuei a servir.
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Por Onde Andei
Novela JuvenilNo quarto volume da série Nando, pela primeira vez, temos a visão simultânea dos dois protagonistas: Bruna e Carlos Eduardo. Ela, atriz desde menina, não está acostumada a confiar nas pessoas. Resolve os seus problemas a sua maneira, nem sempre acer...