Me chamo Fernanda, tenho 27 anos e sou filha adotiva de um casal gay, o que talvez tenha influenciado na mina escolha sexual. Não digo que sou gay por causa deles, mas admito que ter crescido com tamanha liberdade, leveza e a própria presença do assunto dentro de casa, sorte grande, fez com que não doesse tanto na hora de me aceitar. O que de fato é o mais importante e doloroso, nos aceitarmos, com amor. Nos admiráramos em um mundo que nos vê e nos trata explicitamente como minoria. Vergonha. Retrógrado.
Muitas pessoas me perguntam - Como é ter pais homossexuais? E eu automaticamente penso alto, - Como é ter pais heterossexuais? Ora, pra mim é normal. Pra mim é comum. Minha família é mais parecida com a de vocês do que vocês imaginam, mas nós temos evidentemente mais facilidade em lidar com qualquer tipo de diferença do que vocês, assim como passamos por situações e preconceitos que muitos de vocês possivelmente já presenciaram, participaram e nem se deram conta.
Obviamente quando resolvi me assumir pro mundo, meus pais, lindamente, com o intuito de me proteger, pediram para que eu fizesse isso com calma, que não me expusesse de forma muito gritante, sabe? Para que o mundo também não me atacasse com essa mesma intensidade. Pena que sempre fui bem clara e intensa com as minhas escolhas, com essa, não tinha como ser diferente. Hoje, sou mulher, sou feminina, sou linda e sou gay. Não penso em fazer nenhum tipo de procedimento cirúrgico para mudar de sexo, gosto muito de ser mulher, o que muitas vezes confunde a cabeça das pessoas, não quero me tornar um homem e nem me vejo como um, não penso como um, eu só prefiro a delicadeza e a sutileza de lidar com uma mulher.
Sofro diariamente com preconceitos e ignorâncias, é impressionante como o incomum, o diferente, incomoda tanto o outro. Infelizmente.
Mas ai de mim se deixasse de gozar dessa vida tão linda por conta de alguém que nem o meu nome sabe. Afinal, minha felicidade é bem maior que a sua opinião.
