Aqui estou eu, como sempre escrevendo, pelo vidro da janela vejo as gotas que caem do céu, a quilômetros de minha cabeça a se espatifar na superfície lisa de minha janela nessa bela noite de inverno onde estou escrevendo.
Aqui estou eu, com meus cabelos curtos e repicados, meu vestido azul anil com algumas manchas degradês en verde água bem despojado que ia até os joelhos e meu caderninho sem pauta.
A noite fria e chuvosa se junta a escuridão do meu quarto com a luz apagada, eu gostava de escrever assim, era aconchegante e frio ao mesmo tempo, a noite era calma nessa casa a qual havíamos acabado de nós mudar.
Nós mudamos para uma pequena casinha de interior junto a meus irmãos e meus pais, havíamos nos mudado para trabalhar em diversas áreas voltadas a ajudar, meus pais tinham trabalhavam reflorestado uma área próxima que fora desmatada, entre meus irmãos, os gêmeos estavam cuidando de trabalhos envolvendo clonagem de animais para perpetuar espécies, e minha irmãzinha pequena estava cuidando de trabalhos com polinização de espécies de plantas exóticas, eu no caso, cuidava de um canteiro de girassóis que iam para crianças em estágio terminal, de vez em quando as famílias me mandavam fotos das crianças com as flores, aquilo já valia mais do que qualquer salário para mim.
A casinha isolada de toda a civilização ficava cercada por uma grande floresta que ia até onde os olhos alcançam.
O céu está estrelado, a noite estava linda, apesar da chuva que caia, e um rosto estava diante da minha janela, ao nota-lo ali dei um pulo para trás sentindo uma bolinha de gelo passar por dentro de toda minha coluna, cai da cadeira de bunda no chão.
*Quem é você?- saiu como um sussurro, mas acho que ele pode ouvir.
Não conseguia ver suas feições, via apenas o vulto negro que ali se formava diante de meus olhos castanhos de um brilho comparado ao céu de uma tarde de verão em meio aquela noite de inverno.
Podia apenas ver seu contorno e o brilho de suas pupilas a me olhar fixamente sem sequer piscar.
A figura não se mexeu nem mesmo um único milímetro de onde estava apenas para ficar me olhando causando cada vez mais arrepios a medo no fundo de minha alma, tinha um olhar que me assustava de uma maneira absurda, mas me cativava, como se gostasse daquele medo, não era um medo igual ao de uma barata subindo na sua cama, era um medo...bom.
O terror passava pela minha espinha até dar um súbito frio forte em meu estômago quando o barulho estrondoso e luz fortíssima do raio que caíra bem atrás dele adentrou meu quarto me cegando por alguns instantes, quando o clarão sumiu e o som acabou, quando pude enxergar novamente, ele não estava mas lá, mas pude ver o exato local onde o raio caiu, uma árvore que agora se encontrava seca, uma árvore seca e em chamas.
*QUEIMADA!!!! -corri gritando para avisar a todos.
Todos os funcionários donos e crianças saíram correndo ficando em seus postos para começar a conter as chamas, todos tinham uma função e todos davam tudo de si, as crianças tinham o trabalho mais leve, apenas abriam e fechavam as torneiras para as mangueiras que com a ponta lá longe, enchiam os baldes.
Alguns adultos tinham como foco apagar o fogo da copa das árvores, outros de pequenos arbustos, alguns com baldes outros abafando o fogo.
Eu estava em um grupo encarregado de abafar o fogo que estava se espalhando ainda, usava um cobertor pesado que eu tinha reservado para um caso desses.
Meu foco, assim como o de todos era apagar as chamas e preservar a floresta, nem que isso custasse nossas vidas, nem percebi quando as chamas me cercaram me deixando sem saída.
O fogo me cercava de todos os lados, a chuva que caia parecia não adiantar de nada para parar as chamas, eu dava voltas tentando achar alguma escapatória mas não havia nenhuma falha, nada que me deixasse sair.
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Aquela Bela Noite de Inverno
HorrorMaria Clara, uma jovem que trabalha em uma casa isolada no meio da floresta plantando girassóis para crianças em estado terminal é surpreendida por em rosto em sua janela em meio aquela bela noite de inverno...