Capítulo 16 - "Serendipidade"

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—"Manipulador!".—Luna deixara afixado. Dionísio precisou enquadrar mais de duas vezes o espelho do banheiro para acreditar naquela "arte genuína rabiscada em batom". 

Diante daquela "audácia" imediatamente soltou um sorriso aberto e fecundo. Apertou os lábios enquanto fitava o espelho por entre os tons de rosa, num gesto de quem colocaria o mundo de cabeça pra baixo em instantes. O cheiro dela arraigado na cama fazia-o suspenso. Vestido com uma bermuda jeans básica e camisa azul, perfumou-se rapidamente e foi em busca da "iniciação". Uma boa taça de vinho e já estava preparado para ganhar o mundo em busca de sua flor. Ao fechar o portão atrás de si, fitou o ambiente e se deparou com o inferno dantesco. A cidade borbulhava em ritmos, foliões e exaltação. Mil rostos teciam o manto do caos. A sensação de estar envolto no caos fazia o "lobo" vibrar em êxtase. Esquivou-se rapidamente e com habilidade entre os convidados desconhecidos de "sua festa". Com uma tranquilidade característica estreitou os olhos e caminhou rapidamente. O turbilhão de cores e sons tornava o caminhar ainda mais enigmático e interessante para a "fera".

Defronte à casa de carnaval, as amigas de Iasmim já estavam presentes, aproveitando da interação com os meninos, com os "amigos". Não demoraria muito para o "lobo" aportar naquele recanto. A sensação de todos decerto convergia para a mesma opinião: Olinda está uma loucura de gente.

— Meninas vocês sabem se o professor aparecerá hoje? — indagou "buda", aproximando-se de Luna e Iasmim.

A cumplicidade no olhar de ambas quase as denuncia. Mas a verdade parecia tão surreal que ficaria impossível de ser detectada. 

— Não sei, "Buda"!— respondeu Luna, de modo sorrateiro. — Eu o deixei perto de casa ontem e fui pra casa de Iasmim. Ele não fez referência ao dia de hoje. Conheces um pouco do mundo dele. Totalmente imprevisível.

— Verdade. — assentiu "Buda", com um sorriso tranquilo no rosto, enquanto segurava Iasmim pela cintura. — Adoro aquele cara. Bem, esperemos! quero "tomar uma" com ele hoje.

Mal acabara de professar sua admiração pelo professor e o sinal foi dado.

— Evoé!— Pedro "Discípulo" bradou sorridente, enquanto erguia o copo. Todos acompanharam a brincadeira.

— Seria cômico se não fosse trágico!— Dionísio falou em tom firme e audível. Todos ficaram sem entender por um curto espaço de tempo. Sorrindo, Dionísio meneou a cabeça cumprimentando a todos, enquanto buscava a retina de sua "lua". 

—Eis aqui uma casa de camelo: ninguém bebe nesse lugar (risos cínicos)?

—Não percamos tempo, galera. O professor está na área.— brincou Thor, "o Boêmio", segurando sua caneca, parceira de guerra.

—Dion, só um minuto! —Eduardo "Coringa" advertiu, enquanto se dirigia para o interior da casa, para buscar vinho.

— Não sei se aguento esse tempo todo...! —Dionísio rebateu, enquanto desenhava uma astúcia sensual no rosto. 

Rapidamente caminhou de encontro à Luna. Cada passo, uma vibração. Ela estava atônita, olhando para a "fera" enquanto sorria, com os cabelos soltos, altiva, acesa. Na boca, o batom denunciava a autoria do "crime" perpetrado contra o espelho dele. Os olhos faiscavam num tom esverdeado que bailava com o arvoredo do lugar. 

— "Lotus". Esse será seu codinome. —  falou a poucos centímetros dos ouvidos de sua "lua". —Agradeça à sua tatuagem. 

— Eu gostei disso!— ela respondeu em tom sensual, encarando-o.

— Apesar de ter me privado de sua companhia por pouco tempo, parece que foi por uma eternidade. Quase não lembrava mais de ti... risos.

—Sentiu saudades? — Luna indagou em tom provocativo.

"DIONÍSIO" - Manipulador (Livro I)(COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora