Parte 2

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Parte 2

No hospital logo fiquei sabendo que o Natan não corria risco de vida, o que foi um grande alívio. Mas demoramos para saber mais do que isso. Todo mundo da banda estava lá, na sala de espera do hospital, assim como os pais do Natan. Fiquei ao lado da mãe dele, que parecia a mais abalada, tentando dar suporte a ela.

Por mais que por dentro eu me sentisse em frangalhos, o meu exterior mantinha-se calmo. Acho que nessas horas ter calma é até uma espécie de dom. Mas eu estava nervosa também, muito nervosa, só que não demonstrava. A minha forma de agir era permanecer sentada quase imóvel, segurando a mão da mãe do Natan, e ficar roendo as unhas da outra mão. Um hábito que desde a infância eu tinha deixado para trás.

Quando as notícias afinal vieram, elas não eram boas como a gente esperava. Quer dizer, ele não tinha batido a cabeça nem corria nenhum risco nesse sentido, a parte que ele tinha machucado, e muito, era outra. O braço esquerdo na Natan, como ficamos sabendo, tinha sido arrancado no acidente e os médico não foram capaz de reimplantar.

Ao saber disso, toda a calma se foi e eu chorei. Chorei dessa vez abraçada ao primo do Natan, que chorava também.

Foi triste imaginar que com a perda do braço ele teria que abrir mão daquilo que mais gostava. Essa era a pior parte. O Natan desde criança sonhava em ser baterista e agora que tudo estava dando certo era triste saber que ele tinha que deixar tudo para trás.

Ele passou uns dias na UTI, e eu não pude visitá-lo. Aproveitei para fazer pesquisas na internet, para ver se encontrava algo para animar o meu amigo. E eu encontrei. E esperava que isso fosse deixá-lo esperançoso como eu fiquei.

Quando o Natan foi para o quarto, eu me ofereci para passar a tarde com ele. Liberando assim os pais do meu amigo para que eles fossem para casa descansar.

– Oi... – falei em voz baixa já que ele estava na cama quando cheguei, e não sabia se ele dormia ou não. O Natan estava meio pálido e com alguns machucados em seu rosto, mas eu o achei bonito mesmo assim. E era uma alívio, um alívio enorme, vê-lo depois de tudo o que aconteceu.

Sentei ao lado dele, na ponta da cama do hospital, e ele abriu os olhos e me viu.

– Desculpa te acordar. – eu disse, ainda em um tom de voz baixo.

– Eu não estava dormindo – ele falou e seu rosto estava sério. O que não era normal, mas nada daquilo parecia normal.

– Sua mãe deixou que eu ficasse a tarde com você. – afirmei, porque não sabia o que dizer.

– Eu sei. – ele respondeu. Mas não parecia feliz por me ver. Aliás, ele não parecia feliz com nada.

– E... como você está? – era uma pergunta estúpida, eu sabia. Mas queria que ele falasse, que me dissesse o que estava sentindo.

Ele fez uma careta e parecia estar prestes a me mandar a merda ou algo assim. Ele estava cheio de raiva, o que era compreensível.

– Está sentindo alguma dor? – voltei a perguntar, quando ele me ignorou e virou o rosto na direção contrária a minha – Está sentindo alguma coisa? – eu insisti, com a ausência de resposta.

Ele demorou alguns minutos para falar, e quando a resposta veio ela foi um:

– Estou sentindo que eu tenho 20 anos e que a minha vida acabou.

– Não. – eu mantive a calma, mesmo me sentindo horrorizada com as palavras dele. – Não diga isso, Natan. Nunca mais diga isso. Você tem muitos anos, e muita vida, pela frente.

Rock, amor e amizade (conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora