Prefácio

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Não há cristianismos. Há cristianismo. Num singular simplório e forte que deixa muito evidente a falta de um "s" no final. O fato que determina tal singularidade é simples: o evangelho deixado é apenas um, visto que o Jesus que o deixou é também apenas um. E isso é um problema a ser entendido na comunidade cristã de hoje. Da morte de Jesus para cá, aconteceu uma grande tragédia: o evangelho de Jesus hoje se tornou cultural e sendo cultural, decaiu alguns escalões a fim de ser apenas uma vivência repetida e rotineira, na qual as pessoas se situam, mas não sabem exatamente o significado que a sustenta. É como a moda, por exemplo. 

Hoje, estamos cheios de pessoas vestindo suas camisetas de frases cristãs, com seus fones de ouvidos pendurados nas orelhas, nos quais se tocam uma miríade de diferentes músicas gospel, falando aos ventos seus glórias a Deus, aleluias, misericórdias, graças a Deus e tantos outros jargões de crentes, mas que estão tão alheios da verdade bíblica que sequer sabem qual a influência da morte na cruz ao plano de redenção preparado por Deus desde a fundação do mundo. Cristãos que não se debruçam sobre a Bíblia, que é a voz do próprio Deus, ou quando o fazem a colocam debaixo das teologias modernas que os pastores pregam nos altares e, não por poucas vezes, contradizem-se. Cristãos que se tornaram meros papagaios de pastores, repetindo centenas de milhares de heresias que são frutos dos mais obtusos sincretismos religiosos, políticos e filosóficos.

A redenção do homem é a única razão que permeia todas as instâncias do cristianismo e, que, fatalmente o justifica. Hoje, estamos rodando, tal qual um cãozinho que corre atrás do rabo sem nunca alcançá-la, dando infinitas voltas, até finalmente ficar tonto e cansado, querendo desistir. Para ser cristão não há milhares, centenas ou sequer dezenas de motivos a não ser o de garantir sua própria vida futura num lugar preparado pelo próprio Jesus e anunciado quando disse que subiria e prepararia casas para repousássemos no lugar onde ele estava indo. Tudo o que ultrapassa isso, não passa de acessórios e penduricalhos. Prosperidade, cura, satisfação pessoal, fama e todas estes bugigangas que a noiva prometida de Cristo — a saber, a igreja — carrega sem qualquer serventia.

Eu, o cronista deste livro, amo metáforas. E prometo-lhes, ao longo dessas crônicas trazer-lhes algumas (quem sabe, muitas) para que vocês se deliciem junto comigo. Espero que as reviravoltas e os absurdos dos textos lhes arrebatem para um plano de epifania que os façam refletir em que ponto estamos nesse oceano do mundo e a que distância estamos da ilha que se chama Verdade.

Epifanias - Crônicas sobre o cristianismo modernoWhere stories live. Discover now