Verde-Musgo

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Os pinheiros pareciam brotar e crescer aos nossos olhos transformando-se em enormes matas fechadas a frente. A viagem tinha nos tirado todas as energias e naquela altura do campeonato eu poderia comer os animais no caminho. Tô sendo séria.

- Pai, a gente não chega nunca?!

Resmungava o pirralho do meu irmão. 9 anos de pura pirralhice que eu amava.

-Calma, garotão. Já estamos bem perto. Olha, quando chegarmos prometo um espaguete de sucesso.

Confesso, naquela hora não tinha como não me sentir melhor; aquele espaguete já era nossa rotina desde a morte dela. É fato que nos abalou indescritivelmente, mas com papai foi diferente; era como se tivéssemos tido duas perdas, ele não tinha sido mais o mesmo homem. Mas até que a ideia de mudança pós de volta no rosto dele lembranças de uma vida, de que agora começariamos algo novo no estranho.

-Meu preferido!

-Ora Lara, eu que criei a receita por que não iria gostar? Hahaha

Confissão nº 2 : O coroa estava longe de possuir os melhores dotes culinários, mas com certeza eu seria infeliz de criticar alguma coisa. Só espero aprender a cozinhar alguma coisa a partir de agora, ou me confudirão nessa floresta com a orca terrestre de tanto comer massa. Não desacredite de mim, leitor, eu não sou daquelas garotas frescas de seriados e filmes clichês, muito pelo contrário... Só tento não morrer antes dos 30 de um infarto fulminante.

-Bom, pessoal, chegamos!

-Já era hora, meu Deus.

Os vidros do carro que estavam embaçados pela nossa respiração, enquanto papai andou com o carro mais alguns metros até uma clareira que dava para um portão de ferro enferrujado. Este não deveria ser tão velho, mas a umidade e o frio (Enorme, por sinal) tiveram o trabalho de corroer mais rapidamente. Descemos assim do carro, bambeei um pouco, ora não sou raquítica, mas minhas pernas pareciam ter sido enlatadas e espancadas pela viagem.

Que cheiro! Se fechasse os olhos ainda conseguiria ver o verde daquela fragrância. Tudo era muito simples, mas pra mim era deslumbrante. Choques sensoriais irreconhecíveis. O som do pisar nas pedrinhas e o craquejar da madeira no chão, as folhas que caíam; mas sem sinal de vida além das nossas, não havia sequer um canto de pássaros.

A casa. Ao entrar sentia a madeira podre sob meus pés unido a um cheiro de mofo, as madeiras de sua construção eram negras e seus janelões pendiam verticalmente do piso até o último andar de uma maneira rusticamente moderna. Sabe aquelas casas de filmes de terror? Eu estava em uma. E eu amava. Meus contos não seriam mais os mesmo quando eu os despusesse naquele cenário.
Lucas passou por mim numa velocidade absurda só pra escolher o quarto.

-Espero que caia! Debochei enquanto ele subia as escadas.

-Nem se você quisesse!

A escadaria me assustava de verdade. A madeira de sua forma era avermelhada, mas num tom específico: cor de sangue. Fitei-a por segundos incontáveis.

-O que acha depois de a pintarmos? Perguntou papai quando me notou paralisada.

-Não sei, seria um pecado mascarar uma escadaria cinematográfica desta.
Rimos.

-Engraçadinha.

E saiu pra fora pegando as caixas do caminhão da mudança que tinha nos acompanhado.
Desgrau por degrau. 27. Contei-os, era um dos meus hobbys, não me julgue a perturbada, mas eu amava a ideia de números e como me modificavam. Aquilo era vida, pois não.

O quarto que escolhi tinha especialmente o tipo de iluminação que queria, silencioso e uma vista não tão nova... Mais pinheiros.
Foi escolhido especificamente para minhas criações, poderia passar horas acordando minha criatividade obscura. Pode rir, sou louca.
Caixa por caixa as desmembrei e fui guardando minhas coisinhas, meus achados de mundo. Era tudo muito cansativo.
Gritei pelo coroa:

-PAAI, essa companhia não deveria guardar e arrumar as coisas também? Aliás, o senhor pagou caríssimo.

-Preguiçosa! Ande com isso, e venha me ajudar no espaguete de sucesso.

Gritou de volta lá da cozinha.
Ps. O eco naquela casa era estrondosamente insano.

-Achei que o mestre cuca não precisasse de ajuda, ora.

-Só preciso que me ajude a encontrar as panelas. Ande logo!

Não, ele não era tão divertido assim até as duas últimas semanas. E ainda não soube o porque desta feliz mudança de humor. Só espero que seja duradoura.

A noite caía, e o pouco de luz natural que nos restava acabara. Nem a própria lua dava seus ares. O silêncio ensurdecedor da floresta piorava a medida que as horas corriam.
Iluminamos os corredores com algumas velas. A rede elétrica seria ligada nos próximos dias.
A mínima comunicação com o mundo que eu poderia ter estaria anulada até lá. Mas não me incomoda, não tenho contato com ninguém há 8 meses desde a partida dela. Pude me dedicar mais a eles e a mim.

Jantamos o espaguete de sucesso e surpreendente estou indo dormir neste momento às... São aproximadamente, 20:30. Boa noite, leitor!

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⏰ Última atualização: Apr 03, 2018 ⏰

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