CAPÍTULO XCIV

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A Causa Secreta

— Como está a minha querida mamãe?

A esta palavra, Virgília amuou-se, como sempre. Estava ao canto de uma janela, sozinha, a olhar para a lua, e recebeu-me alegremente; mas quando lhe falei no nosso filho amuou-se. Não gostava de semelhante alusão, aborreciam-lhe as minhas antecipadas carícias paternais. E eu, para quem ela era já uma pessoa sagrada, uma âmbula divina, deixava-a estar quieta. Supus a princípio que o embrião, esse perfil do incógnito, projetando-se na nossa aventura, lhe restituíra a consciência do mal. Enganava-me.

Nunca Virgília me parecera mais expansiva, mais sem reservas, menos preocupada dos outros e do marido. Não eram remorsos. Imaginei também que a concepção seria um puro invento, um modo de prender-me a ela, recurso sem longa eficácia, que talvez começava de oprimi-la. Não era absurda esta hipótese; a minha doce Virgília mentia às vezes com tanta graça!

Naquelanoite descobri a causa verdadeira. Era medo do parto e vexame da gravidez.Padecera muito quando lhe nasceu o primeiro filho; e essa hora, feita deminutos de vida e minutos de morte, dava-lhe já imaginariamente os calafrios dopatíbulo. Quanto ao vexame, complicava-se ainda da forçada privação de certoshábitos da vida elegante. Com certeza, era isso mesmo; dei-lhe a entender,repreendendo-a, um pouco em nome dos meus direitos de pai. Virgília fitou-me;em seguida desviou os olhos e sorriu de um jeito incrédulo.

Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)Onde histórias criam vida. Descubra agora