Cap. 52: "Recepções Calorosas"

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Oi gente!!! Book trailer divoso feito pela EquipeBP. Espero que gostem!!!



Aquela, sem dúvidas, era a maior viagem que eu já havia feito na vida. 15 horas dentro de um carro, uma balsa com pessoas estranhas e caladas, e expressões nada boas por parte de meus amigos, contribuíam para meu mau-humor. Eu estava tão enjoada por causa das sacudidelas na balsa há poucas horas, que senti que ia vomitar.

- Alessa, você está levemente verde. - disse Ônix, segurando meu ombro - Não vou nem perguntar se está bem.

De repente, o carro atravessou um quebra-molas, e meu estômago foi parar na garganta.

- Não, caso você tivesse perguntado. Eu... - tossi, engolindo a bile - Não estou bem.

×××

Já era de manhã novamente, perto de umas 5h, quando achei que não aguentaria mais. Havia dormido somente três horas, e isso estava acabando comigo. Foi então que olhei pela janela, enquanto o sol surgia tímido no horizonte, e observei as ruas. O asfalto há muito ficara para trás, e corríamos por uma estrada de paralelepípedos perfeitamente alinhados. A expressão de Ônix tornara-se séria, fria e distante, enquanto Rubi parecia preocupada com alguma coisa. Foi assim que percebi a proximidade de sua casa.

Não querendo atrapalhar (ou me mexer muito, por causa dos órgãos embolados), distraí-me com a paisagem. Casas de aparência antiga, porém bem povoadas, acordavam aos poucos. Um que outro idoso caminhava pela rua, exercitando-se. Para aquelas pessoas, era apenas mais um domingo preguiçoso, que antecederia a segunda-feira. Voltei-me, novamente, para Ônix. Queria ver como estava reagindo à própria cidade.

- Alexandria é um lugar lindo - comentei, com a voz rouca.

Rubi sorriu tristemente, assentindo. Já Ônix, manteve-se na mesma.

- Fico feliz que tenha gostado. - murmurou.

Franzi as sobrancelhas. Qual era o problema, afinal?

- Aquela é sua casa, não é? - rugiu o motorista, do nada - número 765, Rua... não sei pronunciar isso.

Aproximamo-nos de uma bela casinha.

Esta não tinha nada de morta, como a minha. Ao invés disso, era cercada por flores, árvores e tinha a maior cara de sítio. Era de madeira, pintada de branco, e de telhado vermelho. O pátio que levava até a entrada nem sequer cerca tinha, tamanha paz que ali reinava. Surpreendi-me com Ônix, que fechava-se cada vez mais. Aquele, na realidade, era um ótimo lugar para crescer. Então, o que o entristecia?

- Terão todo o dia de hoje por aqui. Por isso, aproveitem. - um dos seguranças murmurou - partiremos amanhã cedo.

Ouvi Rubi suspirar, enquanto tirava o cinto de segurança. Ônix fez o mesmo, silenciosamente.

Os armários-humanos desembarcaram, tirando-nos de dentro do veículo. Dessa vez, nenhum deles veio me segurar.

- Andem logo. Nós ainda temos que voltar para buscar suas malas.

Caminhamos, apressados, pelo gramado bem aparado. De maneira alguma parecia a casa de um Ex-frequentador, ou de uma família quebrada. Foi pensando nisso, que uma teoria pousou em minha cabeça.

Antes que pudesse ignorar tal pensamento, a teoria se comprovou, quando duas crianças sorridentes abriram a porta.

- O-oi... - exclamaram os pequenos, perdendo a alegria aos poucos. Suas faces rechonchudas, de bebês com no máximo 3 anos, ganharam um aspecto assustado.

Eram um menino e uma menina, obviamente gêmeos. Seus cabelos eram loiros como o sol, e suas peles eram igualmente douradinhas. Fora isso, eram exatamente como Rubi e Ônix, pela foto que vira deles na infância. Ah... esse é o problema... pensei, chocada.

- Jaspe!!! Jade!!! - gritou uma voz feminina, vinda de dentro da casa - onde vocês pensam que vão?! Eu disse...

Quando a mulher apareceu na porta, notei que seus cabelos também eram dourados. Seus olhos, castanhos e redondos, ganharam uma expressão confusa, e então arregalaram-se. Ela finalmente havia compreendido o que estava acontecendo.

- E-eu... - gaguejou, imóvel. As crianças enroscaram-se em suas pernas, desequilibrando-a.

Parecia ter uns 36 anos, no máximo. Algo totalmente ímpar com a idade do homem que apareceu em seguida.

- Querida? - outro alguém chamou do lado de dentro. Tinha um sotaque forte e marcante, que acentuava cada sílaba - estás bem, fiore? As crianças correram novamente para a porta e...

Foi aí que o homem apareceu. E não havia dúvidas de quem era pai.

Seus cabelos, pretos como piche, ainda pareciam vivos e sedosos. Possuía olhos negros no mesmo tom, e uma pele vermelha. Provavelmente tinha uns 40 anos, algo que a barba bem aparada e a postura ereta não demonstravam. Toda a sua atitude rompeu-se, assim que olhou para fora.

- Bom dia, pai. - Ônix exclamou de repente, com o sarcásmo mais cruel possível - vejo que aprendeu a falar inglês, não é?

Ele cambaleou, engolindo em seco. Seus olhos arregalaram-se, assim que os pequenos pularam em seu colo.

- Quem são, papai? - Jaspe perguntou, fazendo beicinho - eles são brancos como fantasmas...

- É... - a menina, Jade, respondeu, escondendo o rosto no terno do pai.

- Eles são... s-são...

- Apenas visitantes, como sempre. - Ônix retrucou, fuzilando o homem com os olhos - Não se preocupem, logo partiremos novamente. Ou será que um dia é demais para você suportar nossa presença?

- Ônix!!! - Rubi exclamou, socando-o no braço. Ela parecia despertar de um transe - olha o que fala!!!

Encarei a família posicionada na porta. Todos possuíam expressões nada boas, parecendo ignorar minha presença. Por isso, senti-me pequena, de tanta vergonha.

- Ah, perdão! Sinto muito se magoei sua ilustríssima presença, senhor Martino D'Gasperi - Ônix curvou-se, a raiva ainda presente no rosto - espero poder entrar em minha própria casa. - fez uma pausa - Se ainda é considerada minha casa.

Martino pareceu descongelar-se do torpor. Tremendo, assentiu, ainda segurando as crianças no colo.

- Claro que sim. Entrem, entrem. - sua voz estava trêmula - e, Ô-ônix...

O artista encarou-o firmemente.

- Por favor... n-não assuste as crianças... elas não o conhecem e...

- Como quiser, senhor. - Ônix interrompeu, passando direto pelo pai.

Naquele momento, notei que ele dirigia-se ao senhor D'Gasperi como se fosse um Frequentador. E era de propósito, pelo sarcásmo implícito nas palavras.

- Não, não foi o que eu quis dizer... eu... - Ônix já havia entrado na casa, fazendo o pai suspirar de aflição - oi, Rubi.

A garota ao meu lado, sempre tão sorridente, parecia decepcionada.

- Oi, senhor. - murmurou, também passando por ele.

E foi assim que acabei sozinha na porta, desejando sumir.

- Olá, quem quer que seja. - Martino pronunciou, enfim dirigindo-se a mim - quer entrar?

Não, pensei.

Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora