Capítulo Dois

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Em outras circunstâncias eu ficaria feliz já que em fim eu iria sair daquele hospital.
Mas não foi felicidade que eu senti.

Naquele momento eu sentia tudo, menos alegria, embora minha família estivesse ali, eu ainda me sentia vazia.
Não tirava da cabeça o dia em que eu finalmente havia me permitido conversar com meu marido.

Flash Back

- Mais visitas?- Questionei o doutor.

- Algumas pessoas ficariam felizes se recebessem tantas visitas quanto você recebe. - Argumentou.

- Algumas pessoas talvez conheçam quem as estão visitando.- Rebati.

- Pelo menos tente Regina. Essas pessoas vieram todos os dias desde seu acidente. Sei que tudo parece muito confuso, mas se você não se esforçar, sua memória não voltará tão cedo, e ele é seu marido, esteve aqui todos os dias desde o acidente.

- Você falou que as chances da minha memória voltar são pequenas. - Falei ignorando a parte em que ele falou do meu marido

- Eu acredito em milagres.- Ergueu as mãos em sinal de inocência.- Vou pedir que entre. - Falou e caminhou para fora do quarto

Fiquei brincando com meus dedos até ouvir a porta se abrir e o Caio, meu marido, passar pela porta.

Seus olhos estavam marejados, e as olheiras que se formara em baixo deles revelavam noites e noites em claro, não consigo imaginar o quanto havia sido difícil pra ele encarar toda essa situação.

- Oi!- Sussurrou para esconder sua voz embargada.

Ele se aproximou e se sentou em uma cadeira ali próximo e com um pequeno e simples gesto, pegou minha mão esquerda e passou seu polegar sobre o anel que havia em meu dedo. Mas aquilo era muito confuso pra mim, então, em um movimento involuntário eu tirei minha mão da mão dele.

- Desculpe.- Ele disse baixando a cabeça.

- Não tudo bem, quer dizer, nós, eu e você. A gente. - Me enrolei nas palavras. Mas também, aquela era uma péssima forma da minha ficha cair.- Então,  nós somos casados?- Perguntei por fim.

- Somos.- Ele falou me olhando nos olhos, parecia que eramos dois desconhecidos, e tecnicamente, para mim, nós éramos.

- Tudo bem- Falei mas para mim do que pra ele. - É muita coisa pra digerir.

Ele sorriu como se aquela situação tivesse passado de drástica para cômica em um piscar de olhos.

- Sei que deve estar confusa, não é todo dia que um "desconhecido" diz que está casado com você.

- Se somos casados, você não é tão desconhecido assim.- Falei, mas me arrependi logo em seguida, ja que pelo olhar que ele fez, aquela frase soou com duplo sentido- Quer dizer, eu não me casaria com alguém que não conhecesse.- Tentei amenizar a situação constrangedora em que eu havia me metido.

- De fato.- Ele sorriu.

- Você pode me deixar sozinha? É que eu preciso colocar minha cabeça em ordem.

Ele assentiu, beijou minha testa e saiu, eu o acompanhei com os olhos, até que ele fechasse a porta atrás de si. 

Flash Back. ..

- Você está bem?- Minha irmã Cristina Indagou quando eu já estava dentro do carro.

- Estou bem, só pensando.

- No Caio?- Eu não precisei responder, era claro que eu estava pensando nele.

- Ele disse que somos casados. Mas por que eu não sinto nada por ele? Eu deveria pelo menos, sei lá, gostar dele?

- Eu sou sua irmã, mas a primeira vez que você me viu, o que você sentiu?

- Não sei direito. Não é todo dia que uma doida entra em um quarto de hospital.- Falei, e pela primeira vez no dia, eu ri.

Cristina não conseguiu se fingir de ofendida e logo começou a rir comigo.

- Tô gostando de ver.- Disse minha mãe. - Qual o motivo de tantas risadas? Não que eu ache isso ruim.

- A Regina me chamou de louca mãe. - Cris tentou se fingir de inocente.

- Mas você é Cris. - Ana, minha outra irmã, falou e recebeu um leve empurrão da Cris.

Ambas eram casadas, nesse mês que passei no hospital, tive a oportunidade de conhecer meus cunhados e meus sobrinhos.

Eu suspirei e encostei minha cabeça na janela.

- Gente, eu tenho filhos?- Perguntei.- Tipo, se eu sou casada, talvez eu tenha.

- Não, Você e Caio estavam planejando ter um.- Ana respondeu.

Eu assenti e voltei a encarar a janela.

Caio! O rosto dele não saia da minha cabeça. Seus olhos marejados me encarando com tanta intensidade. O desejo contido em seus lábios de falar algo, e que eu provavelmente não sabia se queria ouvir ou não.

Lembrei do toque de sua mão na minha. A delicadeza com que passou seu polegar sobre o anel que simbolizava nossa aliança.

Mas agora ele era um desconhecido. As lembranças, que eu não tinha mais, me tiravam a certeza de que eu o amava.

Como eu poderia morar com alguém que eu não me lembrava mais?

O carro parou em frente a uma casa muito bonita.

- Vocês moram aqui?- Perguntei

- Não, você mora aqui.- Disse minha mãe.

- Mãe, e-eu não sei se consigo.- Cris me puxou para perto de si.

- Regina eu sei que parece confuso. Mas esse é o seu lar. Dê uma chance ao Caio, ele te ama. Acredite, ele não saiu daquele hospital direito. Ele esteve te esperando por três anos. Tente!- Pediu.

Eu assenti e abracei minha irmã. Me despedi da minha mãe e das minhas irmãs e sai do carro.

Caio me esperava em frente a casa. E sorriu assim que me viu.
Me aproximei receosa, não que ele fosse me fazer algum mal, pelo menos ele não parecia um psicopata.

Passei pela porta e ele veio logo atrás de mim.
Parecia que eu estava entrando naquela casa pela primeira vez. Era como se tudo aquilo fosse novo para mim, até mesmo o homem que me fazia companhia naquele momento.

CONTINUA

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