Delírio

16 5 4
                                    

Eu sempre tive pavor de lugares fechados. Só de pensar em elevadores, ou, até mesmo uma porta trancada, fico apavorada. Começo a delirar e me sinto sufocada.

No dia 29 de março deste ano, meu pior pesadelo se tornou real.
Faltavam apenas quinze minutos para o término do último horário. A professora de física me pediu que pegasse um livro para ela na biblioteca. Eu, prestativa como sempre, fui até lá. Quando cheguei, Bete, a bibliotecária, estava ao telefone. Acenou para que eu fosse buscar o livro, e saiu. Eu fui até a sessão de livros didáticos. Vasculhei um pouco, e achei os livros de física. Mas, não encontrei o que procurava. Procurei mais alguns minutos. E finalmente o achei. Peguei o livro e segui em direção a porta. Estava fechada. Que estranho. Pensei. Tentei abri-la. E para meu espanto estava trancada. Comecei a bater na porta e gritei por ajuda. Ninguém apareceu. Me desesperei e continuei a bater na porta, com mais urgência. E mais uma vez, ninguém veio me socorrer. Lembra o que mencionei sobre lugares fechados? Pois é. Eu estava apavorada. Porém, foi quando olhei para o relógio da biblioteca,  que fiquei totalmente paralisada. Já tinha passado quarenta e cinco minutos do horário do término da aula. E provavelmente a escola já estava fechada. Eu literalmente surtei. Cai em prantos e meu coração acelerou. Em meio ao silêncio que pairava, o som dos meus batimentos cardíacos, me deixavam totalmente desorientada. Me sentei no chão encostada na porta. E um tremor tomou conta de mim. A cada segundo que passava, me sentia mais desnorteda.
- Acalme-se! - Gritei comigo mesma. - Respira, respira, respira...
Eu já começava a sentir falta de ar. Respirei fundo repetidas vezes. Olhei para a última prateleira de livros. Não havia nada lá. Mas eu estava apavorada e não pensava direito. Minha mente me conduzia a ideias irreais. E fui tomada por um frenesi ao lembrar que meu celular tinha ficado na sala. Meu tremor se intensificou. Não sei se era alucinação, ou realmente havia algo atrás da cortina. Levantei-me devagar. E andei a passos lentos até a janela. Esbarrei em uma mesa e vários livros que ali estavam, cairam. Abaxei-me e peguei um deles. Se realmente tivesse algo ali, um livro não  ajudaria em nada. Mas, eu não estava pensando direito. Levantei lentamente a cortina. E constatei que nada havia ali. Eu estava completamente sozinha.

Algum tempo se passou, eu não sabia quanto, minha percepção de espaço-tempo estava comprometida. Então, olhei para o relógio. Eram dez e meia. Haviam se passado apenas quarenta e cinco minutos. Eu não aguentava mais. Nesse momento eu me dei conta de que ainda segurava o livro. O abri e fitei a capa por um instante.
- As viagens de Gulliver. - Li, em voz alta.
Resolvi ler. Não tinha outra coisa para fazer. Eu entrei de cabeça na história. A cada página, me envolvia mais. E cada cada capítulo, me sentia mais calma. Meu medo se dissipava aos poucos. Quatrocentas e quarenta páginas depois, terminei o livro. Estava cansada, mas, não tinha como dormir na biblioteca. Então, decidi esperar até que alguém chegasse para me resgatar. Li outros livros, enquanto isso. Sempre fui bem criativa, e comecei a imaginar histórias fantásticas com lobisomens e vampiros a cada leitura.
Eu pensava em muitas coisas para desviar o foco. Pois, ainda estava trancada. Eu fui percebendo pouco a pouco que meu medo era apenas um delírio de minha mente. E decidi que sempre levaria comigo um livro na bolsa.
Algumas horas se passaram. E a porta se abriu. Eu finalmente estava livre.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: May 26, 2017 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

📢 Contos De Sexta-feira 📜Onde histórias criam vida. Descubra agora